- Você está linda...
Estou com os olhos em Meredith e ela está simplesmente deslumbrante. Mesmo que seja do seu jeito.
Raramente ela usava rosa. Seu vestido ia até antes do joelho e tinha babados rasgados, nada extravagante. Seu all star preto estava ali para comprovar o seu verdadeiro estilo. As asas de anjos em seu pescoço me fizeram fixar o olhar naquele local por alguns segundos.
No início suspeitei que a avó dela poderia saber de algo, mas ao olhar para esse colar agora, posso perceber que é realmente bonito e combina perfeitamente com Meredith.
- Obrigada. - ela sorri timidamente e coloca uma mecha do cabelo atrás da orelha.
Eu continuo a navegar em seus olhos castanhos até que ela desvia o olhar para baixo e eu me lembro da rosa que eu estou segurando.
- Desculpe-me. Isso aqui é pra você... - lhe entrego a rosa e ela a leva para o nariz.
Ofereço meu braço, ela me olha por algum tempo, acha estranho, mas não recusa.
- Como você achou a minha casa? - ela indaga.
- Eu te vi observando a festa - falo a verdade.
- Ufa, - ela coloca uma mão no coração - Eu estava começando a achar que você era um maníaco perseguidor de menininhas indefesas.
- Você é uma menininha indefesa?
- Claro que não.
- Então ainda não está na minha lista.
Andamos, rindo. Sua risada é suave, mas eu já ouvi muitas vezes uma risada descontrolada quando resolvia fazer festas do pijama na casa da sua amiga Jennifer. Era hilário observar as duas dançando em cima da cama e logo depois gargalhando histericamente.
- Acho que estamos meio deslocados... - ela diz e olha para as nossas roupas. Eu de preto e ela de rosa, enquanto a maioria à nossa volta está de vermelho ou branco.
- Parece que você precisa de uma peça de roupa vermelha... - eu digo e me viro para ela. Pego a rosa em sua mão e com cuidado coloco atrás de sua orelha. - Ou talvez um acessório.
Seus olhos e sorriso brilham para mim e eu sorrio de volta.
- Você pode entender de moda, - Ela debocha e ri - mas eu entendo de comida. - Pega a minha mão e me puxa.
Nós passamos entre várias pessoas. Chegamos e estamos em frente a uma banca onde tudo é praticamente colorido.
O cheiro é maravilhoso e Meredith aprecia com os olhos fechados.
- Tá sentindo isso? - ela diz - Cheiro de felicidade!
*****
Estamos encostados em uma parede perto da floricultura, um modo de de escapar um pouco da aglomeração de pessoas.
Meredith admira os casais que passam por ali para se presentearem com flores. Ela sorri quando vê uma senhora receber uma tulipa vermelha de um senhor.
- Talvez eu queira isso para mim... - Seus olhos ainda estão no casal quando fala isso, quase sussurrando.
Ela se vira para mim, estamos a meio metro de distância.
- É lindo ver quanto o amor pode durar - Ela morde os lábios e olha para mim com receio - Acho que essa sorte só vem para alguns.
- Não é sorte. É só que... Vale a pena esperar por um amor como esse. Eles podem ter se conhecido há anos ou até mesmo ontem. O sentimento não muda. Quando é para ser, não importa a idade, a hora nem o dia... - As palavras saem da minha boca sem permissão. Arregalo os olhos e me viro para frente.
- Talvez sim - ela diz e suspira. - Ok, para eu realmente não achar que você é um "maníaco perseguidor de menininhas indefesas", eu tenho algumas perguntas. - Ela muda de assunto e agora posso encara-lá sem medo. Sua expressão que antes estava pensativa, agora está divertida.
- Manda ver... - eu confirmo com a cabeça e cruzo os braços.
- Bom, quantos anos você tem?
- Dezenove e meio.
- Sobrenome?
- Arques
- Qual sua cor preferida?
- Branco
- Filme preferido?
- Eu não tenho um filme preferido.
- Como assim? Todo mundo tem um filme preferido. - ela fala.
- Eu não tenho. - Falo a verdade. Programas de TV e filmes nunca me chamaram atenção.
