Liberdade, tortura ou descobertas?

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O sol batia com alguma intensidade contra a grande janela do armazém onde eu permanecia com o meu pequeno corpo completamente suado. Teimava em balançar com a cadeira onde me prendiam de um lado para o outro, de modo a soltar as minhas mãos onde os pulsos já enfraquecidos roçavam contra o metal ao ponto da pele arder.

O barulho irritante das pernas da cadeira a chiarem parecia tornar-se mais irritante enquanto eu me balançava mas isso parecia não captar a atenção do forte homem que tinha o seu rosto pressionado contra a mesa à frente da sua figura. Com os seus olhos esmeralda cerrados, Leonardo já estava bem adormecido desde umas cinco horas.

Olhei em minha volta mais uma vez e mordi o meu lábio inferior enquanto roçava os meus pulsos nas correntes, ainda balançando os lados da cadeira de um jeito agora mais forte. Foi então que os meus pequenos pés deixaram de tocar o chão e inspirando todo o ar naquele enorme armazém, fechei a minha boca no mesmo instante que a cadeira caiu no chão.

Um grunhido escapou por entre os meus lábios e abrindo lentamente os meus olhos castanhos logo observei o rosto adormecido de Leonardo encarar-me com uma cara de poucas confianças. Os seus cabelos claros estavam novamente despenteados e a sua respiração pesada era o única som que surgia naquele espaço.

"O que estás a fazer?" A sua voz parecia eróticamente mais rouca ao acordar.

Engoli a seco e olhei para ele.

"O que te parece?" Perguntei sem certezas de como haveria de reagir numa situação constrangedora como aquela.

"Parece que alguém está a ser exageradamente estúpida ao pensar que pode sair quando está amarrada a uma cadeira." O moreno sussurrou enquanto passava vagarosamente os seus longos dedos pelos seus cabelos, acabando por se levantar e caminhar até à minha posição.

"Na verdade é alguém que está com a bexiga cheia.E que de preferência precisa de tomar um longo banho." Murmurei enquanto o espanhol se debruçava um pouco e flexionava os músculos trabalhados dos seus braços, elevando a cadeira onde o meu corpo permanecia, posiciando-a como a mesma estava no início.

"E o que é que eu tenho a ver com isso?" Leonardo perguntou do seu jeito sarcástico e inspirei o seu cheiro a colónia cara, tentando conter a minha raiva.

"Você é burro?" Rosnei e ele apenas soltou uma pequena gargalhada, olhando-me com aqueles olhos esmeralda que tiravam o fôlego a qualquer mulher.

"Eu não, tu?" E prontos. Como se não bastasse aquela sensação de desejo que eu sentia,  ainda fez questão de prender o seu lábio inferior por entre os seus dentes de um jeito sedutor, provocando uma certa humidade por entre as minhas pernas.

"Eu sou tudo...Algemada, raptada, portuguesa, morena..." Murmurei enquanto revirava os meus olhos com a ignorância em cada palavra proferida por aquele moreno. "Sou tudo menos burra." Terminei com a frase de uma forma bem direta.

"Sério?" Ele levantou-se, ajeitando e puxando as mangas da sua camisa bem apertada ao seu corpo até aos seus cotovelos, revelando as veias presentes perto dos seus pulsos. "Então explica-me quem é que se atira para o chão como forma de se salvar." Gozou com a situação.

"Quem está desesperado!" Concluí de um jeito apressado.

"Pensei que a minha companhia fosse agradável!" Ele voltou a comentar do seu jeito bem malicioso, tirando uma navalha do seu bolso.

Vi-o ajoelhar-se em frente da cadeira onde permanecia e arrepiei-me quando que num simples movimento, ele espetou a ponta da sua faca no nó feito de metal, rodando-o de forma a desfazê-lo. 

"Para onde me vai levar." Suspirei quando as correntes deixaram de prender os meus pulsos e enquanto os massajava, encarei os olhos esmeralda que logo me observaram de um jeito indecifrável. 

A figura forte daquele espanhol voltou a levantar-se do chão, elevando-se de jeito a formar uma sombra sobre o meu corpo ainda sentado e virando um pouco o meu rosto para cima, continuei a observar o seu lindo rosto. 

Leonardo esticou o seu braço e logo senti a sua mão agarrar no meu pequeno braço, puxando-me para cima. Pude finalmente notar a diferença de alturas entre os nossos corpos.

"Para o meu apartamento, estás a ver alguma casa de banho aqui perto?" Susssurrou de um jeito arrogante fazendo-me arquear uma das minhas sobrancelhas.

"O Caio e o Renato sabem que vamos sair?" Perguntei enquanto era arrastada pelo homem alto e moreno que abria a porta do armazém com a sua outra mão, sempre prendendo o meu braço de um jeito possessivo.

"Porque haveriam de saber?" Um pequeno sorriso malicioso surgiu nos lábios carnudos do espanhol que agora destrancava a porta do seu carro com as maiores calmas do mundo.

"Talvez porque foram eles que me trouxeram aqui..." Sussurrei para mim mesma.

Antes que pudesse afirmar ou comentar mais alguma coisa, logo fui empurrada para dentro do carro onde a figura de Leonardo entrou logo a seguir, agarrando o volante nas suas duas grandes mãos.

"Sabes quem é que eu sou?" A voz dele parecia um pouco curiosa e logo neguei com a cabeça, olhando para fora da janela do carro.

Percebi que um silêncio se instalou dentro do carro e ouvindo finalmente uma gargalhada rouca, suspirei.

"Eu sou o homem que comanda os tráficos. Sou o chefe daqueles dois." 

Fiquei em choque, apenas rodei rapidamente o meu rosto para encarar o sujeito que com um pequeno sorriso encantador, começou a conduzir com alguma velocidade.


'O traficante espanhol.'Onde histórias criam vida. Descubra agora