Capítulo 22

11 0 0
                                    

Divisei um monte verdejante, escalando-o. A esse ponto, o medo evocado pelas lembranças do que aconteceu no oriente desaparecia. Meu âmago inflado por aquela sensação de coragem que apenas os jovens são capazes de sentir. Estranho sentir isso aos dez mil anos.

No topo do monte avistei uma cidade em chamas. E havia um castelo com estandartes e bandeiras erguidas e luzes acesas. Paradoxo estranho de se contemplar.

Senti meus pés queimarem e mudei minha atenção.

Havia eu pisado nos restos de uma fogueira? Pude perceber, por entre as cinzas, sobras de animais, provavelmente devorados por alguém – ou alguma coisa. Olhei ao redor e notei uma caverna. Acho que tamanha foi minha distração com o que poderia sair da gruta que não notei os passos que se aproximaram pela retaguarda. A sorte de um reflexo rápido salvou minha vida quando ergui sobre minha cabeça um escudo de gelo, contra o qual se chocou o ataque de meu agressor. Lascas congeladas se lançaram pelo ar ante o choque, fazendo nevar ao meu redor. Mas o atacante não parou, continuando a brutalizar-me com sua arma de dois gumes, batendo metal contra gelo sem hesitar. Tive de agir por conta própria e congelei as pernas do estranho agressor, que cessou seu ataque já que não podia se mover.

Avancei sobre ele, arrancando o machado de suas mãos. Ele me contemplou como se estivesse lhe arrancando um filho dos braços. Os olhos faiscaram, a boca tremeu por trás das abundantes barbas e ele proferiu pragas para mim. Respondi-lhe com educação e aquilo provavelmente desarmou-o. Aprendi, ao longo de minha vida, que os brutos são os mais sensíveis dos seres.

Sentei perto da fogueira, sendo capaz de acendê-la mais uma vez, esperando que ele se cansasse de me insultar. O sol de pôs no ocidente, por trás da cidade, e ele ainda berrava.

Foi pela manhã que me disse seu nome.

Guerras de MármoreOnde histórias criam vida. Descubra agora