Capitulo 37 | Desejo

102 11 4
                                    

NOVA IORQUE ATUALMENTE 2025

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

NOVA IORQUE
ATUALMENTE 2025


Devoção Abismal

Ele não era apenas uma obsessão. Era um culto, um sacrifício diário, um ritual profano do qual eu me alimentava como um animal faminto se lança sobre carne crua. Eu o devorava em pensamento, em desejo, em necessidade. A cada instante, a cada batida irregular do meu coração, eu sentia o gosto dele no fundo da minha garganta, queimando como veneno, corroendo como um ácido viciante do qual eu jamais conseguiria me livrar.

Não era amor. Nunca foi amor. Amor é algo puro, algo que traz conforto, segurança. O que eu sentia era um fervor doentio, algo sujo e impronunciável, uma necessidade que ardia sob minha pele, roía minha mente e distorcia minha sanidade. Eu não poderia chamá-lo de meu no sentido romântico da palavra—ele não era meu por escolha, por promessas ou por vontade própria. Ele era meu pelo simples fato de que eu o havia tomado para mim, o possuído de todas as formas que alguém pode possuir outro, sem deixar espaço para que fugisse, sem permitir que qualquer outra criatura colocasse os olhos nele sem que eu desejasse arrancar esses mesmos olhos de suas órbitas.

Era repulsivo. Doentio. Eu sabia disso. Sabia que o que eu sentia era algo que deveria ser enterrado, esquecido, arrancado do meu peito como um tumor maligno. Mas eu não queria cura. Não queria redenção. Eu queria afundar ainda mais fundo nessa loucura, nessa fome insaciável que fazia meu peito arder e meus dedos tremerem ao pensar nele.

Ele não era apenas uma pessoa para mim. Era um santuário. Um altar de sacrifício onde eu me ajoelhava, onde eu me entregava sem vergonha, sem reservas. Se fosse preciso despedaçá-lo para tê-lo para sempre, eu o faria. Se fosse preciso destruir sua sanidade, sua liberdade, sua identidade, eu não hesitaria. Porque ele era meu. Porque eu o consumiria até que não restasse nada dele que não fosse moldado por mim.

E assim seria. Até que a morte nos tomasse. Ou até que o próprio inferno desistisse de tentar nos separar.

E como ele pertencia somente a mim, eu tinha que deixar isso bem claro—não apenas para ele, mas para todos. Porque, mesmo com dezenas de manchetes espalhadas pelo mundo, mesmo com os jornais estampando nossas fotos lado a lado, relatando com vozes alarmadas como éramos um erro ambulante, um crime esperando para acontecer, um desastre inevitável prestes a explodir—mesmo assim, ainda existiam aquelas garotas tolas, cegas e desesperadas, que ignoravam os avisos, que fingiam não entender a verdade, que insistiam em se aproximar, rir das palavras dele, tocar em seu braço como se tivessem o direito. Como se ele fosse algo que pudesse ser conquistado. Como se ele não tivesse dono.

Eu não era hipócrita. Sabia que o mesmo acontecia comigo. Garotos enchiam minha DM com mensagens, promessas vazias, palavras banais que eu sequer me dava ao trabalho de ler. Eles se iludiam achando que podiam me ter, achando que eu poderia desejar outro além dele, como se o resto do mundo não fosse pálido e sem sabor em comparação ao vício que era Lorcan Ironheart. Mas eu os ignorava. Sempre. Porque, no instante exato em que vi Lorcan naquele maldito laboratório anos atrás, no momento em que nossos olhares se cruzaram e o tempo pareceu prender a respiração, quando aqueles olhos que deveriam estar amedrontados, frágeis, desesperados para fugir, estavam, na verdade, tomados por um fascínio doentio, eu soube. Soube que ele seria meu. Que a alma dele me pertencia. Que nem a morte, nem Deus, nem qualquer força existente poderia separá-lo de mim.

Among The Shadows: (Os Profanos) Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora