Acordei no dia seguinte com a música irritante do despertador, tentei desligá-lo, mas esta fora uma tentativa falhada que resultou na sua queda no chão. Bufei e entre suspiros levantei-me da tão aconchegante cama pegando no meu telemóvel e desligando o alarme. Observei também as notificações, abrindo primeiro, a mensagem de Dominic.
"Não consigo dormir a pensar em ti."
"Estás acordada?"
"Unf, vou dormir, adoro-te."
"Muito."
Era inevitável não sorrir, e eu fazia-o da forma mais estúpida e apaixonada. Resolvi não responder, visto que não queria acordar Dom tão cedo. Hoje iria faltar à escola para poder passar o dia todo com a minha mãe, e era o que eu mais precisava após a exaustão que fora o dia anterior. Decidi, portanto, começar o meu dia com um banho quente e relaxante, agarrei no meu robe e caminhei em passos lentos até à casa de banho, onde me despi. Liguei a torneira, deixando a água morna correr pela banheira branca, a qual fora ocupada pelo meu corpo minutos depois. Os meus músculos estavam tensos e o meu corpo relaxado, fechei os olhos por alguns instantes deixando-me ficar descansada. Abri-os de seguida de modo a dar continuidade ao meu banho, assim que terminei, saí de dentro da banheira que por momentos fora o meu Paraíso e vesti o meu robe, prendi o cabelo num coque alto e calcei os chinelos, indo até ao meu quarto. Lá, vesti uma roupa simples e confortável, prendi novamente o meu cabelo, já seco, num rabo de cavalo apertado e calcei uns tenis de desporto. Desci até à cozinha onde Aaron e o meu pai encontravam-se em profundo silêncio.
"Bom dia." Murmurei sem obter resposta de nenhuma das partes, tentei não ligar muito à situação e prossegui o meu caminho até ao frigorífico de onde retirei um iogurte que fora bebido apressadamente. "Até logo." Agarrei no telemóvel e chaves e saí de casa sem dar tempo para eles responderem, em poucos minutos toda a verdade seria descoberta, tudo o que eu mais evitava ia-se tornar real, meras palavras iriam destruir milhões de sentimentos e criar alguns novos, como raiva e tristeza. E isso assustava-me, o mundo como conhecia estava prestes a desmoronar-se e eu apenas podia ficar na bancada a assistir, sem poder opinar ou discordar. Tudo o que sabia e conhecia, era uma mentira, assim como a minha vida. Não passava tudo de um engano. Engano. Que triste palavra para a tão grandiosa vida. Desvalorizar algo tão precioso deveria ser crime. Mas no entanto, eu conhecia o perigo, e estava pronta a conhecê-lo.
Entrei dentro do carro da minha mãe que eu apelidava de meu temporariamente e conduzi vagarosamente até ao hospital. Ainda não tirara a carta, pois ainda não fizera o exame de condução. E era algo que me preocupava bastante mas preferia manter de lado até tudo ficar estável.
Caminhei para dentro do hospital enquanto observava o ambiento do mesmo, lancei vários "bom dia" a cada pessoa do corredor, e de seguida procurei o quarto número 453 que era onde a minha mãe estava instalada, ao chegar perto da porta esta logo lançou o seu olhar sobre mim e sorriu o que despertou igualmente o meu sorriso.
"Primrose minha querida, como estás?" A sua voz gaguejava do quão fraca se encontrava, a sua mão agarrava o meu pulso de modo a encontrar um ponto seguro, o seu olhar angelical encarava-me fazendo-me sorrir.
"Eu não sei mãe..." Esmoreci, sem qualquer ânimo, palavra que há muito não ouvia e não sentia. " Os últimos dias têm sido tão atordoantes, existe um nó gigante na minha cabeça que, por mais que tente, não consigo desfazer, imensas são as perguntas que me invadem mas não há meio de atribuir-lhes uma resposta. Sinto que sei demasiado, encubro toda gente e acabo por não me conseguir esconder de mim própria. Ando tão baralhada, o que se passa comigo mãe?" Desabafei entre suspiros perante o olhar triste da minha mãe.
"Oh minha dócil Primrose, custa-me tanto ver-te neste estado e saber que nada posso fazer para te ajudar, estás a começar a enfrentar o mundo, e isso assusta-me filha. Tenho medo do que possas ver, do quanto possas sofrer, e o pior de tudo, é que eu não vou poder estar ao teu lado, para te proteger e apoiar. Mas eu amo-te muito meu amor, diz-me, por favor, o que se passa? Como te posso ajudar?" A minha mãe estremeceu e todo o seu corpo tremia, apertei fracamente a sua mão de modo a confortá-la.
"Não a quero triste mãe, fez os possíveis e impossíveis para que nunca nos faltasse nada, para nos ver felizes, mesmo que isso implicasse a sua infelicidade, e eu agradeço-lhe por tudo, tudo mesmo. Só a mãe sabe o quanto sofreu e o quanto custou, tudo para eu poder sorrir. Não há pessoa que eu amo mais nesta vida, senão você." Sussurrei soltando as lágrimas que entretanto se acumularam nos meus olhos. "Só preciso que me fale sobre aquilo que me disse de eu ser adotada. Eu preciso de entender." O seu olhar rapidamente desviou-se do meu ficando vidrado na parede branca do quarto, o silêncio tomou conta daquela divisão e eu engoli em seco por ter de retocar no assunto. "Mãe, por favor."
"Não me odeies Prim." Ela pediu e eu expeli um "jamais" ao qual ela assentiu, o que me fez sentir mais confortável e ansiosa. "Há um senhor chamado Giuseppe Collins, procura-o. Ele terá todas as respostas às tuas dúvidas. Cuidado com as verdades que estás prestes a enfrentar Prim, são dolorosas e vais precisar de muita força."
"Mas...porquê que não me conta a mãe? Porquê tanto mistério?" Insisti.
"Primrose, contar-te isto seria como espetar facas no meu próprio coração, ver-te sofrer, mas não te posso privar de saberes a verdade, não me odeies, é tudo o que te peço. Ser-me-ia torturante ter de te contar o que há tantos anos escondo. Eu amo-te minha filha, a ti e ao teu irmão, nunca se esqueçam." Memorizei as suas palavras e o único sentimento que crescia dentro de mim era somente curiosidade mas acabei por aceitar a escolha da minha mãe, como sempre fazia.
"Pronto, assim será. Mas quem é esse homem?"
"Alguém que te conhece melhor do que julgas, procura-o Prim, ele tem todas as respostas." Ela sorriu e eu assenti levantando-me da cama. "Como estão o Aaron e o pai?" Respirei fundo, tentando-me mentalizar de que não poderia, de forma alguma, contar-lhe a verdade.
"Bem." Omiti escondendo o meu nervosismo com um sorriso tímido. "Com saudades da mãe." Sussurrei tentando manter a "mentira" ainda mais credível. Que dor que era não poder ser verdade.
"Oh os meus meninos.." Ela sorriu fechando os seus pequenos olhos. "Nunca mais me vieram ver." Encarou-me de forma triste, fazendo-me engolir em seco pela terceira vez nessa manhã.
"Eles estão ocupados com a escola e trabalho, é normal." Sorri tentando parecer convincente."Pronto está bem, manda-lhes beijinhos meus." Ela pediu e eu assenti. " E outro para ti meu anjo, vem cá." Puxou o meu braço e eu dirigi-me a ela, baixando-me de forma ao meu rosto ficar ao nível dos seus lábios, após senti-los em contacto com a minha bochecha fervente, não pude evitar de abraçá-la fortemente, atitude a qual ela estranhou, mas eu nem me importei.
A visita a minha mãe fizera-me bem, sentir que ela mesmo longe está comigo, a apoiar-me, a proteger-me, saber que me ama e que não estou sozinha, não há nada mais compensador do que isso, do que o amor maternal.
Nesse dia não iria a escola visto que não fazia sentido ir a uma ou duas aulas, portanto resolvi passar por casa de Dominicius, de modo a podermos estar um pouco juntos, bati à porta da sua gigante moradia e foi a sua empregada, Melinda, quem a abriu.
"Boa tarde Mel, o Dominic está?" Senti o seu espanto após a abreviatura do seu nome, o que me fez soltar uma baixa gargalhada.
"Não menina. Saiu há cerca de uma hora com a menina Rachel para a escola." Ela esclareceu e eu revirei os olhos.
"Está bem, obrigada. Talvez eu volte noutro dia." Disse e ela assentiu preparando-se para fechar a porta.
"Melinda, deixe a rapariga entrar!" Uma voz mais grossa fez-se ecoar, eu reconhecia-a perfeitamente, era o avô de Dominic. Sorri após o ouvir e entrei em sua casa murmurando um "com licença."
"Boa tarde, senhor..."
"Collins." Ele completou e nesse momento eu olhei-o relembrando-me do que falara com a minha mãe, penso que ela mencionara o nome "Collins" anteriormente, as peças começavam-se a juntar e não me estava a agradar nada. "O meu apelido é Collins." Ele completou inocentemente e eu disfarcei a surpresa sorrindo enquanto apertava a sua mão. "Vem Primrose, estava a ver umas fotografias antigas." Segui o homem baixo de cabelos brancos até à divisão da sala, o senhor Collins sentou-se no grande cadeirão e eu sentei-me no sofá ao seu lado observando o álbum que ele segurava. "Este era o Dominicius com 5 anos.." Ele estendeu uma fotografia antiga e eu observei, soltando algumas gargalhadas perante as caretas de Dom.
"E esta aqui?" Questionei pegando num pedaço de papel meio rasgado, a preto e branco.
"Sou eu e o meu falecido pai." Ele disse sorrindo.
Virei a fotografia lendo o que dizia na parte de trás da mesma, os meus olhos percorreram cada letra "Giuseppe e Charles Collins", por momentos estremeci.
"O seu pai chamava-se Giuseppe?"
"Não. Eu chamo-me Giuseppe." Ele sorriu e eu olhei-o, ficando em silêncio, "paralisada." "O que se passa, minha filha?" O Senhor Collins perguntou preocupado enquanto abanava cuidadosamente o meu braço de forma a acordar-me do transe em que me encontrava.
"É você." Sussurrei.
"Sou eu?" Ele questionou confuso.
"É você que sabe tudo sobre mim, de onde venho, sobre os meus pais, é você o senhor Collins que a minha mãe tanto fala, eu preciso de saber a verdade, preciso de saber tudo o que sabe, preciso que me conte, é você." Giuseppe olhava-me pasmado e notava-se que estava nervoso, seria por eu ter descoberto a verdade? Eu precisava de saber tudo o que ele tinha para me contar, mas porquê ele? Porquê que o avô do meu "namorado" sabia tanto sobre mim? Tantas perguntas para tão poucas respostas, a verdade aproximava-se e recuava a cada instante e o nó formado na minha cabeça, não tinha meio de se desatar.
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Primrose
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