sete

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Minha mãe viu meus chupões uns dias depois quando eu estava saindo do banho. Dizer que ela ficou puta seria quase uma piada. Ela virou o demônio, só faltava ela me jogar numa fogueira e fazer algum ritual satânico para que eu passasse o resto da eternidade queimando no inferno. Ela gritou comigo, puxou meu braço e me levou de toalha até o quarto dela. Ela fez questão de mostra-los ao meu pai, que por sua vez, simplesmente olhou para o livro que estava lendo e disse que ia fingir que não tinha visto aquilo para não me bater. Minha sorte era que Deus era onipresente, se não eu teria levado uma surra do meu pai quando ele achasse que Deus não estava olhando.

Fiquei de castigo por uma semana (porque prometi confessar) e minha vida consistiu em ir à escola, voltar para casa e rezar o terço com minha mãe. Ela estava fazendo questão de estar em casa todas as tardes para garantir que eu chegasse logo após a aula. Eu estava me sentindo emprisionado, e eu não aguentava mais olhar para a Bíblia aberta ao lado da minha cama que minha mãe me fez prometer que ficaria ali até os chupões saírem da minha pele. Minha sorte foi que nem minha mãe, nem meu pai, perguntaram quem havia deixado aquelas marcas no meu corpo. Acho que eles tinham esquecido que se um não quer dois não ficam e estavam crentes de que Deus castigaria somente a mim.

- Michael, - Minha mãe disse assim que eu sentei-me à mesa para tomar café. – Ainda estou muito decepcionada com você.

- Eu sei mãe. – Murmurei. Na real eu não estava nem aí pro que ela sentia, mas eu tinha que pelo menos fingir para sair desse castigo né?

- Eu não sei como fazer para confiar em você de novo. – Balançou a cabeça com um sorriso triste, tomando um gole de seu suco de laranja. – E eu não posso ficar voltando para casa todas as tardes para ter certeza de que você chegou.

- Mãe, - Suspirei. – Já estou de castigo há uma semana, acho que já aprendi minha lição, nada de chupões.

- Espero que tenha aprendido mesmo, Michael. – Ela olhou para mim com um olhar sério, e por um segundo eu me senti um pouco mal de estar mentindo para ela. Óbvio que eu não ia parar de pegar gente porque meus pais eram religiosos assim, muito menos o senhor Hemmings. – Eu não vou ter como voltar para casa hoje. Estou confiando em você, viu?

- Pode deixar. – Forcei um sorriso, e ela retribuiu. Agora realmente eu não conseguiria trazer alguém aqui para uma foda sem pensar na minha mãezinha confiando em mim. Mas que droga!

Levantei da mesa quando terminei de comer meu misto quente e fui para o banheiro escovar os dentes e pegar minha mochila que estava no quarto. Andei o caminho inteiro para a escola pensando no que minha mãe havia dito e em quantas vezes eu tinha feito merda sem que ela descobrisse. Por que dessa vez ela havia descoberto? Logo quando eu tinha conseguido ficar com alguém que eu realmente queria ficar e que não era só um tanto faz como o resto? Só podia ser Deus me castigando por todos meus pecados, mesmo.

- Ei! – Calum falou com um sorriso grande quando me viu me aproximando dele. – Seus chupões estão começando a desaparecer!

- Eu sei. – Revirei os olhos. Calum falou aquilo como se eu fosse cego ou não tivesse um espelho em casa. – Já faz mais de uma semana também né, já estava na hora.

Calum abriu a boca para falar alguma coisa, mas logo a fechou vendo alguma coisa atrás de mim. Eu estava prestes a me virar para ver o que era que tinha feito meu melhor amigo calar a boca (coisa que ele nunca fazia), mas antes que eu pudesse, senti uma mão em meu ombro e meu corpo inteiro congelou. Olhei para aquela mão enorme, segurando meu ombro com tanta delicadeza, e minha única vontade foi de pegar aquela mão e beijá-la até não poder mais. Meus olhos estavam colados no anel dourado que ele usava no dedo mindinho.

Naughty | MukeOnde histórias criam vida. Descubra agora