EMBOSCADA

CAPÍTULO 2

Dias Atuais. Estados Unidos - Seattle.

Burra. Burra. Burra. Como pude ter sido tão burra? Essa pergunta martelava a minha cabeça desde que vim parar nessa amostra grátis do inferno. Eu fui enganada, como muitas outras mulheres já foram e infelizmente vão continuar sendo.

Meus pais colocavam o mundo e as contas nas minhas costas e eu era responsável pelo sustento da casa. Um dia conheci uma mulher em um restaurante em que eu trabalhava a poucos dias como garçonete. Ela apareceu de repente e disse que tinha ficado impressionada pela minha beleza, disse que morava nos Estados Unidos e estava no Brasil a passeio. Perguntou tudo sobre mim e quando contei da minha situação financeira ela me ofereceu um trabalho nos Estados Unidos. Ela se chamava Marta e disse que era dona de uma rede de restaurantes muito conceituada em Seattle e que se eu quisesse, o trabalho era meu. Era claro e lógico que eu não recusaria, ela pagou minha passagem e não tive dificuldades para sair do país. Minha família praticamente me obrigou a ir com a ilusão do meu salário grandioso e eu vi nisso uma oportunidade para me ver livre de Devon de uma vez por todas. Mais agora, eu preferiria mil vezes estar do lado de um traidor como ele do que nesse inferno.

Quando cheguei aos Estados Unidos descobri que Marta não era exatamente quem dizia ser e que tudo que ela disse e prometeu não passava de uma grande mentira.

Eu fui trancafiada em uma espécie de boate. No lugar havia muitas mulheres, de diferentes partes do mundo, que foram parar lá da mesma maneira que eu. Foram enganadas com promessas falsas. Marta era uma mafiosa, comandava o tráfico internacional de mulheres.

Quando tentei fugir daquele inferno fui pega no flagra por um dos seus capangas e fui esbofeteada por ela. Ela me ameaçou e congelei com suas palavras.

"Não tente dar uma de esperta Evans! O que vai acontecer se fugir daqui? Vai virar uma mendiga? Você não têm escolha a não ser ficar aqui e se submeter ao que eu mandar você fazer! Não esqueça que sei onde sua família querida mora. Seu pai, sua mãe e sua querida irmã, por isso, não tente nenhuma gracinha, ou eles pagarão muito caro por isso"

Eu odiava aquele ambiente asqueroso. Todas as noites homens casados e solteiros, viris e velhos compravam as garotas por uma noite de sexo. Havia um palco onde as meninas dançavam e colocavam seu corpo a mostra em roupas ousadas e minúsculas.

Por um tempo consegui evitar mais não tinha mais como, hoje era meu primeiro dia como dançarina deste inferno. Quando me encaro no enorme espelho do quarto onde eu e as outras garotas dormimos, sinto-me repugnante encarando meu reflexo.

Situã preto com detalhes em pequenas correntes douradas, mini saia preta e saltos pretos. Meus cabelos estavam ondulados, minha maquiagem forte e impactante com o realce do batom vermelho. Eu parecia uma mulher qualquer. Me sentia obrigada a ir até aquele maldito palco e divertir os homens.

Lilian, uma espanhola incrível e uma das meninas deste lugar acabou se tornando uma grande amiga. Loira dos olhos castanhos e corpo escultural, ela já havia perdido as contas de quanto tempo estava naquele lugar e com quantos homens já havia dormido. Vendo o quanto eu estava nervosa ela me deu um pequeno frasco com um líquido dentro.

-Coloque isso na bebida do homem que te escolher e ele dormirá de imediato. Estará salva por enquanto- Ela disse.

Eu estava tentando ao máximo atrasar o inevitável mais foi impossível. Marta surgiu na porta com um dos seus capangas.

-Está na hora garota- Diz ela e ao ver minha cara de fúria ela ajeita sua postura -É melhor melhorar essa cara. Não vai arrumar cliente algum desse jeito.

-E quem disse que eu quero?- Rosno.

-Acho melhor você querer! Você não se manda aqui, não esqueça o que está em jogo, querida.

-Você é uma mulher porca!.

-E você é uma pirralha imbecil- Ela diz e depois encara o capanga.

-Luca- Ela fala e o homem começa a andar na minha direção com cara de poucos amigos.

-Não!- Digo e ele para -Eu posso ir sozinha.

-Então vamos- Marta diz e dá passagem.

Quanto mais nos aproximávamos mais eu conseguia ouvir os gritos masculinos, a música alta, as palmas, o que fazia meu estômago se revirar. Antes de subir no palco e as cortinas se abrirem Marta agarra meu braço e me vira para que eu possa encará-la.

-Não se esqueça, nenhuma gracinha- ela rosna e eu concordo.

Luca se afasta de nos e escuto quando a música para e o DJ anuncia.

"Senhores, chegou a hora que todos estavam esperando! A estrela da noite, a deusa brasileira. Conheçam, Lara!" Ele diz e as cortinas se abrem.

Caminho nervosa até o palco e engulo em seco, o nervosismo tenta me dominar mais eu não permito, tento ao máximo parecer confiante.