Fugindo daquela balbúrdia, ordenei ao elevador da Sala do Quórum que descesse ao saguão abaixo de nós. Queria a tranquilidade de outros ambientes do Santuário que não fosse aquele.
- As reuniões em Yuransha também são assim? – Brinquei com ela.
- Não, mas pelo menos aqui não atiram bombas. – Ela respondeu, com seu tradicional sarcasmo.
- Por enquanto. O Quórum está perto de explodir... – Disse, lhe devolvendo o sorriso.
O elevador abriu suas portas nos revelando o silêncio. Caminhamos pelo grande salão em que estávamos, procurando passar o tempo. Aquele vasto ambiente, que seguia a forma piramidal do cume do edifício central do Santuário, era um verdadeiro mirante para a cidade que tomava conta de todo o planeta. Olhando o horizonte dali, em meio ao sol que trazia a noite, os incontáveis arranha-céus que cobriam boa parte do planeta reluziam a luz da estrela de nosso sistema, se transformando em verdadeiros cristais cintilantes. Aquela bela visão se completava pelo vasto mar esverdeado da grama que se estendia à nossa frente e ladeava por longos quilômetros as vias que davam acesso ao Santuário. Nosso mundo sabia perfeitamente como equilibrar o meio ambiente com nossas colossais construções, transformando todos os locais em grandes jardins mesclados aos edifícios.
Com aquela visão paradisíaca, até nossos pensamentos fluíam melhor, longe dos problemas que nós mesmos criávamos, como a política e as relações interplanetárias.
- Certo Rael, muito se falou sobre a Sociedade do Sol Negro, mas até agora você não explicou por que eles têm tanto interesse nesse Projeto.
- Pelo visto a política tem lhe atraído mais do que a tecnologia fornecida para Yuransha.
- Meu trabalho não me permite passar dias enclausurada em um laboratório ou uma sala de aula. Eu ajudo a moldar a política desse planeta sem futuro, não sua Ciência. – Retrucou, com sua sedutora arrogância.
- Por que você odeia tanto Yuransha?
- Não odeio Yuransha. Odeio os humanos que lá habitam. É perigoso lhes entregar o conhecimento que possuímos. Estamos arriscando transformarem este saber em armas, como já fizeram no passado.
- Não estamos dando conhecimento nenhum, estamos construindo uma ponte para o futuro do planeta.
- E como essa ponte pode contribuir para o futuro de Yuransha, "senhor engenheiro"?
- Basicamente o Ponto Ômega consiste em um projeto de produção de energia automatizado em escala global a partir da manipulação das antipartículas, seguindo o modelo das usinas de energia existentes em Nemashi.
- Você está falando de antimatéria? – Eu confirmei com a cabeça, sorrindo.
- E como isso é possível?
- Como você já sabe, para toda matéria existente no Universo existe uma antimatéria, ou seja, uma matéria com cargas elétricas opostas à sua. Por isso, todas as partículas que formam a matéria possuem suas antipartículas, como os antiprótons, antineutrons e antielétrons. Essas mesmas partículas formam os antiátomos, que constituem a antimatéria.
Ela concordou, prestando atenção ao que eu falava.
- Porém, a matéria e a antimatéria não coexistem, pois possuem cargas opostas. Quando se encontram, geram uma explosão que as transforma em energia pura. Como sabemos, foi esse choque de matéria e antimatéria que formou nosso Universo, e por alguma razão, sobrou mais matéria, que se expandiu moldando nossos planetas, estrelas e galáxias. Como já sabemos, essa reação gera uma grande quantidade de energia na forma de fótons, a energia em sua mais pura forma, a luz. Essa energia é dez mil vezes mais poderosa que a atividade de um Sol.
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O Crepúsculo de Navadoh
Ficção CientíficaNo ano de 2020, a lendária Ordem Harashi estabeleceu definitivamente sua Embaixada em Yuransha - nome pelo qual o planeta Terra é conhecido no Cosmos -, dando início a uma gloriosa Era de desenvolvimento das sociedades, iluminação dos povos, e, sobr...