Não consegui dormi a noite inteira, o relógio marcava 4h36min e mesmo que eu virasse na cama, fechasse os olhos e tentasse relaxar não conseguia dormir. Desisti de tentar e levantei, fui até a mini geladeira e peguei uma cerveja. Abri a porta da sacada e o vento quente tocou meu tronco nu me fazendo arrepiar levemente, agora não havia luzes de janelas nos prédios, tudo era um breu interminável, as árvores abaixo chacoalhavam de leve e parecia uma cidade abandonada.
Fiquei ali até terminar a cerveja, voltei para dentro e fui ver se passava alguma coisa na TV. Liguei a mesma após me jogar no sofá, passava um filme e reconheci um dos atores, era coreano. Assisti boa parte do filme quando um barulho de maçaneta girando chamou minha atenção. Levantei de sobressalto e fui até a porta de entrada onde a maçaneta girava mas a porta não era aberta, já que estava trancada. Encostei meu ouvido na porta e ouvi duas vozes discutindo:
- A porta está trancada!
- Eu falei que estaria.
- E como vamos entrar? Mágica?
- Sei lá, o inteligente aqui é você.
- Você só fode comigo... me da esse grampo no seu cabelo.
- NÃO! Deixa meu grampo quieto!
- Me dá logo essa merda - ouvi um barulho forte, talvez fosse um tapa.
A maçaneta voltou a girar e a porta se destrancou. Dei alguns passos para trás da porta enquanto os dois indíviduos entravam. Um reconheci de imediato: Heechul.
- O que viemos fazer? - falou o desconhecido, continuei atrás da porta para ouvir a conversa.
- Temos que pegar os documentos do Zico.
- E pra que?
- Pra ele não voltar pra Coréia.
- E onde estão?
- Como eu vou saber?! Procura ai.
Ouvi passos e olhei rapidamente para ver se ainda estavam ali, apenas Heechul estava de costas para a porta. Sai do esconderijo e lentamente fui até Heechul, tapei sua boca antes que ele gritasse e o arrastei para fora, o levei pelo corredor tentando não chamar a atenção dos quartos vizinhos, vi uma porta branca que provavelmente seria a escada, a abri e entrei com Heechul.
- Que merda você ta fazendo aqui? - o soltei.
- Ui, se quiser algo de mim é só pedir não precisa ser agressivo. - falou se virando de frente pra mim.
- Como descobriu que eu eatava aqui? - falei sentindo a raiva subir pelo meu sangue.
- Taeil. Ele falou pra onde vocês iam. - vi seu olhar descer pelo meu corpo e então voltar a me encarar nos olhos. - Belo corpo, deve fazer maravilhas.
- Cala a boca!
Estava tentando processar o que eu ouvira. Taeil? Ele realmente me enganou? Ele... me traiu...?
- Por que vocês não querem que eu volte pra Coréia? - o fitei.
Ele me olhou como se a resposta fosse óbvia.
- Você iria estragar nossos planos.
- Que planos?- Os que você não vai saber - sorriu -, mas posso te contar se...
- Se o que?
- Se me der um beijo quente - se aproximou e passou a mão pelo meu peito.
- Saia daqui! - me distanciei e subi as escadas o deixando para trás.
- EU AINDA VOU TE BEIJAR! - ouvi antes de chegar ao outro andar.
Subi as escadas até chegar ao último andar, abri a porta que daria para a cobertura e quando sai senti o vento bater contra minha pele nua me fazendo soltar um gemido pelo frio. Andei até a ponta lentamente, observei os prédios ao redor, eram tão grandes mas aos poucos fui reparando nas poucas almas que ainda eatavam acordadas. Se apoiavam na sacada de seus apartamentos enquanto o sono não vinha, umas fumavam, outras pareciam abadalas demais, algumas pareciam apenas estar num momento de insônia...
Subi na beirada do prédio e olhei para os 25 andares abaixo vendo o chão como uma linha escura. Não sei o que se passava na minha mente mas meu coração gritava "ELE TE TRAIU!".
Meus olhos já estavam marejados e minha visão embaçada, o vento fazia meu cabelo voar e o bagunçava, minha pele estava arrepiada pelo frio da madrugada. Fiquei ali tempo suficiente para ver o céu começar a se clarear no horizonte, era lindo... me fez lembrar o dia que levei Taeil pra praia, passamos a noite lá e acordamos cedo para ver o amanhecer. A esse ponto já não controlava minhas lágrimas, elas escorriam pelo meu rosto como cachoeira e tudo o que eu queria era que eu acordasse e percebesse que aquilo era um horrível pesadelo.
Respirei fundo e vi o amanhecer. Lindo como a mais pura seda, doce como o mel e simples como uma folha... sorri com a sensação que percorreu meu corpo naquele momento. Meus pés descalços forçaram o chão cimentado e dei um passo à frente, fechei os olhos e abri os braços, era como se eu estivesse sendo libertado de quaisquer dor e sofrimento que eu vivi. Era uma sensação boa.
Por um segundo pude ver o sorriso do Taeil na minha frente, doce e encantador, apaixonante... dei mais um passo e meus dedos dobraram na quina do prédio, faltava pouco. Abri os olhos e antes do último passo ouvi alguém me chamar.
- WOOJI!!!!!