Capítulo 25

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Scarlet caminhava sozinha pela Rota 99, os carros passavam zunindo por ela, nunca havia se sentido

tão sozinha. Não lembrava de ter tido algum dia pior que aquele.

Ela pensava e repensava em sua mente o que poderia ter acontecido com Sage. Como ele poderia têla

abandonado daquele jeito? Será que havia mudado de idéia? Fora alguma coisa que ela disse? Será que

ele percebeu que ele não estava tão a fim dela assim? Teria decidido ficar com sua família ao invés dela?

Teria tudo sido apenas uma mentira? Ele realmente enviara o seu primo para pegar o colar?

O pensamento partiu completamente seu coração. Sage era a última pessoa no mundo que ela

pensou que iria desapontá-la. Agora, após as brigas com seus pais e suas amigas, ela sentia que não tinha

ninguém, absolutamente ninguém restante a quem recorrer. Toda a alegria e otimismo que tinha tomado

seu coração naquela manhã agora estava acabado, estava mais triste do que nunca. Ela realmente sentia

que não tinha mais nenhum motivo para viver.

Scarlet andava com a cabeça para baixo, deprimida, mal notava os carros. Sentia, em seu interior, que

algo lentamente estava se mexendo, brotando. Era uma raiva lenta, fervente, algo insatisfeito, algo que

precisava ser saciado. Era um desejo de se vingar de algo. De alguém. Uma vontade de se alimentar. Ela

sentia um comichão na pele, todos os seus sentidos estavam aguçados, como, ela imaginou, um viciado

em drogas, provavelmente se sentia quando precisava de mais uma dose. Anteriormente, ela tinha sido

capaz de manter tudo sob controle. Mas agora, ela não conseguia se segurar. Cada vez mais, ela se sentia

como se estivesse prestes a explodir. Ela tinha uma sensação de que uma vez que ela encontrasse seu

próximo alvo, ela seria incapaz de se conter.

Uma parte dela queria correr, fugir, evitar as pessoas. Mas outra parte dela estava sentindo aquele

desejo desesperado que precisava ser saciado. Suas veias estavam vivas, queimando por dentro. Ela

precisava de sangue novo para preenchê-las.

De repente, um carro pariu com um estrondo bem na frente dela, fazendo-a se virar. Ela olhou para

cima e viu uma caminhonete preta surrada. Na cabine, havia dois homens de uns 30 anos. Eles se

aproximara até ficarem ao lado dela, frearam e olharam para fora.

Ela viu latas de cerveja nas mãos deles e podia sentir o cheiro velho de bebida vindo de dentro da

cabine; podia ver pelos seus rostos que eles estavam bêbados. Tinham a barba mal feita, eram homens

feios; suas mãos estavam cobertas de graxa e parecia que não trocavam de roupa há semanas.

"Ei, garota, veio a voz arrastada do homem no banco do passageiro. "O que você está fazendo em

uma estrada como esta, sozinha, tão tarde da noite?"

"Entre e nós vamos lhe dar uma carona!", O motorista gritou.

"Nós vamos nos divertir," o outro acrescentou.

Scarlet sentiu sua raiva crescendo, quase incontrolável. Ela olhou com atenção para a pulsação deles

em suas gargantas, vendo seus batimentos cardíacos.

Com uma suprema força de vontade, ela se forçou a desviar o olhar. Ela se virou e continuou

andando pela estrada, ignorando-os.

"Ei, garota, eu estou falando com você!", gum deles.

Um segundo depois, ela ouviu a porta do caminhão se abrindo e, em seguida, ouviu botas no

cascalho, escutou o som de ambos correndo até ela. Ela percebeu que, em alguns momentos, um deles

iria agarrá-la, provavelmente tentaria jogá-la no carro e levaria para sabe se lá para onde.

Mas eles escolheram a garota errada, na hora errada.

No último segundo Scarlet se virou, assim que o primeiro estava prestes a agarrá-la. Ela rosnou, suas

presas estavam salientes e um ruído sobrenatural encheu o ar.

Os dois homens pararam de frio em suas trilhas, chocado, olhos arregalados de medo.

Naquele momento, Scarlet sentiu que poderia facilmente mergulhar suas presas em suas gargantas e

alimentar-se – o que ela queria mais do que tudo.

Mas, com mais um esforço supremo, ela se forçou a não fazê-lo.

Em vez disso, ela agarrou o mais próximo pela sua camisa xadrez, o levantou acima de sua cabeça, se

inclinou para trás e o atirou.

Ele saiu voando, estraçalhou o pára-brisa, e caiu no banco da frente, estilhaços de vidro voaram por

todo lugar.

O outro homem fez xixi nas calças. De olhos arregalados de medo, ele se virou e correu de volta

para o caminhão. Ele pulou dentro e saiu com pressa de lá. Dentro de instantes, as suas luzes traseiras

vermelhas eram apenas dois pontos no horizonte.

Scarlet olhou a sua volta, estava sem fôlego, e respirou fundo várias vezes.

Lentamente, ela se forçou a voltar ao normal e, aos poucos, suas presas retraíram. Ela estava

orgulhosa de sua auto-disciplina.

Mas ela se sentia como um animal faminto. Não sabia por quanto tempo mais ela aguentaria.

Examinou o horizonte e viu, não muito longe dela, um bar de beira de estrada. Tinha um sinal

barato de néon piscante, faltava uma letra. Ele piscou: Pete.

Ela estava morrendo de sede. Talvez se ela tomasse um pouco de água, um pouco de comida –

qualquer coisa – poderia ajuda-la a conter seu anseio. Ela tinha que tentar alguma coisa. Qualquer coisa.

Tentaria no Pete.


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