Daniel - 03

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Já está amanhecendo, e tudo já estava embarcado na carruagem que me espera em frente aos portões do castelo. Essa seria minha primeira viajem fora das terras de meu pai, e saída mais duradoura do castelo.
Eu levantei-me de minha cama, antes mesmo do horário que eu deveria acordar, mas esse era o único tempo que tinha para me despedir, mas não das pessoas, do lugar.
Olhei para cada canto de meu quarto, como se fosse a primeira vez.
Tudo estava em seu canto, os quadros, os armarios, a grande janela, as cortinas, e principalmente o cheiro, que fazia tudo se tornar especial. Diversas vezes me perguntava se isso ia mudar, se esse tempo todo que eu ia passar fora, tudo ia ficar diferente.
Eu abri as janelas e vi o sol nascer, olhei para baixo e vi os sorrisos das árvores ao me ver, o clima estava aconchegante, nem quente, nem frio.
Era definitivamente um adeus, mas não sabia se ia ser para sempre.
Mesmo que tivessem levado minhas bagagens, eu sabia que ainda faltara uma coisa, o colar de minha mãe. Ele é a coisa mais preciosa que tenho, a única lembrança de minha mãe, muitas vezes, quando fico triste, é ele que me dá aconchego, como se minha própria mãe estivesse me dando forças.
Me agachei, e peguei uma pequena caixa de baixo de minha cama, e lá estava ele, brilhando como nunca, feito de ouro, e enfeitado com diversos diamantes, soube que meu pai dera ele para minha mãe no dia em que pedio a mão de minha mãe em casamento.
Coloquei ele em meu bolso, e desci as escadas.
Logo no salão fui avisado que já estava na hora de partir.
E sem surpresas, meu pai não estava lá, não ia ter despedida, não ia ter alguma espécie de incentivo, eu estava apenas indo, e isso não iria fazer falta.
Fui levado até a carruagem, e sentei esperando o manobrista. Ele chegou alguns minutos depois, sentou e simplesmente não fez nada além de acariciar os cavalos.
- Com licença, acho que já deveríamos estar partindo, meu pai não irá gostar de seu atraso.
Falei um pouco perplexo.
- Oh, meu senhor, me desculpe, mas ainda falta um passageiro.
Falou ele cuidadosamente.
Fiquei em silêncio, e esperei.
Como poderia ter esquecido do campeão da capital? Ele irá conosco, e irá participar da escola também.
Ficamos esperando por mais um tempo, até que nossas crenças que ele iria vir se acabaram.
Quando os cavalos começaram a se mexer, pudemos ouvir claramente diversos gritos:
- Senhores! Senhores! Me desculpem pela demora, eu só estava arrumando algumas de minhas coisas, por favor, não me deixem!
Gritava o campeão da capital.
- Mas pelos deuses, por que ele grita tanto?
Pensei comigo mesmo.
O manobrista parou, e enquanto ele estava correndo, tropeçou no seu próprio pé, e quando me inclinei para tentar vê-lo, pude ter a visão de sua cabeça encostando em uma pedra de tamanho médio. Eu senti a dor por ele.
Sai rapidamente da carruagem, e fui ajudá-lo, sua cabeça estava coberta com sangue, e ele tentou fingir que nada aconteceu. Mas se alguma coisa eu tinha aprendido no meu tratamento com a senhorita Milean, era sobre dor, medicamentos, e piadas sem graça.
Por sorte, trouxe comigo meu quite de emergência, onde viera os medicamentos necessários.
Enquanto ele tentava engolir o choro, eu estancava, e limpava o sangue de sua cabeça.
Passado um tempo, eu já tinha colocado uma atadura em sua cabeça, e colocado os medicamentos corretos.
A cabeça dele estava dolorida, mas ele não parava de sorrir, um sorriso que se estendia de orelha em orelha.
E assim começamos a nossa ida até Captol.
- Como você se chama?
Perguntei a ele.
- Me desculpe por não me apresentar antes meu senhor, eu sou Naill, e você é o príncipe Daniel não é mesmo?
- Oh, apenas Daniel, por favor.
Falei com um tom carismático.
- Me desculpe falar isso, mas sua bunda é realmente grande!
Eu fiquei mais vermelho que o sangue no rosto dele.
- Não sei se agradeço, pois não sei se isso foi um elogio, ou...
- Isso foi apenas uma observação - Falou ele, sorrindo como a senhorita Milean - Não me leve a mal senhor...
Eu retribui o sorriso, e me virei. Comecei a olhar ao meu redor, as árvores, as pessoas passando, os animais brincando. A viagem ia durar horas, e logo paramos para lanchar, aliás, temos que comer para progredir.
Paramos em uma lanchonete no meio da estrada, nos servimos de pão, e salgados em abundância.
Eu comi moderadamente, aliás, eu tinha uma dieta rigorosa a seguir.
Mas Naill não tinha nem um pouco de vergonha, comeu tudo o que viu pela frente, e isso me fez ficar feliz, aliás, era engraçado o modo que ele comia comparado ao meu, eu mal consegui comer o pão que me foi servido.
Agora que estávamos alimentados, está na hora de partir, temos que chegar até a noite, e nada melhor que uma companhia como Naill, ele é engraçado e gentil, e me tirou boas gargalhadas, além de ter feito meu ombro de travesseiro, eu me diverti como a muito tempo eu não havia me divertido.
Acho que eu acabo de conquistar o primeiro amigo de minha vida.

Os Poderes: A vingança de MormothOnde histórias criam vida. Descubra agora