"Não entendo o porquê de Theresa não te ter contado a verdade, Primrose." Giuseppe proferiu após o silêncio que se fizera. "Juro que não."
"Mas qual verdade? O quê que vocês tanto escondem?" Cada vez que o homem de cabelo branco dizia algo, as conclusões às quais tinha chegado desfaziam-se e o nó apertava cada vez mais.
"Eu pensava que sabias." Ele volta a dizer e eu levanto-me do sofá.
"Mas saber o quê?" Grito e Giuseppe logo arregala os olhos, inspiro fundo e volto a sentar-me. "Desculpe, mas eu não aguento mais saber que todos sabem a verdade sobre mim, e eu não. Preciso de saber o que se passa."
"Ainda não tiveste a oportunidade de conhecer o meu filho, Alexander."
"Não." Olhei-o e ele começou a arrumar as fotografias no baú grande castanho que se encontrava no seu colo.
"É o pai de Dominicius. " Giuseppe não me encarava, permanecia a arrumar as fotografias antigas e a observar cada detalhe das mesmas, eu não percebia a sua intenção ao falar-me do pai de Dom, qual era o objetivo? "E também o teu."Atentei cada palavra que ele dizia, "e também o teu" , congelei. Senti o meu coração parar por meros segundos e a minha mente desviar-se para uma imensidão de pensamentos. Turbilhões de sentimentos invadiam o meu corpo mas eu não lhes permitia ficar, olhei para Giuseppe que agora me encarava. "Primrose, estás bem?" Ele abanou-me fazendo-me acordar do transe. A frase " e também é o teu" voltou a invandir a minha mente fazendo-me refletir, abri ligeiramente os lábios mas nada saía, tinha imensos pensamentos a decorrer para ser capaz de proferir alguma coisa.
"Não é verdade." Evitei acreditar no que ele dissera, o avô de Dom desvia o baú e pousa as mãos nas suas pernas.
"Só te explico se estiveres disposta a ouvir a verdade, e a aceitá-la." Proferiu e eu assenti. " Alexander conheceu Helena muito novo, pouco tempo depois de namorarem, Dominicius nasceu, fruto da sua relação. Eles eram novos, não sabiam os erros que estavam a cometer nem o que a vida lhes reservava. Eles não aguentaram a pressão, e separaram-se. Mas Alexander logo superou. " Ouvia cada palavra de Giuseppe com atenção tentanto encaixar o meu nome na sua explicação mas nada parecia fazer sentido. " Meses depois Alexander e Theresa conheceram-se, o seu relacionamento era muito bonito mas no entanto Alexander não podia deixar Dominicius, ainda por cima Theresa namorava. Portanto foi isso, meses depois descobriu-se que Theresa estava grávida." Ele parou e eu encarei-o franzindo o sobreolho.
"Isso não faz sentido nenhum, peço desculpa."
"Se não faz, porque razão a tua mãe te pediria para cá vires?" Ele olha-me e eu suspiro.
" Tudo isto está-me a por tão confusa." Desabafo e baixo a cabeça, levando as mãos à mesma.
"É normal querida, mas aguarda até Alexander voltar, logo tudo ficará esclarecido. Sei que és forte para aguentar isto."
"Não." Olhei-o e afastei o meu cabelo da cara. "Não é normal. Não é normal eu supostamente ser irmã do rapaz que gosto e a sua suposta futura namorada persegui-lo constantemente, não é normal contarem-me algo tão forte após 18 anos e eu simplesmente não conseguir acreditar, nada disto é normal, não é normal a minha mãe estar no hospital, não é normal uma das minhas minhas melhores amigas enfiar-se na cama com o meu pai e a outra gostar do meu irmão gay. Desculpe, Giuseppe, mas nada disto é normal para mim."Giuseppe encarava-me, incrédulo, sem conseguir dizer nada, eu no fundo compreendia-o, contei-lhe basicamente a minha vida, a minha estranha vida, em meros minutos, enquanto eu levava anos para a compreender. Mas lá está, não é normal uma rapariga de 18 anos ter de suportar tanta coisa sozinha, precisava de um suporte, e nem mesmo Dominicius conseguia sê-lo, visto que ele era um dos maiores problemas.
" Primrose, vamos aguardar Alexander regressar." Giuseppe pediu.
"Está bem."
"Sabes Prim, eu admiro-te." Ele confessa e eu levanto o olhar para ele de modo a confirmar. " Estás a encarar todas estas peripécias de forma calma, de forma adulta." Ele completou e eu esbocei um sorriso meio rasgado, sorrir era a última coisa que eu queria, a verdade é que a sua história não fazia sentido e eu não conseguia encaixar as peças.
"É tudo tão estranho para ser real. É surreal, na verdade."
"Eu entendo." Ele murmura. "Mas se realmente for verdade, isso significa que és minha neta, Primrose, e eu iria gostar muito de passar tempo de qualidade contigo."
"Se isso realmente for verdade, eu vou precisar de tempo e de explicações. "
"Eu percebo."
