• Capítulo 8

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A cama do hotel onde estou hospedado não é tão confortável, mas pelo meu cansaço eu apenas deixo o meu corpo cair sobre ela sem nenhuma hesitação.
Não é perto e nem fácil andar da casa de Meredith até aqui. Então, programo em minha mente que irei ter que comprar um carro amanhã cedo.
Entrelaço as minhas mãos e as ponho detrás da minha cabeça. Fecho os olhos, mas o sono insiste em não vir. E o que vem é o rosto delicado da pessoa que me fez tão bem hoje.
Por algumas horas eu tive a chance de colocar em dia todos esses dezesseis anos. Seu sorriso e todas as vezes que fazia alguma brincadeira boba me fizeram acreditar que finalmente eu estava completo, com ela ao meu lado tudo estava nos eixos, eu não precisava de mais nada.
Uma memória incômoda me deixa pensativo.
Na hora de me despedir, Donna apareceu e mais uma vez me fez pensar que sabe de algo. O jeito como me ameaçou com o olhar foi surpreendedor. Eu sempre vi aquela mulher cuidar de Meredith tão bem, sem nenhuma suspeita de que os boatos sobre ela eram verdade. Ela nunca se mostrou como uma bruxa, mas agora tudo foi confirmado. Ninguém nunca me olharia assim se soubesse de algo, se pudesse pressentir algo...
Marcus. Ele sabia de tudo e por ser tão próximo de Meredith como é, pode ter algo haver com isso.
Me lembro da conversa que tive com ele esta manhã e de todas as metades que descobri sobre ele. Tudo isso seria tirado a limpo amanhã o quanto antes.
O peso do meu corpo aumenta e meus olhos que antes estavam atentos a luz do abajur, se fecham. Um suspiro cansado sai de mim. O dia posterior seria longo.
                                     *****

Saio da concessionária com um Lexus CT200h preto. É estiloso e econômico ao mesmo tempo, eu gostei.
São 10:45 da manhã e estou a caminho da casa de Marcus. Durante todo o trajeto fico imaginando o que eu iria descobrir assim que pisasse meus pés naquele lugar. A máscara dele ia cair e eu tenho o prazer de rasga-lá, ali mesmo, junto a sua face.
Estaciono o carro e desço. Ando até a entrada principal. Estou prestes a bater quando Marcus abre a porta e surge sorridente.
- Bom dia Mikael, eu estava a sua espera... - sua voz, assim como tudo que o envolve, soa ironicamente.
Eu apenas lanço um olhar de desprezo e entro na casa. Nem parece que faz quatro dias da última vez que estive aqui. Tudo continuava igual, mas agora o clima de calmaria se transformou em um mais tenso.
- Você pode começar a falar. - digo e sento-me em uma poltrona localizada no canto da sala. Marcus está em minha frente com um roupão branco, pantufas pretas e um copo de Whisky em uma das mãos.
- Falar, falar, falar! Isso para mim é muito fútil... Eu prefiro interpretar. - Ele bate palmas animadamente. - Que comece o meu monólogo!
Eu reviro os olhos, mas me acomodo na poltrona esperando para ver no que isso vai dar.
- Era uma vez, em um reino distante, há muito tempo atrás... Um homem e uma moça, dois apaixonados, é claro, como toda boa e verdadeira história dramática sempre tem que ter amor e muita melação no meio. Enfim... - Ele respira fundo e continua. - Como eu estava dizendo os dois eram muito apaixonados, mas o mundo onde eles viviam e as pessoas com quem conviviam não permitiam esse amor tão profundo... - E essa é a vez dele revirar os olhos. - Well, well, well. Eles não aceitavam de modo algum ficar longe um do outro e então fizeram de tudo e escaparam de todos para ficarem juntos. Três dias e duas noites de romance em uma ilha bastaram para criarem um fruto. O fruto do verdadeiro amor começou a brotar na barriga da jovem moça... - Ele olha dentro dos meus olhos e eu começo a perceber que existe seriedade dentro de toda aquela história. - Depois desses dias de glória, vieram os dias de horror. A família da moça, muito rígida, descobriu tudo que acontecera entre os dois e o que a moça carregava no ventre. Você pensa que eles se comoveram com a notícia? - Ele aponta para mim. - Não! - Grita. - Muitos queriam arrancar aquele fruto pela raiz. Muitos, mas não todos. Um deles permitiu que a criança vivesse com uma simples condição: Os dois nunca mais iriam se encontrar novamente. A moça, muito apaixonada, não aceitou. Assim como o homem não poderia se ver sem a amada e o pequeno ser que iria nascer logo adiante. Os dois continuaram lutando até o último momento, eles se viam as escondidas. - Ele abaixa a cabeça e sua voz muda de entonação, fica triste e baixa. - Como sempre, algum fuxiqueiro descobriu e diante de tal teimosia a mãe da moça, muito poderosa, lançou um mal que acabou adoecendo a própria filha. Mas a moça, muito forte aguentou até o momento do parto. Conseguiu ver pela primeira e última vez o fruto que criara com o seu amado. Tal fruto que recebeu o nome de Merlin... Ou como se chama agora: Meredith. - Ele me encara e seus olhos estão marejados. Os meus estão mais abertos que o normal. Estou estagnado. - E essa é parte que você se pergunta... Onde será que estava o homem, o amado, o pai do fruto? - Dá um gole do seu Whisky. - Ele estava sendo expulso do seu próprio povo.
Tudo então fica claro. O homem que está em minha frente não é apenas o instrutor de música de Meredith. Ele é o seu pai. Pelo menos o seu primeiro pai.
- E como castigo... Ela está destinada a repetir suas vidas, mas nunca plenamente. Sempre haverá algo que vai matá-la, suas tentativas de protegê-la são inúteis, Mikael. Assim como todos os outros que tentaram... - Seu monólogo terminou, posso perceber pelo tom sério em sua voz. - As bruxas fizeram isso para se assegurar que ela não cometesse o mesmo erro que a mãe da sua primeira encarnação. Ela não vive o tempo suficiente para se apaixonar verdadeiramente... - Ele se senta em outra poltrona distante de mim uns poucos metros. Meus olhos seguem o movimento da sua boca a fim de não perder nenhuma palavra. - Os Qherubians já existiam muito antes dela. Toda a sua vida foi uma farsa. Vocês vivem para proteger ela faz uns 100 anos.
Toda a minha fixa está caindo. É por isso que apenas os anciões sabem o que existe realmente escrito no Livro Intocável.
- E por que nós protegemos ela? - Eu finalmente consigo falar. Minha voz sai trêmula.
Ele olha para o copo vazio em sua mão.
- Porque o castigo não foi apenas lançado para Meredith. - Ele desliza o dedo pela borda do copo. - As bruxas, mesmo com todo o poder dos Qherubians, conseguiram achar um ponto fraco. Nós éramos anjos da guarda. Protegíamos qualquer pessoa. As bruxas inverteram isso de alguma forma e agora vocês tentam proteger somente ela.
Eu suspiro. Derrotado. Minha vida toda era uma mentira...
- Mas é claro, sempre tem uma brecha... E é por isso que você está aqui... - Posso perceber esperança em sua expressão e fico sem entender.
- Você é o único capaz de mudar tudo.
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Oi gente! Me desculpem pelos capítulos curtos, é que estou sem tempo! Mas prometo que logo logo voltarei a fazer sem pressa!

Espero que gostem desse 😊 Beijão 😘

QherubianOnde histórias criam vida. Descubra agora