O momento havia chegado.
Era o dia 30 de março de 2245, ano-padrão de Yuransha. No grande Espaçoporto de Novaj Braziljo, a comitiva de seis Harashis se preparava para as despedidas. Hen e Zendrah voltariam para Nemashi. Drehzus ficaria em Yuransha, trabalhando com o Sacerdote Ka'ari, assim como Helmar e Yaltzah, que voltariam para a Europa. Quanto a mim, meu destino era longe dali. Estava a caminho de Roswell.
- Meu filho, espero que use esses dias de forma sábia. – Disse Nevenuh, conversando com Hen. – Vejo que ultimamente você não está muito empolgado com seus estudos diplomáticos. Tem certeza que é isso que você quer seguir? Temos uma vida inteira para fazermos escolhas.
- Eu quero, pai. O problema é que não sei se sou bom o suficiente para ser um Embaixador. – Disse, meio cabisbaixo.
- Jamais duvide disso Hen. Você é um Ka'ari, filho dos maiores diplomatas que a Constelação já possuiu. Isso está no nosso sangue. Acredite no seu pai, como eu quero que acredite em si mesmo. – Disse, abraçando-o. Não consegui ouvir mais daquela conversa porque na minha frente Drehzus erguia seu braço contra mim. Imediatamente ergui o meu, batendo em minha testa e cruzando com o dele.
- Fazia tempo que não nos cumprimentávamos assim... – Disse-me, rindo daquela brincadeira tão boba, mas com tanto significado para nós.
- Nunca será tarde para voltarmos no tempo. – Respondi.
- Só espero que tudo dê certo. – Disse, colocando sua mão no meu ombro. – Sabe como é, sempre estou preparado para o pior.
- Por isso é um dos melhores Discípulos que temos. Às vezes acho que se preocupa demais, sabia? Sua cautela mais parece uma profecia destruidora do que uma prevenção.
- No fundo todos nós somos profetas do nosso destino. Só nos resta concretizar o que projetamos para nosso futuro. Boa sorte Zavilah. – Disse, estendendo sua mão. Embora não acreditasse muito em profecias, Drehzus era um garoto desconfiado e sempre respeitou as tradições, inclusive espirituais.
- Não sou profeta, sou cientista. – Disse agradecendo, enquanto apertava a mão de Drehzus. De fato ele havia incorporado as tradições yuranshianas após passar tanto tempo morando no planeta. Aquela conversa teria continuado se minha atenção não tivesse sido desviada. Mais à frente, observei, em silêncio, Zendrah se despedindo dos seus pais.
- Eu e seu pai estamos muito orgulhosos de você. – Disse Helmar, enquanto Yaltzah também demonstrava sua satisfação para com a garota.
- Espero que esses dias de descanso sirvam para eu focar na minha carreira. Um dia serei igual a vocês.
- Você já é, minha menina. – Disse Yaltzah, olhando para mim. – Acho que tem alguém que precisa de sua atenção mais que a gente.
Ao me ver, ela veio ansiosa ao meu encontro, pois sabia que demoraríamos a nos encontrar novamente.
- Não quero ficar longe de você. – Disse, abraçando-me.
- E não vai. Vou passar pouco tempo por lá. E quando tudo isso acabar, ficaremos juntos o tempo que quisermos. – Disse, segurando suas mãos.
- Eu vou sentir saudade.
- Não precisa... E se ficar, pense em mim, que falarei com você no mesmo instante. – Disse, enquanto fitava aqueles umedecidos olhos negros.
- Eu te amo. – Disse, enquanto se aproximava de mim. Tentei responder, mas ela levou o dedo a minha boca, me silenciando com um singelo beijo. – Não precisa me dizer o que eu já sei. – Zendrah concluiu, enquanto eu lhe apertava contra meu corpo.
- Se cuida. – Respondi.
- Boa sorte, meu engenheiro. – Ela me deu um último e longo beijo enquanto Hen se aproximava de nós.
- Por favor, deixe ele um pouco para mim. – Disse, rindo de nós dois. – Está com todas as suas parafernálias?
- Sem dúvida. Seu pai checou minha bagagem inteira. Não podemos esquecer de levar nada, senão o Projeto atrasará. Todas as informações dos cálculos e materiais de estudo devem estar conosco. Além do mais, passarei a morar nos prédios do Atlas por um tempo. A partir de agora vamos respirar esse acelerador.
- Só tome cuidado para ele não engoli-lo. – Respondeu, me dando um apertado abraço. – Deixe de humildade. Se esquecer alguma coisa é só você saltar até aqui e no próximo segundo estará de volta.
- Se souber que ele se esqueceu de algo eu mesmo o retiro do Projeto. – A voz do pai de Hen soou, brincando comigo, enquanto ele se aproximava.
- Gostaria de lhe dizer uma coisa antes que parta. Se aceitei que você ficasse em meu lugar é porque sei de sua capacidade de conduzir um projeto ousado como esse. Há muito tempo tenho a certeza de que você está preparado Rael. Foi preparado sua vida toda na Ordem para isso. Apenas cumpra seu dever, e tanto Nemashi como Yuransha lembrarão de você por toda a História. Boa sorte.
Eu agradeci, concordando com a cabeça.
- Vah Shelan. – Disse o alto Sacerdote, se inclinando ante mim, estendendo sua mão.
- Vah Shelan. – Respondi-lhe.
Só tive tempo de fitar o rosto de Zendrah. Um "eu te amo" silencioso brotou dos seus lábios e imediatamente respondi, também em silêncio.
Os dois jovens Harashis se aproximaram e Hen preparou a partida de volta à Nemashi, fechando os olhos. Assim, após eu piscar os meus, eles haviam partido. Um casal de idosos que passava pelo local imediatamente parou, espantado com aquele estranho fenômeno, em seguida praguejando nosso título. Harashis. Para aquela sociedade, ainda era estranho conviver com seres de mundos distantes, mas ao mesmo tempo tão parecidos..
Olhando uma última vez para os quatro que ali ficaram, ergui minha mão, me despedindo enquanto subia uma das rampas de embarque do Espaçoporto.
Eu estava dando meus primeiros passos rumo ao futuro de Yuransha.
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O Crepúsculo de Navadoh
Sci-fiNo ano de 2020, a lendária Ordem Harashi estabeleceu definitivamente sua Embaixada em Yuransha - nome pelo qual o planeta Terra é conhecido no Cosmos -, dando início a uma gloriosa Era de desenvolvimento das sociedades, iluminação dos povos, e, sobr...