O avô de Dom sorria agora enquanto olhava para mim, o que minutos atrás eu tomava como simpatica agora sentia-o como desconforto, se fosse um jovem provavelmente perguntaria se queria alguma coisa, mas não iria faltar ao respeito ao meu suposto avô. Os seus dedos tremiam, assim como as suas pernas, eu conseguia perceber que eram movimentos involuntários, mas estaria ele nervoso por falar sobre isto comigo? Ele entreabriu os lábios preparando-se para dizer alguma coisa mas nesse instante a porta abriu-se, roubando o momento de Giuseppe, este humedeceu os lábios e tal como eu, dirigiu o seu olhar para a porta que logo mostrara Dominicius, mas ele não estava só, vinha com Rachel. O meu corpo logo manifestou-se e senti as veias aquecerem rapidamente, o meu punho cerrou-se automaticamente e percebi que Giuseppe me encarava. Eles não deram pela nossa presença e continuaram divertidos, às gargalhadas enquanto entravam dentro de casa, a sala era aberta e a porta de entrada dava acesso direto ao sitio onde nos encontrávamos. Dominicius finalmente deu pela nossa presença e a sua expressão logo mudou assim como a de Rachel que olhou-me com repulsa, o que me fez soltar uma gargalhada, levantei-me e peguei na minha mala dirigindo-me até ao avô de Dom e baixei-me de modo a poder despedir-me. Este fez questão de se levantar, ao que eu agradeci mentalmente.
"Já vais..?" Dominic perguntou e Rachel logo andou para o pé dele.
"Ahm...sim já estava de saída." Comento e deposito dois beijos nas bochechas de Giuseppe que lança-me um sorriso amigável e sussurra algo que eu penso ser "Não lhe contes." ao que eu assenti.Não dei importância ao facto de Rachel estar completamente encostada a Dominic, pois era isso que ela queria, que eu me exaltasse, mas eu não lhe iria dar esse gosto. Passei por eles murmurando um "até amanhã" e encaminhei-me para a porta de saída. Dominic logo veio atrás de mim e pousou a sua mão no meu ombro, o qual eu rapidamente desviei.
"O que se passa?" O rapaz encostou-se à porta de modo a não permitir que eu saísse.
"Nada, volta para o pé de Rachel. " Pedi-lhe e tentei desviar o seu pesado corpo mas de nada resultara, Dom prendia as minhas mãos com as suas e fazia questão de encarar os meus olhos, sabendo ele que esse era o ponto fraco.
"Não, quero estar contigo." Declinou e eu desviei o olhar, não fosse eu cair aos seus encantos, novamente. Aliás, se antes não o podia fazer, agora muito menos, por razões óbvias.
"Estamos juntos no sábado." Aclarei e ele abanou a cabeça, o que me fez confusão.
"Domingo." Corrigiu e soltou as minhas mãos ajeitando a sua roupa. "O meu pai chega Sábado à noite, e Domingo haverá um jantar em sua honra, gostava que viesses."
O meu corpo estremeceu. Ir ao jantar iria implicar confrontar o pai de Dominicius, que por sua vez era meu pai, supostamente. A verdade é que eu necessitava de saber o que tanto me escondem, mas eu tinha receio, ou melhor medo de o fazer. Talvez por não querer de todo fazê-lo. Não queria acordar numa outra realidade em que as pessoas por quem tomo meus pais não o fossem mais.
"Vens?" Dominicius insistiu e eu olhei em diversas direções enquanto pensava na sua pergunta. "Vou?" Perguntava a mim mesma. "Vou" afirmava de seguida. "É melhor não" Ripostava. Estava super baralhada e a confusão instalada era imensa e eu só procurava um caminho pelo qual eu pudesse sair.
"Claro." Respondi com um sorriso ao qual Dominic retribuiu com um beijo inesperado. Agarrei o seu rosto de modo a continuar mas logo fôramos interrompidos pela voz estridente de Rachel.
"Dominic, vamos?" Ela perguntou e eu arqueei a sobrancelha. "Estudar, claro." Esclareceu e eu olhei para Dom.
"Ela vai ao jantar?" Perguntei reticente mas ele logo negara, o que me deixou um quão descansada. "Vejo-te domingo, então."
"Avisa-me quando chegares a casa." Ele pediu, ou melhor, ordenou e eu obedeci. Fi-lo por saber que se preocupava, caso contrário não o faria. "Adoro-te." Ele sussurrou e o meu coração aumentou a sua velocidade, queria sorrir, mas não queria demonstrar felicidade, não sei o porquê, mas não queria que Dominicius soubesse o que ele realmente significa para mim, pelo menos não agora. Mas estar na fase do "adoro-te" que é tão perto do tão surreal "amo-te" deixa-me feliz e nervosa, muito nervosa. Nunca estive em tal fase e estar agora e de uma forma tão proibida era como um desafio, e eu adorava desafios, ainda mais desafios amorosos.
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Primrose
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