~Cinzas E Promessas~

6 1 0
                                        

A noite caiu silenciosa sobre a mansão. Os lustres iluminavam o grande salão com uma luz dourada suave, refletida nos cristais e nos olhos atentos de todos à mesa. Era o primeiro jantar onde, por um breve momento, todos estavam reunidos sem correria, sem gritos, sem sangue.

Jin havia preparado tudo com esmero — desde o vinho francês até o arroz temperado do jeito que Yoongi gostava. Umji ria baixinho com Jimin, enquanto Yumi, com o rosto ainda levemente pálido após o parto, tentava alimentar o pequeno Haneul nos braços com delicadeza. S/N, sentada ao lado de Jungkook, sentia desde o início que algo o corroía por dentro.

Ele estava inquieto. Tocava os talheres, mexia no guardanapo, mas mal comia. Estava suando, mesmo com o ar-condicionado ligado.

De repente, ele se levantou, batendo levemente a taça com uma colher.

— Desculpem interromper, mas… preciso dizer algo. Antes que seja tarde demais.

Todos se viraram para ele. Os risos cessaram. Um silêncio denso caiu sobre a mesa.

— Eu nunca fui bom com confissões, vocês sabem. Prefiro resolver tudo com ações. Mas tem coisas que nem mesmo o tempo pode esconder. E essa é uma delas — começou, a voz firme, mas pesada.

S/N sentiu um arrepio na espinha. O tom dele era diferente. Íntimo e devastado ao mesmo tempo.

— Eu sou adotado.

Um baque invisível pareceu percorrer a mesa. Namjoon franziu o cenho, Taehyung parou com o garfo no ar. Yumi encarou Yoongi. Jimin arregalou os olhos. Jin baixou lentamente a taça.

— A família Jeon me acolheu quando eu era muito pequeno. Eles foram incríveis comigo. Nunca fizeram distinção. Me deram uma vida. Mas… antes disso, eu morava em um orfanato. Um lugar esquecido, meio escondido do mundo. E foi lá que conheci Riven Seo.

O nome ecoou no ambiente como uma ameaça.

— Riven era meu melhor amigo. Meu irmão, praticamente. A gente fazia tudo juntos. Sonhávamos em ser adotados por uma mesma família, viver a vida lado a lado… até que, numa noite, o orfanato pegou fogo.

O ar pareceu rarefeito. S/N apertou a mão dele sob a mesa.

— Eu fiquei preso num dos corredores. Estava quase desmaiando por causa da fumaça, mas Riven me salvou. Ele voltou por mim. Me carregou. Salvou minha vida. E no dia seguinte... ele foi acusado de causar o incêndio.

Um choque correu pelos presentes.

— Disseram que ele era problemático, agressivo, que guardava fósforos escondido... Era mentira. Mas ninguém quis ouvir. Nem eu — a voz dele falhou. — Eu era uma criança em choque. Eu não soube defender ele. Fui adotado dois dias depois. Riven foi levado. Internado. E sumiu.

— E agora ele voltou? — perguntou Jimin, de olhos arregalados.

— Sim. E quer vingança. Disse que eu roubei a vida que era pra ser dele. E talvez... ele esteja certo — Jungkook murmurou, cabisbaixo.

S/N se levantou, sem soltar sua mão.

— Você não teve culpa, Jungkook. Mas agora tem uma escolha: ou se esconde do passado, ou enfrenta ele com coragem.

Jungkook a olhou, os olhos marejados. Em silêncio, ele assentiu. E naquele momento, o jantar terminou. Não com sobremesa, mas com uma verdade exposta entre pratos vazios.

---

Mais tarde — Quarto da Ala Sul | Yoongi, Yumi e Haneul

Yumi estava recostada na poltrona próxima à janela, embalada pela brisa suave que entrava pela cortina entreaberta. Haneul dormia em seu colo, sereno como se o mundo lá fora não existisse.

Yoongi entrou em silêncio, sem chamar atenção. Ficou observando por alguns segundos, até que se aproximou devagar, ajoelhando-se diante dela.

— Você tá linda — sussurrou, pegando suavemente a mão dela.

Yumi sorriu, cansada, mas em paz.

— Mesmo depois de parir um bebê gigante?

— Ainda mais depois disso — ele brincou, fazendo-a rir baixinho.

Yoongi passou os dedos pelas mechas do cabelo dela, depois pelo rosto. Parou no queixo e a olhou nos olhos, sério.

— Eu não falei isso hoje. Mas devia. Eu te amo, Yumi. De verdade. Desde antes de perceber que amava. E quando eu vi nosso filho… foi como se tudo fizesse sentido.

Ela prendeu a respiração, emocionada. As lágrimas vieram com facilidade.

— Eu também te amo, Yoongi. Mesmo com esse seu jeito calado, difícil, cabeça-dura...

— E sexy — ele completou, arrancando uma risada dela.

— … e sexy — ela concordou, tocando o rosto dele com carinho. — Agora só falta uma coisa.

Ela olhou para o bebê.

— Um nome.

Yoongi o observou com olhos ternos. Depois de um silêncio breve, disse:

— Haneul.

Yumi sorriu.

— Céu?

— Porque ele é isso pra mim. O nosso céu em meio a tanta tempestade.

Ela assentiu. Um beijo lento e carregado de amor selou aquela escolha. E enquanto Haneul dormia, protegido entre os dois, o mundo lá fora se preparava para mais uma guerra.

---

[Do lado de fora da mansão...]

Na escuridão da floresta que cercava a propriedade, um carro preto permanecia estacionado, com os faróis desligados. Dentro dele, Riven Seo observava a mansão com um olhar afiado, vingativo.

Entre os dedos, ele girava um isqueiro de prata, sorrindo para a própria lembrança.

— Você contou, Jungkook. Finalmente. Agora… vamos ver se sua verdade te salva.

O clique do isqueiro ecoou no silêncio da madrugada.

A SubmissaOnde histórias criam vida. Descubra agora