Chapter 4

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 "Mas a certo ponto, querendo ou não, até a dor se esgota. Então, dentro sobra um vazio que é pior ainda." 

Eu te quero, página 13


 "Que verdade." Murmurei enquanto fechava o livro de capa preta colocando-o de volta na mesa de cabeceira, olhei pela janela de relance vendo o quão bonito o dia estava, resolvi portanto vestir algo confortável e ir até a praia.

As ondas embatiam nas rochas com tanta força que estas começavam a ficar degradadas, era mau de se ver mas se não fosse esse fenómeno não existiria areia. Desde pequena que sempre tentei perceber o porquê da vida, os meus pais achavam-me chata e na verdade eu era e acredito que ainda o sou, mas acho tão interessante perguntar "Porquê?" de modo a que todas as nossas dúvidas sejam esclarecidas e possamos sorrir satisfeitos. Nestes 18 anos de vida realizei que tudo o que fazemos acaba por ser em vão, mas se não o fizermos porquê viver? Tudo tem uma razão de ser e eu ainda ando à procuro da minha. 

"Ultimamente tenho sentido um vazio imenso dentro de mim, peças que faltam ou que não encaixam. Só sei que só sinto dor, uma dor imensa que parece só me atingir a mim. E custa, custa imenso ver todos felizes e eu ter de carregar a dor deles todos os dias. Mas por vezes temos de fazer sacrifícios para não vermos quem mais amamos sofrer. Que dor seria isso acontecer. "  Proferi  baixo na esperança que o mar me pudesse entender, suspirei e elevei o meu rosto observando a imensidão daquele oceano, se eu pudesse entraria nele e nunca saía. Como me sentia bem a desabafar com milhões de gotas de água. Era, sem dúvida, a melhor maneira para passar o meu domingo.

O vento estava fraco nessa manhã, com as minhas mãos puxei o meu cabelo e prendi-o num coque desajeitado. Nesse instante o meu telemóvel vibra, rolo os meus olhos e retiro-o do bolso observando a mensagem que reinava nas notificações outrora ignoradas.

 " -Bom dia Primrose. Dormiste bem?
    -Porque é que me ignoras?
    -Está bem, não te chateio mais." 

Mas que mania da perseguição, nem 1 minuto de diferença as mensagens tinham.

 "Deixa-me em paz, Dominicius."
 "Dom. E finalmente respondeste."

 "Sim, como queiras." Respondo mentalmente e guardo o telemóvel no bolso onde ele se encontrava minutos anteriores.

 "Prim, estás aqui. Procurei-te por todo o lado mas pensei que este era o sitio mais provável para estares." Virei-me para onde o som viera observando Aaron sentar-se ao meu lado.
 "Vim espairecer um bocado...os pais?"
 "Ainda não se levantaram..." Ele olhou-me enquanto se preparava para rir da situação e eu limitei-me a sorrir.
 "Tomara...a noite foi boa."
 Aaron olhava-me confuso e eu limitei-me a soltar um baixo risinho enquanto ajeitava as minhas sobrancelhas despenteadas.
 "Acho que as coisas começam a endireitar-se para o lado deles." Disse sorridente.
 "A mãe merece."
Concordei com ele e humedeci os meus lábios pois estava prestes a tocar no assunto que menos queria.
 "Aaron..."
 "Hum?" Ele olhou-me enquanto mordiscava o seu lábio inferior.
 "Como estás com o Thomas?" Perguntei reticente já esperando saber a sua resposta.
 "Bem." Ele encolheu ligeiramente os ombros enquanto contemplava a minha expressão de confusa.- "Porquê?"
 "Ahm nada...fico feliz." Forcei um sorriso e levantei-me.- "Tenho de ir, combinei encontrar-me com Blaire, para almoçarmos."
 "Ok, até logo. Vou convidar o Thomas para vir cá a casa."
 "Está bem...até logo."

Caminhei descalça pela areia indo até casa, ao entrar vi os meus pais almoçarem juntos enquanto se riam, observei de canto a minha mãe, parecia mais nova e estava tão feliz,  dizem que todos precisam de uma receita para serem felizes, a da minha mãe de certeza que é o meu pai. 

 "Filha, queres juntar-te a nós? A minha mãe perguntou enquanto servia salada para o prato do meu pai.
 "Não mãe, estou já de saída, mas obrigada." Disse enquanto subia as escadas. Entrei no meu quarto e alcancei o meu telemóvel telefonando para Blaire.

 "Hey." Ouviu-se a sua voz abafada do outro lado.
 "Blaire, como estás?" Questionei rapidamente preocupada.
 "Ignorada, abandonada, podes vir cá?" 
 "Claro. Era mesmo isso que te ia dizer, 5 minutos e estou aí." Disse e desliguei o telemóvel.


Vesti um vestido branco e coloquei um cinto castanho. Calcei umas sandálias castanhas e peguei na minha mala igualmente castanha colocando lá as chaves, telémovel e carteira.

Desci as escadas, pousei a minha mala no sofá e dirigi-me aos meus pais que entretanto já se encontravam no fim da refeição.

