Wish You Were Here

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- Ju, veste sua roupa e vem aqui fora ver uma coisa.

Ela pegou suas roupas espalhadas pela sala, vestiu e foi até a varanda. Olhou pra baixo e viu uma cesta misteriosa no chão. Logo ficou curiosa.

- Abre, Ju. Deve ser muito importante! Pra entregarem aqui...

- Daniel! Você quer que eu acredite que você não tem nada a ver com isso, né? - e abriu um sorriso.

Dentro da cesta tinha muitas coisas que ela gostava, principalmente chocolate. Também tinha um papel com uma letra de música rascunhada, escrito "Você é minha inspiração. Te amo."

Ela leu a letra da música em voz alta.

- Modéstia à parte, sei que ficou muito bom. Pode falar. - ele disse.

Ela estava emocionada. Tudo tinha sido lindo.

- Ei, Ju. Eu escrevi pra você ficar feliz.

Ele secou suas lágrimas. As surpresas ainda não tinham acabado. Ela puxou uma folha com um desenho a grafite. No qual ela estava encostada em seu peito.

- Você que fez? Desenha muito bem!

- Obrigado - ele agradece o elogio. - Mas, não fui eu que desenhei. - e ri da cara que ela fez. - Desculpe Ju, foi só pra implicar com você. Quem desenhou foi um fantasma talentoso pra quem mostrei uma foto sua.

- Daniel, quando eu penso em você é do jeito que eu te conheci. Mas agora nesse desenho, por exemplo, você está diferente. Por quê o cara não te desenhou com a roupa que você usa, com seu cabelo desse jeito, seus olhos não estão pintados?

- É porque cada um pode me ver do jeito que imaginar. É como num sonho, mas para nós, tudo é muito nítido. Eu pedi para ele desenhá-la como nesses quadros antigos, com cabelo longo e vestido vermelho. Curto esse estilo. Gosto do gótico, do vitoriano, apesar de ninguém usar isso mais. E pedi pra ele me desenhar sem essa roupa aqui, pois já estou cansado dela.

Ambos riram. Julie se lembrou de algo que sempre se perguntava.

- Daniel, já pensou se eu não pego aquele disco pra tocar? Você não estaria aqui. E nós dois nunca iríamos nos conhecer.

Daniel a abraça apertado, e diz:

- Não, Julie. Não pense nisso. Nós nunca vamos nos separar.

- Eu sei, eu sinto que você é sincero comigo. Você entende cada gesto meu, cada expressão, cada olhar.

- Eu entendo mesmo, é verdade, bem observado. Agora por exemplo, - ele a olha fixamente - eu vejo que você vai me deixar realizar um sonho que eu não pude viver.

- O quê?

- Diga que me ama e que vai me dar uma chance de ser feliz com você.

Julie segurou as mãos dele e passou por trás dela, fazendo-o abraçá-la. E respondeu com um beijo.

Já era mais de meia-noite. Eles não estavam nem um pouco preocupados com hora até então, mas Julie deu um salto quando se lembrou onde estavam e que o seu pai já devia ter chegado em casa.

- Aiii! Meu Deus! Meu pai vai me deixar 1 ano de castigo.

- Você sabia que eu pensei nisso! Que você ia ficar tão preocupada em ir embora que não ia nem aproveitar a vida.

- Não é isso, Dani. Eu só tenho 17 anos, você esqueceu?

- Mas você está comigo. Eu te garanto que nada vai te acontecer. Nada.

- Como é que a gente vai embora? Eu ouvi o Martim dizer que voltava.

- E voltou. Eu pedi pra ele deixar o carro parado perto daquela casa em ruínas.

- Então vamos! Vou pegar meus presentes. São 'só' meus.

- Ahh, não acredito que você não vai me dar nem um pedacinho de Laka.

- Não... e vou comer na sua frente.

Começaram a rir. E ele ficou tentando roubar um chocolate da cesta, só pra irritá-la. Mas ele não conseguiu. Ela abraçou a cesta com força e deu um sorriso vitorioso.

Andaram até o lugar combinado com Martin. Ele tinha deixado o carro lá e desaparecido. Daniel foi andando depressa e ela não conseguia alcançá-lo.

- Meu Deus! Mas que pressa!

- Vamos logo, Julie! Quer ajuda aí pra carregar a cesta?

- Não! Muito obrigada! - ela gritou, rindo alto.

Ele se encostou no carro e ficou esperando de braços cruzados, admirando o jeito dela andar.

- Ei! - ela disse. - O Sr. taxista não vai abrir a porta pra mim?

- Claro que sim.

Ele deu a volta e antes de abrir o carro olhou pra ela e disse:

- Este foi o dia mais especial que eu já tive.

Deram um selinho demorado e entraram no carro.

Daniel ligou o som, foi passando as músicas. Ao ouvir os primeiros acordes de "Wish You Were Here" ele deixou tocar.

- Perfeita! - ele disse.

- Boa escolha. E nós, quando vamos gravar nossa nova música?

- Não sei. Pode ser amanhã, que tal?

- Calma, eu disse "nova" música. Ela ainda nem existe.

- Tem a que eu escrevi pra você.

- É mesmo! Essa ficou maravilhosa. Sem brincadeira, você canta tão bem, toca tão bem... Pena que não esteja mais vivo para... - ela viu a expressão dele e parou de falar.

Daniel ficou meio triste. Olhou pra ela. - O que eu preciso fazer pra te mostrar que isso não tem importância?

- Não, Dani. Eu não quis dizer que você não é importante. Pára o carro um pouquinho.

Ele parou no meio da estrada deserta e olhou triste pra ela. Se abraçaram muito apertado com um sentimento de saudade.

"Como posso estar com saudade se estamos juntos a noite toda? - ela pensou. - Eu não sei como vai ser... 'eu com um fantasma'. Mas não é um fantasma pra mim. Ele significa muito, ainda mais agora. Nem estou acreditando que minha primeira vez foi mesmo assim. Foi inesperado, mas também foi lindo."

Ficaram abraçados até a música terminar. Então Daniel soltou-a e disse:

- Claro, Ju, foi só uma insegurança minha, foi só isso. No fundo ele tinha medo que isso atrapalhasse tudo.


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