trinta

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É meio assustador como as vezes o tempo parece congelar. Você está ali e, na sua cabeça está tudo em seu tempo normal, mas em volta de você, tudo está parado. O tempo não está passando, o maldito ponteiro do relógio não sai daquele maldito número. Parece que seu coração vai sair pela boca de tanta expectativa, de tanta ansiedade. E o que fazer com essa ansiedade? Nada. Não tem nada que você possa fazer a não ser e s p e r a r. Eu não aguentava mais esperar.

- Merda! - Gritei, chutando o armário embaixo da pia do banheiro com força. Senti a madeira ceder um pouco, seguido pelo estalo da madeira quebrando, mas eu não conseguia me fazer parar para pensar naquilo.

A garrafa de dois litros d'água estava em cima da pia, já vazia, e os quatro testes de gravidez estavam alinhados na pia. Eu ainda tinha que esperar outros dois minutos para que aquele pesadelo terminasse. Do outro lado da porta fechada, pude ouvir os passos de Calum se aproximarem, e pelo pequeno espaço embaixo da porta pude ver sua sombra, indicando que Calum estava sentado contra a porta.

- Tudo bem aí? - Ele me perguntou, seu tom mais dócil do que o normal.

- Não sei. - Respondi, rangendo os dentes ao fechar os olhos e passar as mãos pelos cabelos. - O que eu vou fazer?

- Não adianta se perguntar isso ainda. - Meu melhor amigo disse, pela primeira vez na vida tendo razão sobre alguma coisa. - Espere os dois minutos antes de entrar em pânico.

- Estou com medo. - Murmurei. - Eu sou muito novo para ter um filho; eu não tenho nem corpo para engravidar. Como que esse bebê vai sair? Pelo meu pau ou pelo meu cu? De qualquer jeito vai doer demais. Aliás, se ele sair pelo meu cu, meu bebê vai ser cagado ou peidado? Estou confuso.

- Você não vai cagar seu filho, Michael. - Calum riu levemente. - Ele sairia por uma cesariana, eu acho. Você falando assim parece já ter certeza que quer esse filho, não é?

- Depende de Luke. - Sussurrei.

Eu não sabia mais o que pensar. Eu amava Luke tanto, era como se cada célula do meu corpo amasse Luke com todas as forças possíveis; cada batida do meu coração, cada respiração, era tudo por Luke e eu não estava mais sabendo lidar com aquilo. Tudo doía, tudo parecia muito intenso para tão pouco tempo. Eu me enfiei nessa situação rápido demais, e eu não sabia mais como sair. Era como se Luke me puxasse para um buraco, e quanto mais eu tentasse escapar, mais forte era o que quer que seja que me puxava para baixo. Amar Luke era como areia movediça, e a esse ponto, eu estava prestes a ser puxado completamente para dentro.

Se esse bebê realmente estivesse em minha barriga, eu estaria ligado a Luke para sempre. Eu queria aquilo de qualquer jeito, mas e se algo desse errado no futuro? E se Luke acordasse um dia e não me amasse mais? E se ele odiasse nosso filho? Como eu faria para acordar todos os dias e olhar para um pequeno ser humano que eu e Luke criamos? Eu estava apavorado; Luke era tudo em minha vida, Luke era o que eu tinha. Eu sabia que eu não era perfeito, e com certeza Luke era areia demais para meu caminhão; por mais que eu fosse confiante, eu não era cego. E se um dia ele acordasse e percebesse que eu não passei de uma fase para ele?

- Tem alguma outra coisa te incomodando. - Calum constatou. Eu tive que conter as lágrimas, balançando minha cabeça levemente e mordendo meu lábio.

- Estou com medo que ele vá embora. - Admiti, me encolhendo mais ainda no chão do banheiro.

- Ele não vai. - Calum afirmou. - Eu nunca vi alguém tão apaixonado em toda minha vida. Mike, eu também não entendo como ou por que, mas esse homem te ama mais do que qualquer coisa nesse mundo. Ele quase foi preso por você.

- Eu vou fazer alguma merda ainda. - Eu murmurei, colocando minha mão em minha barriga e olhando para baixo um pouco hesitante.

- É esse seu maior medo nesse momento? Que você faça merda?

Naughty | MukeOnde histórias criam vida. Descubra agora