- Vamos ter que resolver isso. Na minha casa, amanhã. Topa?
- Você vai levar um maníaco perseguidor de menininhas indefesas para dentro da sua casa?
Ela ri alto. - Aceite logo antes que eu pense muito nisso.
- Ok, estarei lá. - sorrio.
Meredith estava realmente se divertindo. Me gabo por dentro. Acho que posso ousar pensar que eu sou um dos motivos para ela estar sorrindo agora.
*****
~Meredith~
Mikael me faz sorrir. E a cada vez que eu reparo nele acho, mais o acho bonito. Sua voz é grave, mas ao mesmo tempo suave e calma. Seus olhos, em alguns momentos, se fixavam aos meus por segundos sem ao menos dizer uma palavra e depois como se lembrasse de algo de repente, os desviavam.
A festa de São Jorge já tinha terminado. Eu e Mikael estávamos andando em direção à minha casa.
- Obrigada pela noite, eu me diverti bastante. - Falo e me viro para ele.
- Eu também gostei muito de ter a sua companhia. - ele diz. Percebi que ele tinha um modo de falar educadamente às vezes.
- Nos vemos amanhã então? - eu pergunto.
Ele assente sorrindo, mas muda a sua expressão subitamente.
- Meredith, com quem está conversando? - Sinto mãos sobre o meu ombro. Minha avó.
- Olá vovó, este é o Mikael Arques, um amigo... - Olho para ele que ainda parecia estar tenso. - Mikael, está é a minha avó, Donna Reyes.
- É um prazer conhecê-la. - Sua voz sai séria.
- O prazer é meu. - Minha vó diz com sua voz doce de sempre, porém seu olhar o come por inteiro.
Eu realmente não estava gostando disso, os dois pareciam se conhecer. Vou lembrar de perguntar sobre isso depois.
- Não demore, já está tarde. - Ela diz próximo ao meu ouvido e entra em casa.
Olho para ele e está sério, mas o seus olhos brilham ainda mais, como chamas verdes.
- Boa noite Mikael. - Eu digo para quebrar o clima e me despedir.
Ele dá dois passos para frente, estamos à poucos centímetros um do outro. Coloca uma mão em minha cintura. Sinto um choque passar por meu corpo inteiro. Puxa o meu pescoço e deixa um beijo demorado em minha testa.
- Boa noite Meredith - ele diz e se afasta para ir embora.
Observo até sua silhueta desaparecer no escuro.
Entro em casa e, se não fosse insano, podia jurar que consegui ouvir os batimentos acelerados do meu coração.Minha vó me espera na sala de braços cruzados.
- Como conheceu esse rapaz? - Pergunta com rispidez. Sua voz está totalmente mudada.
- No parque, eu estava caminhando e começamos a conversar. - Minto.
- Não quero você com ele. - Ela diz no mesmo segundo em que eu termino a minha fala.
Franzo o cenho, sem entender.
- Como assim? A senhora nem conhece ele e ... - Eu tento defender, mas ela me interrompe.
- Nem você. Sem conversa Meredith. - Ela dá as costas e sai.
Eu fico parada, totalmente indignada com o que acabara de acontecer.
Me direciono até o meu quarto, mas paro bruscamente ao ouvir algo no banheiro.
Encosto o ouvido na porta para tentar escutar mais. Eu não sou bisbilhoteira, mas minha avó nunca falava no telefone, principalmente nesse horário.
"Eu só liguei para fazer um alerta." Ouço ela dizer "Ele está cada vez mais próximo e vocês deveriam fazer algo, rápido." Ela fala com ênfase na última palavra. Logo depois o silêncio prevalece e presumo que a ligação terminou.
Me assusto com passos e corro para o meu quarto. Fecho a porta atrás de mim e me encosto nela.
Nossa conversa e agora esse telefonema misterioso. Algo estava muito errado e eu iria descobrir o que era.
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Qherubian
Teen FictionUm mundo, um povo criado pelo céu e um só objetivo, proteger a todo custo o bem mais precioso entre eles: a vida de uma garota... "Qherubian" um romance recheado de mistérios, paixões e dúvidas como: Será que o amor verdadeiro salva?