As primeiras impressões de Espanha.

120 10 6
                                    

Leonardo parou o seu carro bem à frente de um prédio, travando e estacionando o seu carro de um jeito brusco.

A conversa tinha sido mínima mas o que poderia esperar de um homem que trabalhava como traficante, que parecia não ser amigo de ninguém. Suspirei, desapertei o meu cinto e tentei abrir a porta do meu lado que logo vi que estava trancada. Decidi então encarar o moreno ao meu lado que com o seu sorriso bem malicioso apenas tirou as suas chaves da ignição do carro, abrindo a porta do seu lado.

Fiquei que nem uma mula, apenas pasmada enquanto o via a sair do carro com as maiores calmas do mundo. Os seus passos eram vagarosos e podia até jurar que demoraria meio século até que ele chegasse ao meu lado do carro para destrancar a porta do mesmo.

A sua mão agarrou na maçaneta na porta e abrindo-a lentamente, logo me encarou com os seus lindos olhos esmeralda e com o seu sorriso bem safado que me mostrava o quão entretido ele estava com aquela situação toda.

"Ah, senhor Davi! Como está?" Uma voz feminina soou enquanto eu colocava o meu primeiro pé no chão das ruas de Espanha e encarava a mulher de cabelos loiros e encaracolados que com os seus óculos sobre o seu longo nariz, segurava no seu gato bem peludo. O seu perfume barato tresandava a uns bons metros de distância e sustive a minha respiração por algum momentos quando observei o sorriso encantador que Leonardo ofereceu àquela mulher.

"Como está senhora Verónica?" Leonardo sorriu, agarrando na porta com uma mão enquanto a outra pegava naquela 'donzela', levando a mão com demasiadas manicures e cremes até aos seus lábios carnudos, apetitosos, deliciosos, convidativos...

"Ótima agora que chegou finalmente à vizinhança..." A mulher corou e em vez de esperar que aquele espanhol arrogante me convidasse a sair, logo pus o meu outro pé no chão, levantando-me com desdém enquanto sacudia as minhas roupas que ao contrário daquela vaidosa eram práticas, normais. Não escandalosas ao ponto de eu parecer a mãe da Lady Gaga, com quilos de maquilhagem e um chapéu bem largo, feito de palha, que me fazia lembrar o Tom Sawyer cada vez que olhava para aquela mulher.

Era mais alta do que eu mas não chegava à altura de Leonardo, parecia que aqueles malditos sapatos com um tacão de meio metro não tinham feito um bom trabalho. Ri-me suavemente com o meu próprio comentário mas logo acordei para a vida quando a grande mão de Leonardo agarrou na minha anca de um jeito possessivo, puxando-me um pouco contra o seu peito.

Não comentei, apenas olhei para o rosto um pouco estupefacto da mulher loira nos seus prováveis cinquenta anos. A conversa entre eles tornou-se curta e logo a mulher sorriu, beijando lentamente a bochecha de Leonardo antes de caminhar para longe com o monte de pêlo nos seus braços finos e quase esqueléticos.

Encarei novamente o espanhol cuja expressão simpática não estava mais no seu rosto e sentindo o seu aperto na minha cintura, logo o acompanhei até à porta de um prédio. 

"Ew." Fiz cara de nojo enquanto o encarava.

"Que foi?" Rosnou já sem paciência enquanto destrancava a porta que permanecia bem na nossa frente.

"Tens batom vermelho na tua bochecha. Talvez daquela Madonna com ar de..." Não terminei a frase, apenas revirei os meus olhos enquanto ele passava a sua grande mão pelo seu rosto, borratando ainda mais o batom.

"Com ar de quê, chavala?" A sua voz soou ao meu lado arrepiando-me e logo segui as suas costas musculadas enquanto o mesmo pressionava um botão, chamando o elevador daquele prédio de dez andares.

"Com ar de prostituta fina." Soltei uma pequena gargalhada, entrando no elevador com aquele homem bem rabugento. Os seus olhos não deixaram a minha figura, podia observá-lo pelo reflexo do espelho dentro do elevador.

"Ela é simpática..." Ele comentou, sorrindo enquanto o elevador parava e as portas se afastavam, parando no piso pretendido. Olhei-o de lado, talvez o pêlo daquele gato peludo tivesse entrado pelas suas narinas e chegado ao seu cérebro. Se é que ele o tinha...

"E loira..." Comentei, seguindo a sua figura que chegando em frente a uma porta, logo a destrancou, entrando naquela casa.

A minha curiosidade cresceu instantaneamente ao ver uma casa tão organizada e decorada, sofás pretos, quadros nas paredes, fotografias nos moveis que pareciam novinhos em folha. Estava tão entretida com o cheiro feminino de velas aromáticas que nem reparei na mulher ruiva que saíra da cozinha  com o seu cabelo bem amarrado num rabo de cavalo apertado. Sustive a minha respiração quando o meu olhar se encontrou com o escuro dela e permaneci calada só para ver um pequeno suspiro sair dos seus lábios.

"Outra mulher Leo?" A ruiva murmurou enquanto se aproximava de mim lentamente.

Leonardo apenas se limitou a negar com a cabeça enquanto um pequeno sorriso malicioso permanecia no seu rosto. 

"Esta aqui não é mais uma, apenas está aqui porque sabia demasiado sobre o tráfico." Explicou à mulher desconhecida que do nada me ofereceu uma expressão muito mais entusiasmada do que a original.

"Estou surpresa! A primeira mulher que pisa o chão do teu apartamento sem ir parar à tua cama." A ruiva gargalhou enquanto segurava a minha mão com a dela. "O meu nome é Sofia, sou a irmã mais nova do Leo." Ela ofereceu-me um pequeno sorriso, revelando-me o aparelho metálico presente sobre os seus dentes.

"Tenho pena de ti." Sussurrei ainda um pouco desconfiada, afinal não conhecia aquela rapariga de lado nenhum.

"Devias de ter, cada manhã acordo com uma nova vadia no meio dos lençóis da cama dele. Tenho que fazer depois o papel de noiva traída já que elas não saem desta casa sem serem expulsas à chinelada." Não pude ajudar, apenas gargalhei com a ruiva por alguns momentos.

"Loiras?" Sussurrei.

"Exato!" Ainda gargalhamos mais alto. Leonardo não parecia achar aquela situação muito divertida, apenas se aproximou de nós, agarrando na minha mão com alguma força no intuito de roubá-la da ruiva que nos encarou.

"Ela vai tomar um banho, fazer as suas necessidades e vai embora, entendido Sofia?" O moreno murmurou enquanto me arrastava para a casa de banho mais perto.

"O quê? Nem pensar, eu acompanho-a à casa de banho. Ela é a primeira rapariga que não parece fácil, não a vais obrigar a tomar um banho em frente de um homem tão perverso como tu! Ainda a violavas na casa de banho ou algo do género." Sofia resmungou enquanto empurrava o seu irmão com cara de ofendido para longe da minha figura.

Tentei conter o meu riso enquanto acompanhava a ruiva até ao sitio pretendido, reparando que depois de um longo suspiro, Leonardo apenas abriu uma cerveja, debruçando-se sobre o balcão da cozinha.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 15, 2015 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

'O traficante espanhol.'Onde histórias criam vida. Descubra agora