Capitulo 01

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O céu noturno de Nova Iorque, serve como plano de fundo para a fumaça esbranquiçada que sai por meus lábios, me sinto bem, meu corpo está relaxado, e o fedor do colchão velho nem me incomoda mais. O sons do tráfego ao fundo compõe uma sinfonia, que me embala em uma dança silenciosa. Sigo os pontos brilhantes, com o cigarro, são estrelas? Helicópteros ou apenas as torres de iluminação? Não consigo decidir e levo a seda fina de volta aos lábios. Martin, está sentado ao meu lado enrolando uma nova remessa, suas mãos são ágeis, me sento e encosto contra a parede fria do terraço.

- Issa, eu quero muito você! - Ele disse, seus olhos azuis um pouco avermelhados me encaram com tanto desejo, que sou tomada pelos sentimentos que ele dispara sobre mim, a névoa que minha mente está nunca pareceu tão densa. - Cuida de mim? - ele insiste deixando seu trabalho de lado e se virando para mim, ele toca meu rosto com a mão fria, sinto seu cheiro de perto, era o certo, eu me sentia bem, traguei mais uma vez, e coloquei o restante na mureta em que estávamos encostados, balancei a cabeça de leve concordando

- Cuuuuido! Siiiiim! - Respondi, arrastado, então ele me beija, era bom, sempre era, ele se inclina contra mim, e sou traída por meu corpo leve, sinto o peso de seu corpo sobre o meu, sinto uma de suas mãos levantar meu vestido, ele passeava pelo meu corpo, e aqui já não estava mais me deixando tão feliz quanto o beijo, abri meus olhos e me deparei com os olhos julgadores de Bryant, a fumaça que sai dos lábios dela, pareciam me aprisionar, eu não queria mais ficar ali. Sinto as lagrimas quentes rolarem por meu rosto, e em nenhum momento Martin parou com o que estava fazendo, ele me abraçava, eu queria gritar, mas nenhuma palavra passada por meus lábios, além dos múrmuros do choro, então eu me entreguei a um choro compulsivo. Eu me sentia um nojo, meus pensamentos não conseguiam se ordenar, eu deveria estar morta.

Martin, saiu de cima de mim, como se alguém o tive levantado, os gritos ecoaram sobre mim como se estivessem a quilômetros de distância e não ao meu lado, sinto mãos envolvendo meus braços alguém tenta me levantar, mas estou mole demais e acabo sendo acertada na cabeça por alguma coisa, a dor percorre meu corpo, mas é tarde demais, meus olhos se fecham e deixo a escuridão se tornar minha melhor amiga.

.....

- Issa, fala comigo filha! - A voz com um tom engraçado, me chama, abro os olhos de vagar, meu tio Franco segurava meu rosto, ele era engraçado o rosto redondo, o bigode de leão marinho e o sotaque italiano carregado - O que você tem? O que quer? Fala comigo Marissa! – Pede em uma suplica

- Estou com fome, quero um hamburgão! E batatas fritas grandes! - Pedi, e ele bufa largando meu rosto e se afasta, afundando no banco, estamos dentro de um carro.

- Merda, de novo! – Falou se esticando para o banco da frente e dizendo algo em italiano para o motorista, volto meu olhar para a janela, as luzes dos postes, piscando e passando como flashes, como se estivéssemos dentro de um carrossel. Eu não me sentia bem, mas não era o suficiente para acalmar a avalanche de sentimentos que voltaram a povoar minha mente. Estar sóbria significava pensar em coisas que eu gostaria de esquecer, lembranças e sentimentos que eu mantinha afastado a anos.

- Prontinho, coma! - Tio Franco, colocou uma bandeja em minha frente, comecei a comer eu estava com um buraco no lugar do estômago, acho que foi o melhor hambúrguer que já comi, nessa minha humilde vida, enquanto eu devorava o lanche gorduroso e me esquecia completamente dos modos, meu tio tomava um café, e me encarava de olhar feio, devolvi o olhar e ele revirou os olhos. Sempre me senti mais próxima dos outros irmãos do meu pai, do que ele mesmo, passei a maior parte da minha vida brincando entre suas pernas, aprendendo a atirar, a me aprontar para as aulas, ter bons modos. De meu pai, o máximo que conseguia era murmurar de palavras incompreendidas e olhar de desaprovação, por vezes me questionei se eles realmente eram parentes de sangue. Um toque de celular inunda o lugar, Woman in love de Barbra Streisand, grita a plenos pulmões, meus olhos se arregalam com a cena, uma ameaça de sorriso invade meus lábios, mas sou contida pelo olhar feio e a careta quando olhou o identificador de chamada.

- Sim... eu a encontrei, estamos comendo! – Pausa e cara feia - Ela está ótima! Você vai viajar, amanhã?

-Eu a quero em casa agora! - A voz do meu pai soou alta e clara.

- Tudo bem, tudo bem! Nostra! - Ele desligou, massageando a têmpora - Seu pai te quer em casa, termine e vamos para embora.

E por mais incrível que a minha vida seja, eu sou só uma adolescente. Então comecei a chorar, com as lembranças que me atormentam diariamente, lembranças que me impedem de ser normal, de seguir em frente. A dor preenche meu corpo como uma onda pesada, me afundo ainda mais no banco de couro reluzente, o tecido se aderindo a minha pele suada, eu tenho vivido na margem, a espera de um socorro que nunca vai chegar, eu desejava estar morta. Esses momentos de clareza que aconteciam após os efeitos passarem, revelavam o monstro que vivia sobre a minha pele. A respiração se torna mais pesada, o suor aumenta, minhas mãos vão de encontro ao fio grossos do cabelo, os puxando para os lados, aquela voz familiar sussurra para mim,tão profunda e intensa como na vez que a ouvi pela primeira vez. "Assassina"

- Ele me odeia, por que eu matei minha mãe! - Falei.

- Querida não... - Meu tio tenta me acalmar, mas é inútil, as lágrimas escorrem por meu rosto, puxei ainda mais o cabelo, sentindo a pressão contra o couro cabeludo. E demais, preciso de alguma coisa. Qualquer coisa.

- Eu a matei, eu a matei, e sou um monstro! – Concluo, deixando a comida e me levantando, indo em direção a porta.

Garotas da Máfia - Vol. 01Onde histórias criam vida. Descubra agora