Capítulo 20

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(...) Quando eu era pequena, algumas vezes, numa mesma noite eu tinha pesadelos e mais pesadelos seguidos, eu nunca conseguia acordar sozinha e sobretudo, nunca parecia um simples pesadelo, era algo muito mais... Real.
Era como eu me sentia, como se tivesse 7 anos de novo, eu não conseguia abrir meus olhos, não conseguia me mover, era incapaz de falar, e pesadelos constantes me pertubavam, eram tantos, demônios, bestas, caídos, criancinhas mortas, amigos perdidos, naquele momento na minha cabeça tudo parecia uma grande maré de desgraças, da qual eu era absolutamente incapaz de acordar.
Algumas vezes sonhava que tinha sido atacada e ainda estava sangrando no chão, as pessoas passavam por mim e eu gritava e implorava pedindo por ajuda, mas ninguém nunca me ajudava.
Mas quando as coisas ficavam realmente feias, quando eu só queria que parasse, quando eu sentia que meu corpo estava á ponto de desistir da teia de pesadelos que era minha mente, eu o ouvia e sentia, sua voz suave passando pelos meus ouvidos e deslizando pra dentro do meu sonho como um mantra de alívio e paz, seu toque quente me fazia querer continuar lutando, e enfretando tudo que vinhesse.
E dessa forma eu não sei ao certo quanto tempo se passou, poderiam ser dias, semanas, meses... E eu continuava presa na teia pegajosa que era a minha mente.

Uma dor, um cheiro... um toque, é impressionante como nossa mente consegue guardar as menores e mais peculiares singularidades, eu o sentia, sua mão segurava a minha e seu dedão deslizava pela palma como uma carícia suave, era a primeira coisa que eu sentia em muito tempo, eu sorri, e imediatamente seu nome me veio á cabeça... Hunter, o gentil e suave Hunter. Um gemido doloroso escapoliu da minha boca e alguns minutos depois meus olhos se abriram, a fraca luz que me cercava invadindo meus olhos desabituados.
O ambiente á minha frente parecia um quebra cabeça, onde as peças vagarosamente iam se encaixando, uma cama macia embaixo de mim, uma brisa suave contra meu rosto, um quarto pálido diante da presença de pouca luz, uma figura humana ao meu lado.
Não era Hunter, era Connor, pela primeira vez pior do que eu o jamais tinha visto, seu cabelo completamente desgranhado, olheiras severas embaixo dos seus olhos, lábios rachados, o cansaço estampava seu rosto. Me mexi desconfortável e o encarei, ele me olhou surpreso, contente... feliz, então, com um sussurro falou.
- Não se mexa, eu já volto... - Eu não me mexi, e em poucos minutos ele voltou, Hunter estava ao seu lado, sua aparência agora desleixada também delatava o cansaço, ambos sorriram se aproximando, Hunter sentou-se no lugar de Connor e me deu uma suave beijo na testa enquanto Connor se ajoelhava ao meu lado, fazendo com que nossos rostos ficassem da mesma altura.
- Ficamos tão preocupados... - ele sussurrou. - Você... Achamos que... - ele deslizou o dedo pela minha bochecha. - Não importa mais, você está aqui agora... - Franzi o cenho, encarando os dois.
- O que aconteceu? - perguntei confusa, ambos se entreolharam e então Hunter balançou a cabeça.
- Você feriu-se... Gravemente. - Balancei a cabeça descrente e tentei me levantar de uma vez... Péssima idéia, do lado direito da minha costela o ferimento ardeu e queimou, me deitei bruscamente de novo...
- Eu não me... - lembrava, mas então, junto com a dor da ferida outra coisa veio, lembranças, eu correndo, aqueles homens de olhos negros me encarando e atacando em seguida, a voz de Connor me chamando, a faca afiada entrando na minha carne macia, mas acima de tudo, Connor, Connor com aquela garota nua sobre ele... Recuei.
- Saia daqui... - meus olhos marejaram - Você é um traidor - Connor levantou-se, sua expressão amuada.

- Hope, eu posso explicar, por favor me deixa...
- VÁ EMBORA! -Gritei com raiva, Hunter se pôs de pé aproximando-se, cochichou alguma coisa pra Connor que saiu.
- Eu não gosto dele, mas... está sendo injusta. - Balancei a cabeça, as lágrimas descendo sem controle.

- Ele é um mentiroso, um traidor, se eu estou aqui... ferida, a culpa é toda dele. - Hunter balançou a cabeça, se sentou á beira da minha cama e me envolvendo cuidadosamente com seus braços, enquanto eu encharcava sua blusa com lágrimas frescas, ele me deu um beijo na testa.

Hope Legado de sangue ( Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora