Capítulo 8

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- Por que somos diferentes, mamãe? – perguntou o pequeno Cynemaer.

A mulher franziu o cenho, surpresa pela pergunta. Largou o cesto de roupas à beira do rio e caminhou em direção ao filho. Abaixou-se, segurou suas mãos e olhou em seus olhos enquanto falava.

- Por que a pergunta agora?

- Eu estive pensando. Os outros são diferentes da gente.

- Está falando dos homens? – ela recebeu um tímido balançar de cabeça como confirmação. – Há muitas raças nessas terras.

- Sim, mas com a gente é diferente. A gente é igual eles, só que maiores. E mais peludos. Menos as fêmeas, é claro.

- É porque nós viemos de lugares diferentes.

- É por isso que nos chamam de bárbaros?

- Bem, também. Vou te contar uma história. – ela sentou-se ao lado do filho. – Há muito tempo, nessa terra não havia homens ou bárbaros. Apenas elfos, anões e outras criaturas habitavam por aqui. Então o primeiro homem chegou, vindo das terras orientais. De início, ninguém gostava dele, mas depois que salvou a filha do grande rei elfo das mãos de um grotesco sátiro, foi não só bem vindo, como também foi lhe dada a permissão para trazer mais dos seus. Ele partiu, mais uma vez, para as terras orientais e, quando voltou, muitos vieram com ele. Esse homem viveu durante muito tempo, em paz com as outras raças. Mas um dia ele morreu, e seus três filhos declararam guerra a todos os outros povos e se alegaram reis dessas terras.

"O primeiro filho ficou com as terras do oeste. Antes habitadas pelos elfos e repletas de bosques, se mostraram muito férteis. Lá, ele fundou Paradise City, a mais bela cidade do ocidente. E ao reino, deu o nome de Nirvana, após receber a visita de um mago vindo de terras distantes."

"O segundo filho, por ser o melhor guerreiro, recebeu as terras ao centro, lar de muitas raças. A noroeste fundou a cidade de Sunneburg, pois lá o Sol brilha mais que em qualquer outro lugar. Por ser o mais honrado dos três, nomeou o reino Arland".

"O terceiro filho ficou com as terras ao leste, as mais inóspitas. Lá ele fundou Holtburg, porque foi erguida sobre um tronco de madeira. E após a cidade nomeou-se o reino, Holteard".

- Mas não houve aqueles que discordassem da guerra? – questionou Cynemaer.

- Sim. Houve um grupo de mineiros ao norte que, quando souberam da guerra, não quiseram mais voltar para casa. Fundaram sua própria cidade sobre a mina de ouro na qual trabalhavam, e por isso a chamaram de Gyldenburh.

- E a Cidade Eterna?

- Essa ninguém sabe. Sempre esteve lá, muito antes dos próprios homens chegarem aqui. Dizem que existe desde antes desse mundo ser criado, por isso seu nome.

- Sei. Mas não entendo por que está me contando essa história.

- Porque, assim que os três grandes reinos nasceram, chegou por essas terras o primeiro bárbaro. Ele veio de um lugar ao sul de Holteard. Gostou tanto do lugar, que trouxe sua família. Os homens, no entanto, não o aceitaram como um dos seus, pois ele falava uma língua diferente e a cor de sua pele também era desigual. Então esse bárbaro partiu ao sul, e foi encontrar um novo lar com os anões de Lytelland, e lá, as duas raças se misturaram. Por isso que os machos têm tantos pelos, meu filho.

- Então somos todos mestiços?

- Todos não. Nossa família é, mas há bárbaros puros, de pele mais escura e com poucos pelos. Mas são muito raros, e pouco aparecem por aqui.

- Entendo. Então não somos iguais aos homens.

- Meu pai achava que vínhamos do mesmo lugar, mas talvez de reinos diferentes. Mas no fundo, todas as raças, homens, bárbaros, elfos, anões, sátiros, dragões, sereias, todos nós viemos de um mesmo lugar, concebido pelos deuses.

- Então por que não podemos todos viver juntos?

- Porque as criaturas não aceitam diferenças. Elas olham para sua cor, ou para suas orelhas, ou mesmo para o seu tamanho, e, se for diferente delas próprias, ela o afastam.

- Mas por quê?

- Porque temem aquilo que lhes é desconhecido.

- Mas por quê?

- Porque são muito afeiçoados a si próprios e a sua rotina. E se algo se diferencia daquilo que normalmente vivenciam, o abominam.

- Mas por quê?

- Tudo bem, chega de perguntas por hoje. – ela se levantou. – Está começando a me lembrar de uma história que meu bisavô contava. Falava algo sobre algumas crianças e um castelo. Mas essa história é pra outra hora.

Ela caminhou em direção ao rio e voltou a lavar roupa.


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