"Sim, ela não está a respirar, ajudem a minha mulher por favor!" Acordei sobressaltada com a voz do meu pai a fazer-se ecoar pela casa toda, olhei para a porta entreaberta vendo o meu irmão correr para o quarto dos meus pais.
"Mãe?" Ouvi ele exclamar com a voz embargada. Arregalei os olhos e saí da cama correndo ao encontro do som vendo a minha mãe ser colocada apressadamente numa maca por dois homens vestidos de branco. Os meus olhos ficaram rapidamente embaciados à medida que pequenas gotas escorriam pela minha cara. O meu irmão abraçou-se a mim e eu acariciei o seu cabelo despenteado enquanto observava a minha mãe ser levada por aqueles homens, o meu pai andava descontroladamente atrás deles.
"Temos de ir também!" Aaaron exclamou assim que eles desceram as escadas.
"Só pode ir uma pessoa na ambulância..." Sussurrei ainda abraçada a ele.
"Vamos no carro do pai Prim, por favor." Ele pediu e eu acabei por assentir. Fui vestir rapidamente umas leggins e uma t-shirt com um casaco desportivo por causa do frio da madrugada, calcei uns chinelos e peguei nas chaves do carro do meu pai. Saí de casa juntamente com Aaron e entrámos no carro.
Apesar de ainda estar a tirar a carta, já tivera algumas algumas de condução pelo que sabia algumas coisas básicas sobre condução, rodei as chaves e pus o carro a trabalhar, mudei as mudanças e inspirei fundo conduzindo atrás da ambulância que entretanto desaparecera na escuridão da noite.
Quando chegámos ao hospital o meu pai começou a reclamar e eu apenas pedia-lhe justificações do que acontecera, este disse-me que fora a cozinha e quando voltara reparara que a minha mãe não estava a respirar. Acabei por assentir enquanto soluçava repetidamente. Sentámo-nos na sala de espera e todo o meu corpo tremia. O meu pai saira para ir buscar algo para beber e quando voltara eu encarei-o. Levantei-me indo ter com ele para que Aaron não ouvi-se.
"Diga-me uma coisa, algo que vocês nunca me chegaram a dizer, quanto tempo de vida deram à mãe da última vez que ela foi ao hospital?" Falei rapidamente encarando-o, este olhava-me bastante atrapalhado.
" 3 meses. " Ele diz e baixa a cabeça.
"O quê? A ultima consulta dela foi há 2 meses pai..." Disse enquanto soluçava. " Não...." Comecei a correr até ao sitio para onde levaram a minha mãe mas os médicos logo me seguraram. " Mãe...não! " Gritei enquanto chorava, a minha mãe estava a morrer e eu nada podia fazer para a ajudar.
***
Aaron e o meu pai já dormiam todos torcidos naquelas cadeiras e eu apenas aguardava para que algum médico chega-se entretanto, acabei por ir buscar um café e na viagem de volta vou de encontro ao médico que andava apressadamente até ao meu pai.
"O quê que se passa?" Pergunto rapidamente. "Como é que ela está?"
" A senhora Thompson encontra-se em estado terminal, mas está acordada. Serão dadas algumas horas para visitas e depois concluiremos alguns exames. Mas ela terá de ficar internada até..."
"À sua morte." O meu pai concluí com a voz desgastada.
"Portanto ela ficará o seu último mês de vida aqui internada, lamento imenso."
As minhas mãos são levadas à frente da minha cara para limpar as imensas lágrimas que teimavam em escorrer, o meu irmão demonstrava-se bastante confuso com isto tudo e apenas abraçava a minha cintura, deitei a cabeça no ombro dele enquanto chorava.
O meu pai foi o primeiro a entrar e a seguir foi Aaron,
Assim que Aaron saiu levantei-me da cadeira apressadamente, este vinha a chorar completamente exausto, sentou-se no sofá junto ao nosso pai e eu levantei-me.
Abandonei aquele local e caminhei lentamente até ao quarto 123 onde ela se encontrava, observava cada quarto com atenção podendo ver o estado dos pacientes pela janela. Alcancei o número 123 com o olhar, estava pintado a preto na grande parede branca. Rodei a maçaneta e inspirei fundo abrindo a porta, do outro lado era possível observar-se a minha mãe ligada a soro, esta sorria para mim, forcei um sorriso que logo se desfez deixando as lágrimas tomarem conta do meu rosto, aproximei-me do seu corpo frágil e peguei na sua pequena mão que estava fora dos cobertores, esta estava gelada mas o seu contacto com a minha aquecia-me o coração.
"Mãe..." Sussurrei ao ver duas azeitonas brilhantes encararem o meu olhar.
"Minha Primrose..." O seu rosto estava pálido e a sua voz desgastada, o que custava imenso a presenciar.
"Estou aqui mãe..."
"Vou morrer...não vou?" Ela questionou sem nunca deixar que aquele sorriso abandonasse o seu jovem rosto.
Afirmei com a cabeça mordendo fortemente o lábio para que as lágrimas não escorregassem mas elas eram mais fortes do que eu, apertei levemente a mão da minha mãe.
"Quanto tempo tenho?" Ela ajeita-se na cama e eu observo os seus olhos encherem-se de lágrimas.
"No máximo 1 mês" Disse entre soluços.
"Meu amor...não chores." Ela disse baixo e fracamente.
"Mãe..." Comecei após limpar as lágrimas. "Obrigada por sempre me ajudar, por nunca me deixar ir abaixo e por me motivar. Obrigada por tudo o que me ensinou e pelo quão forte me tornou. Serei-lhe eternamente grata. Obrigada por me ter dado a luz mãe." Após o discurso comecei a chorar compulsivamente, era mais forte do que eu. Ela também já chorava, fracamente.
Um silêncio acaba por se formar, a minha mãe fica a encarar o tecto como se fosse dizer algo importante e eu permaneço a olhar para ela.
"Há algo que tens de saber..." Ela resolve quebrar o silêncio e eu observo os seus lábios moverem à espera do que ela fosse dizer. "Prim, tu vais odiar-nos mas tu és...." Ela diz e fecha os seus olhos.
"O quê?" Eu pergunto e abano-a lentamente. "Mãe, o quê?" Grito e a enfermeira aparece informando-me que teria de sair.
"Adotada..." A minha mãe sussurra e eu apenas permaneço a observá-la, quase imóvel. Nada saia da minha boca.Levanto-me mas logo caio sobre os meus joelhos, sentia-me fraca. Caminhei lentamente até à porta do hospital, ainda ouvi o meu pai, se é assim que posso dizer, chamar-me mas ignorei. Entrei no seu carro e conduzi sem rumo.
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Primrose
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