  "Pai, podes-me levar a casa da Blaire?" Observei-o suspirar e parei à sua frente esperando um não da sua parte.
 "Está bem, eu levo." Ele disse enquanto limpava a boca e se preparava para levantar.
 "Tenho mesmo de começar a tirar a carta." Disse enquanto me encaminhava para o sofá para pegar a minha mala.
 "Por falar nisso..." A voz da minha mãe fez-se ouvir e eu andei novamente até eles erguendo uma sobrancelha.
 "O quê?" 
 "Tu durante o ano foste a algumas aulas de código, não foi?" O meu pai questionou e eu assenti.- " Portanto nós vamos dar-te um cheque com dinheiro para terminares as aulas e ires a exame." Ele disse e a minha mãe estendeu-me um envelope branco, sorri radiante ao observar o envelope e dei pequenos saltos enquanto abraçava a minha mãe agradecendo-lhe, de seguida corri para o meu pai sussurrando um "Obrigada", estes sorriram e eu observei o envelope segurando-o com força para me certificar que era mesmo meu. 
 "A ver se passas. No entanto, eu vou dar-te umas lições de condução para ires melhor preparada." O meu pai avisou e eu assenti arrumando o envelope na minha mala. - " Vá vamos lá." - Ele disse e despediu-se da minha mãe.
 "Até logo!" Gritei enquanto abria a porta.

O meu pai deixou-me em casa de Blaire e eu toquei à campainha,  a porta é aberta por Claire, a irmã mais nova de Blaire, esta esboça um sorriso amigável e abraça a minha cintura com força e eu, devido à diferença de alturas limito-me a acariciar os seus longos cabelos cor de mel.

 "Tinha saudades tuas Rose." A sua voz doce murmura e os seus olhos brilhantes fitam os meus o que me leva a sorrir.
 "E eu tuas, princesa." Murmuro observando o largo sorriso da menina de 10 anos que entretanto me dera espaço para entrar na sua espaçosa casa. " A mana?" Olho em volta observando o quão desarrumada a sala se encontrava. Claire aponta para a porta do seu quarto, assinto e despeço-me dela com um "até já".  Ando em direção ao quarto de Blaire abrindo a porta devagar. Olho em frente vendo-a deitada na sua cama com os fones colocados nos ouvidos, esta ao dar pela minha presença retira-os e senta-se na cama.

  "Hey...parece que houve um furacão na tua casa." Brinquei e andei até ela, beijei o topo da sua cabeça sentando-me depois ao seu lado. " O quê que se passou?" Olho-a e ela suspira.
 "Nada." Ela diz enquanto desligava a música do seu telemóvel que perturbava a nossa conversa.- "Sabias que o Thomas gosta de outra pessoa?"
 "Assério?" Questionei tentando ignorar a já tão sabida realidade.
 "Não finjas que não sabes." Ela riu-se sem vontade.- "Não precisas de o fazer, pelo menos não comigo." 

 Permaneci calada sem saber o que responder ou simplesmente dizer. Blaire também nada dizia, o ambiente encontrava-se de tal modo constrangedor que eu rezava para que Claire viesse ao quarto dizer alguma coisa pouco interessante.

 "Thomas contou-me da sua sexualidade...e por acréscimo falou-me da sua relação com o teu irmão." Ela disse para quebrar o silêncio e eu engoli em seco baixando o meu olhar.- "Podias ter-me contado Prim...eu não ia contar a ninguém..."
 "Eu não podia okay? Não era um assunto meu, tentei ao máximo não me meter." Falo logo após ela se calar.
 "Invés disso preferiste ver-me sofrer. Fico feliz em saber." Ela levantou-se.
 "Blaire..."
 "Meninas aqueci uma pizza para o almoço, já está pronta!" Claire exclamou enquanto rodopiava pelo quarto.
 
Senti os olhos de Blaire postos em mim e levantei-me pegando nas minhas coisas.

 "Não tenho fome." Blaire antecipou-se.- "Comam vocês." Ela disse antes de sair do quarto, ouviu-se a porta de casa ser fechada com força, olhei para Claire que olhava para a porta confusa, andei até ela pondo as minhas mãos nos seus ombros.
 "Vamos lá comer." Sorri e ela começou a correr para a cozinha, entre suspiros segui-a.


Acabei por comer sozinha visto que Claire dissera que tinha de fazer video chamada com a sua melhor amiga que não se encontrava no país e eu nada dissera para a contrariar. Após terminar de comer arrumei tudo e saí de casa de Blaire. Caminhei pelo passeio que, após alguns quilometros  iria dar acesso a minha casa, coloquei uma música de fundo cantarolando-a enquanto andava. Esta fora interrompida pelo som de uma mensagem recebida, abri-a na esperança que fosse Blaire.

 "Vem ter comigo à praia...não ignores por favor."

Rolei os meus olhos à medida que lia as palavras de Dominicius. Porquê que ele continuava a tentar?

A resposta era óbvia, mas eu tentava ao máximo evitá-la.


PrimroseOnde histórias criam vida. Descubra agora