O Crepúsculo de Navadoh

DOCUMENTO 004: OS INIMIGOS DA ORDEM

Ao surgirmos em uma das Capelas de Meditação do Santuário em Nemashi, logo saímos daquele recinto circuncêntrico para irmos ao encontro dos Sumos Sacerdotes da Ordem.

A grandeza do Santuário[1] nos obrigava a correr pelas suas longas naves, adornadas pelas estátuas de antigos Sacerdotes em suas laterais. Ao longo do caminho, vários de nossos companheiros tentavam interromper nosso trajeto, nos perguntando sobre o atentado em Granda Dubajo. Pelo visto as notícias corriam mais rápido do que a velocidade que saltávamos de um planeta a outro.

Ao alcançarmos o centro do Santuário, logo nos encontramos com os Sumos Sacerdotes que nos esperavam para a reunião extraordinária. Ao avistar seu pai, Zendrah não se conteve, correndo para abraçá-lo.

- Você sabe o perigo que correu? – Disse o Sacerdote de longos cabelos negros, Yaltzah Vahlis, enquanto apertava sua filha, porém sem perder a autoridade. – Quando soube eu fiquei louco. Pelo visto sua mãe não tem pulso para lhe proibir de certas coisas. Mas por sorte ela me avisou, antes que as notícias chegassem a Nemashi.

- Desculpe pai, mas não podia deixar a mamãe sozinha. Se você não está presente para cuidar dela eu estou. – Ambos sorriam um para o outro, enquanto um alto Sacerdote de vestes brancas se aproximava.

- Assim que soubemos convocamos a reunião. Todos estão bem? – Perguntou o Sumo Sacerdote syhriniano Ashbar Valhon, tirando seus longos cabelos loiros dos seus claros olhos, fitando minha triste situação.

- Sim. Segundo Helmar eles conseguiram proteger a todos os presentes. – Disse Yaltzah, confirmando o que lhe contara sua esposa. – Mas isso se deveu à coragem do Sacerdote Nevenuh e ao filho de Ara'aost Zavilah.

- Compreendo. – Disse Ashbar coçando seu cavanhaque dividido em duas tranças, me encarando serenamente. – Rael, de fato você tem muito dos seus antepassados. Na sua idade eles realizaram feitos igualmente fantásticos e prestaram um grande serviço protegendo não só a Ordem como também nosso próprio Universo Local. Continue assim, e você será lembrado ainda mais do que eles. – Disse-me, sorrindo, enquanto ajeitava sua túnica cinza.

Agradeci, mas mal tive tempo de inclinar minha cabeça ante ele. Alguém vinha em minha direção. E estava visivelmente nervoso.

- Pelo Princípio Rael. Ainda bem que não aconteceu nada com vocês! – Disse Manohal Lo'omeh, um dos meus primeiros Mestres na Ordem, e o homem que me criou como se fosse seu próprio filho quando meus pais e avós morreram quando eu ainda era criança. Ele observava assombrado nossas roupas rasgadas e queimadas pelos estilhaços.

- Nem com ninguém. A única morte confirmada foi a do terrorista. Conseguimos conter a explosão e concentrá-la dentro de uma barreira, graças aos seus ensinamentos, Mestre. – Respondi-lhe, vendo a satisfação nos olhos acinzentados daquele Sumo Sacerdote da espécie dos ham'aryenos.

Manohal havia sido mais que um pai. Ele era um dos melhores Mestres Harashis. Ministrava na Escola de Estudos da Mente. Sem suas aulas eu não teria aprendido como controlar os elementos ao meu redor, e assim deter a explosão.

- Assim como o Sacerdote Ashbar, novamente lhe felicito. Não podíamos ter enviado melhor Discípulo para Yuransha do que você Rael. – Disse o velho Harashi, passando a mão em sua careca desgastada pelo tempo.

- Mas receio que o planeta esteja em perigo neste momento. – Retrucou Ashbar, interrompendo meu Mestre.

- Como? – Indaguei, sem compreender. Meus amigos se entreolharam. Manohal olhou para Ashbar, indicando que prosseguisse.