A Maré Não Está Pra Talita

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Talita chega na aula visivelmente irritada. Todos já estavam sentados. Ela passa sem olhar pra ninguém.

A professora de literatura fala:

- Bom dia, pessoas! Hoje nós vamos ter um encontro com Carlos Drummond de Andrade.

- Talita dá uma espiada pro lado e vê Julie e Nicolas trocarem torpedos e rirem. "Essa história já está indo longe demais!" pensava.

Então ela resolveu mandar um torpedo para Nicolas. Julie nem percebe. Nicolas abre a mensagem achando que era de Julie, mas ao ler, sua fisionomia vai mudando e ele tenta disfarçar pra Julie não desconfiar.

"Gato. Tenho falar com você agora. É melhor você ir. Te espero na biblioteca, me siga." - Nicolas deu uma olhada pra Talita.

Na mesma hora ela pede à professora para ir ao banheiro e sai da sala.

Nicolas dá um tempo e então pede à professora pra ir beber água. Ao invés disso ele vai até à biblioteca, onde Talita e mais alguém o espera.

Eles se encontram entre as estantes de livros.

- Sabe Nicolas, eu trouxe uma xérox pra você dar uma olhada e me explicar o quê é isso. - diz Talita com um sorriso cínico.

Nicolas pega o papel e fica transtornado.

- O quê você ta fazendo com isso aqui?

- Calma, gato. A gente pode conversar. E aí eu não vou precisar mostrar isso pra sua namoradinha.

- Se você fizer alguma coisa com a Julie, você vai se arrepender.

- Você é quem sabe! Eu quero conversar com você essa noite, na sua casa. Você pensa e me dá uma resposta até a hora do recreio. Pode ser pelo celular, "sim" ou "não".

Ela sai da biblioteca pisando alto. Não estava nesse jogo pra perder. Queria destruir Julie. Queria tudo que fosse dela.

Nicolas nem desceu pro recreio, ficou na sala mesmo, com Julie. Ele tinha decidido não mandar resposta nenhuma.

"Talita ainda gostava dele, não ia ter coragem de fazer aquilo." - ele pensou.

Os alunos voltaram do recreio. Talita estava com uma cara péssima. Deu um olhar fulminante para Nicolas. Perto dela alguém invisível estava de olho em tudo e viu quando ela abriu a bolsa e tirou um papel que parecia ser uma xérox. Sim, olhou melhor e viu que era a xérox de um extrato.

O plano dela era entregar pessoalmente aquela xérox pra Julie. Dobrou-a e a guardou no bolso da jaqueta. Era só esperar a hora de dar o bote.

Julie pediu licença à professora para ir ao banheiro. Talita ameaçou se levantar pra ir atrás. Então Félix, que estava lá o tempo todo, jogou seu fichário no chão, espalhando todas as folhas.

Enquanto Talita corria pra pegar as folhas, Julie lembrou que precisava ir à secretaria. Ela desceu direto, sem passar pelo banheiro.

Finalmente Talita conseguiu sair pra ir ao banheiro. Ao entrar ela trancou a porta e pegou o papel comprometedor no bolso.

- Onde está você, Juliana? Trouxe um presentinho pra te dar. Não vai responder?

Saiu abrindo as portas, mas não achou ninguém. Quando abriu a última porta ela viu Félix lá dentro.

- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Ele 'suava frio'. Sabia que se não fizesse nada pra impedir, ela iria entregar o papel pra Julie. E ele não queria ver a amiga sofrer. Então, antes que a loira pudesse reagir, tomou o papel de sua mão.

- Me devolve isso aqui! Eu vou gritar! So-cor....

- Shhh, não grita! - ele disse, tapando sua boca.

"Talvez ela pare de gritar se eu beijá-la" - ele pensou.

Toda vez que ele não sabia o que fazer, acabava tendo essa ideia.

Talita resolveu se calar porque ele a olhava de um jeito mais estranho ainda.

Todo atrapalhado ele pôs em prática sua ideia mirabolante e tascou-lhe um beijo.

Morrendo de raiva, Talita empurrou e jogou o coitado longe. Pegou sua bolsa e bateu nele com toda força. Começou a fazer o maior escândalo.

- Seu miserável! Some da minha frente! Eu quero o meu papel de volta! Vou acabar com você! Alguém me ajuda! Socorro! Tem um tarado aqui dentro do banheiro!

Ela correu até a porta do banheiro e começou a socá-la.

Quando os alunos escutaram aquela gritaria, saíram imediatamente pro corredor.

Até o diretor apareceu. Ele foi logo batendo na porta.

- Talita! Abre essa porta!

- Eu não sei onde está a chave! - e continuou o escândalo - Ele está aqui dentro escondido! Por favor, abram! Ele tentou me atacar!

Só que Félix já tinha saído há muito tempo de lá.

- O diretor e a orientadora entraram com a chave extra e tentaram acalmá-la, enquanto o vigia revistava os banheiros.

- Senhor, não tem ninguém aqui dentro não senhor. - o vigia falou.

- Como não tem? - Talita gritou - Ele estava aqui dentro me atacando! Deve ter fugido!

Continuaram procurando pelo invasor no banheiro.

- Ele deve ter fugido por ali. - ela apontou para um basculante, que estava aberto.

O único problema é que o basculante ficava no segundo andar, a uns 5 metros do chão do pátio.

O comentário da escola pelo resto do dia foi sobre "a encenação da Talita".

"Nossa, que cena ridícula."; "ela fez isso pra aparecer"; "claro que ela inventou isso só chamar a atenção!". - os alunos comentavam.

Ao voltar da secretaria, Julie se deparou com a escola em chamas.

"Poxa, Talita desceu do salto e eu perdi isso?" - se perguntou.

Talita foi chamada na sala do diretor.

- Oi, bom dia.

- Sente-se.

- Conseguiram encontrar o cara? É isso?

- Não, mas descobrimos uma coisa interessante. Descobrimos que ninguém entrou nem saiu do banheiro. Só você e mais ninguém depois de você.

- Não! Vocês estão loucos! Eu vi com meus próprios olhos, e ele me beijou à força!

- Infelizmente nós teremos que chamar os seus pais aqui.


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