O jantar decorria normalmente, não havia discussões entre os meus pais, o que era bom, no entanto todos estavam cabisbaixos. Olhei para Aaron que evitava ao máximo de me encarar e quando o fazia cemicerrava os olhos, suspiro afastando as batatas para um canto enquanto comia a carne.
"Onde é que o pai esteve hoje?" Questionei olhando para o meu prato e de seguida olhei para ele que entretanto olhara para a minha mãe.
"No escritório." Ele diz e eu assinto. Olho para a minha mãe que outrora baixara a cabeça.
Acabei por não dizer mais nada o resto do jantar, queria falar sobre as aulas de condução mas ultimamente o meu pai andava muito ocupado, pelos vistos. Hoje era Domingo, o último dia do fim de semana portanto tinha de aproveitar para rever algumas matérias para o dia seguinte. Terminei de comer e fui ajudar o meu irmão a lavar a loiça. A minha mãe subira logo para o quarto, esta dizia estar cansada. O meu pai logo fora para a sala ver um jogo qualquer.Subi até ao meu quarto e sentei-me na cama com o computador aos meus pés, liguei-o. Estava nas redes sociais quando oiço alguém tossir fortemente, ao reparar que este som vinha do quarto ao lado corri para lá. A minha mãe estava sentada com o pano a frente da sua boca enquanto tossia para o mesmo. Fechei os olhos por meros minutos. Nunca revelara a ninguém a doença da minha mãe, sempre que perguntavam dizia que era uma alergia ou constipação. Mas a verdade é que é muito mais grave do que isso, a minha mãe lida com cancro no fígado há 1 ano. Nos primeiros meses fez quimioterapia mas depois desistiu pois o seu estado não lhe permitia para tal e os médicos informaram que não iria resultar. Ela nunca nos disse quanto tempo lhe resta, apenas o meu pai é que sabe, assim como ela. Devido à sua doença o meu pai afastou-se, fez logo isso na altura em que ela mais precisou dele. Por isso, eu nunca serei capaz de desculpar o meu pai se algo acontecer à minha mãe.
Após nós os três a acalmarmos ela acabara por adormecer com o calmante que tomara. Avisei o meu pai para ficar de olho nela durante a noite e este prometera-me que o iria fazer. Assenti e fui novamente para o meu quarto. Fechei o computador e arrumei a mala para o dia seguinte, planeei a roupa e deitei-me na cama a ler um livro que me fora dado pelo Aaron, nos meus anos. O seu nome era Looking For Alaska e confesso estar bastante interessada nele. Já estava no final do capítulo quando o meu telemóvel vibra, tento alcançá-lo sem nunca desviar o olhar das letras que se encontravam naquele pedaço de papel. Assim que o alcanço trago-o na minha mão ao encontro dos meus olhos, desbloqueio-o e abro a mensagem que anunciava no ecrã.
" Provavelmente estás chateada comigo. Mas tive mesmo de sair cedo, os meus pais precisavam de mim. Fizemos um almoço de familia. Gostava que tivesses estado cá. Para a próxima aviso com antecedência. Posso te ir buscar a seguir às aulas?
- Dom "
Era o que era possivel ler-se na mensagem. Um sorriso miúdinho apareceu no meu rosto ao ler " Gostava que tivesses estado cá." mas logo lembrei-me que a possibilidade da Rachel ter estado lá era gigante. O telemovel vibra novamente, desta vez com uma chamada. Atendo ao ver que era novamente Dominicius.
"Ia agora responder-te..." Começo por falar.
"Precisava de ouvir a tua voz." Ele diz baixo e eu sorrio. " Então, posso?"
"A Rachel foi ao jantar?" Pergunto sem hesitar e um silêncio é formado.
"Sim..." Ele acaba por susurrar.
"Boa." Digo de forma curta.
"Valá Prim...já te disse que ela significa nada para mim..."
"Está bem...vejo-te amanhã." Acabo por dizer.
"Gosto muito de ti." Ele diz antes de eu poder desligar e eu engulo em seco.
"Eu também..."
"Também gostas muito de ti?" Ele pergunta sarcasticamente e eu solto uma gargalhada.
"Não estúpido..." Digo ainda a rir. "Também gosto muito de ti."
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Primrose
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