Salvando o Dia

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Julie voltou da lanchonete por outro caminho. Era mais demorado, mas pelo menos não cruzaria com Nicolas. Não queria que ele a visse assim.

Quando chegou em casa com aquela cara, seu pai levou um susto.

-O que aconteceu com você, filha?

- Nada pai. Eu vou me deitar. Amanhã acordo melhor. - ela disse.

- Filha, você não consegue mentir pra mim.

"Mentir não, mas omitir..." - ela pensou. - Pai, eu não quero falar sobre isso. Vou pro meu quarto.

- Não. Espere aí. Vamos num aniversário comigo e o Pedrinho. Vai ser bom pra você. Vai se distrair.

Ela sabia que seria uma furada.

"Festa de criança, com pipoca, guaraná, correria. E as músicas? Mas vai ser melhor do que ficar em casa me lembrando do Nicolas!" - ela pensou.

- Eu vou me arrumar.

E foi pro seu quarto.

"Preciso de um banho de princesa!". - pensou.

Separou uma roupa de acordo com seu humor: preta. Tomou banho, se arrumou e se olhou no espelho. Parecia uma morta-viva: pálida, com uma roupa que parecia da Família Adams, sem maquiagem e com uma cara de quem tinha acabado de assistir "Titanic".

"Vou passar pelo menos um batom" - pensou.

Abriu a gaveta e se deparou com o anel de lua e estrela. Sentiu um frio na barriga. Tinha esquecido daquele sonho misterioso com Daniel. Ele não parecia diferente. Estava no seu normal: irônico, mal-humorado e sarcástico. Quer dizer, estava um pouquinho mais atencioso. Voltou a ficar intrigada com aquilo. Calçou uma sandália com salto - finalmente tinha aprendido a andar com eles - e passou seu perfume preferido. Quando terminou foi até a edícula e chamou:

- Daniel, preciso falar com você.

Daniel apareceu e quando a viu ficou paralisado.

"Esse perfume... deve ter algum efeito mágico."

Ele nem conseguia disfarçar.

As lembranças do sonho começaram a voltar. Ele fechou os olhos, por um momento, e quando os abriu Julie o chamava:

- Daniel! Daniel! Você está me ouvindo?

- Ahn? Ah, desculpe. É que eu estava me lembrando de uma coisa.

- Lembrando de quê? - "Será que é do sonho?" - deduziu.

- Lembrando que... Você ficou me devendo uma pergunta.

- Ahhh - disse um pouco depcionada. - Fiquei mesmo né. E o que é que você quer me perguntar?

Julie estava um pouco perturbada com a companhia dele. Sentia-se confusa, porque apesar de estar com Nicolas, tinha certeza de que Daniel mexia com seus sentimentos. E não era pouco.

- Você confia em mim? Sim ou Não?

- Confio. Mesmo sabendo que você já mentiu pra mim pelo menos 1 vez.

- Se está falando do que eu descobri sobre o Nicolas, não foi mentira. E acho que você faria a mesma no meu lugar.

Essas respostas dele sempre a desconcertavam.

- Respondido? - sorriu. - Você não quer perguntar mais nada?

- Se você tiver um tempo eu quero saber mais algumas coisas. E olhou no fundo dos seus olhos.

Julie estava muito mais interessada nessa conversa do que no tal aniversário que seu pai iria.

- Eu não deveria fazer isso, mas vou convencer meu pai a me deixar ficar em casa.

Julie foi atrás de seu pai.

- Pai, eu me arrumei e tudo, mas eu queria te pedir pra não ir nesse aniversário.

- Mas por que, filha?

- Ahhh é porque me deu uma cólica insuportável. E o senhor não sabe o que é uma cólica!

- Mas não é só tomar um analgésico?

- Não pai. Por favor, eu vou me sentir muito mal lá. Toda hora tendo que ir ao banheiro. Com cólica. Fora o mau-humor.

- Tá certo. Mas nada de sair viu! Nada de chamar ninguém pra cá também. E não abra a porta pra ninguém.

- Tá pai. Obrigada.

Ela deu um beijo no rosto dele. Minutos depois ele e Pedrinho saíram.

Julie voltou correndo pra falar com Daniel. Estava estranhamente eufórica.

- Pronto! Resolvido!

- Eu queria te levar num lugar.

Julie se lembrou de seu pai recomendando que ela não saísse. Seu coração batia rápido.

- Meu pai me pediu pra não sair.

- Mas eu queria te mostrar um lugar.

- Onde que fica?

- Você não disse que confia em mim?

- Confio. - "O que será que Daniel está planejando?" - pensou.

- Vou chamar um taxi - ele disse. - O lugar aonde nós vamos é um pouco longe.

Aquilo já estava começando a deixá-la ansiosa.

Daniel pediu um táxi e ficaram esperando.

- Só estamos nos esquecendo de um detalhe: Como vamos pagar o táxi? - ela perguntou.

- Deixa que eu pago! - disse Daniel cheio de marra.

Eles entraram no táxi. Ficou surpresa ao ver que o motorista era Martin. Ela riu. Na verdade não estava entendendo nada.

- Onde conseguiu esse táxi? - ela perguntou.

- Peguei emprestado! - Martin respondeu com um sorriso.

No caminho, Daniel segurou a mão dela o tempo todo. Ela sentia um friozinho na barriga, mas estava nervosa, com medo que Daniel percebesse que mexia com ela.

- Depois vou te contar uma coisa que descobri. - Daniel disse.

- E tem a ver com quem?

Ela pensou que podia ser algo sobre Nicolas de novo.

- Tem a ver com nós dois. - ele sorriu.

Julie sentiu seu coração disparar. Estava sentindo um clima no ar.

E o tal lugar nunca chegava. A estrada ficou cada vez mais deserta. Já tinha pelo menos meia-hora que saíram de casa.

- Ai! E se a polícia nos parar? - ela perguntou, preocupada.

- Não vai parar. - ele afirmou.

- Como você sabe disso?

- Atrás de nós não vem ninguém e essa estrada foi desativada.

- Nossa! Eu nunca passei por aqui. - ela disse.

- Pode parar, é aqui. - ele falou com Martin.


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