• Capítulo 12

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~Mikael~

Estou na casa de Marcus aguardando a tal chegada da bruxa que nos ajudaria. Em outro caso se eu estivesse invisível, nesse momento, estaria na casa de Meredith acompanhando sua preguiça para chegar na escola. As Segundas-feiras sempre fora o dia da semana mais odiado por ela.
Marcus entra na sala, o perfume que passou exala tão forte que incomoda o meu nariz. Seu sorriso irônico, como sempre, está estampado em seu rosto.
— Bom dia Mikael, hoje estou um pouco mais receptivo. – Diz e dá uma volta para mostrar o seu "visual".
O cabelo grisalho está molhado e bem penteado para trás. Veste calça, camisa e jaqueta preta. Simples e básico, mas ao mesmo tempo, Marcus tinha um ar de confiante com a postura ereta e esguia.
— Quanto tempo para a bruxa estar entre nós? – Digo sem nenhuma animação.
— Ela deve estar aqui em poucos minutos. Aceita uma bebida? – Me pergunta.
— Não bebo, muito menos pela manhã. – Declaro.
— Eu também não bebo. – Ele diz e percebe minha cara de interrogação. — Não mais... Tenho que estar bem se quisermos que isso dê certo. Eu estava me referindo a um suco, aceita?
Balanço a cabeça em negação.
Me alarmo com um toque na campainha da casa e corro para atender.
Abro a porta e encontro uma mulher, totalmente diferente do que eu esperava. Tem uma baixa estatura, mas posso perceber que os saltos da bota preta a deixa um pouco mais alta do que realmente é. Tem o cabelo curto estilo Joãozinho, pele negra e aparenta ter a mesma idade que a minha. Usa uma calça preta e um corpete roxo escocês que formam um decote em V deixando seus seios avantajados.
Paro de analisa-lá e presto atenção no que diz.
— Não vai me convidar para entrar? – Fala impaciente.
Abro espaço e ela passa por mim.
— Samira, que bom vê-la! – Antes de virar ouço Marcus dizer.
— Marcus, eu já disse. Sami, me chame de Sami.
Os dois se abraçam como se fossem bastante íntimos. Cruzo os braços.
— Conheça Mikael. – Marcus me anuncia.
Ela se vira para mim. Me olha dos pés a cabeça e chega aos meus olhos. Os olhos dela, de um mel tão claro que chegam a ser quase verdes, me encaram e eu os encaro de volta.
— Ora, Ora, Ora. É um prazer conhecê-lo. – Levanta uma das mãos e eu a cumprimento em um aperto forte.
— Sente-se Sami, vamos conversar. – Marcus aponta a poltrona e ela se senta cruzando as pernas. Ele se posiciona em outra, ao lado dela.
Sem uma palavra, permaneço em pé, encostado em uma das pilastras da casa.
— Tudo que vocês tem que saber é que eu estou ao lado de vocês porque não acredito nos conceitos que a minha família criou e passa. – Diz sem embromação. — E porque acompanhei de perto as vidas de Meredith, sinto pena dela e algo dentro de mim me diz que tenho a necessidade de ajudá-la. – Ela olha para mim por um momento, mas volta seu olhar para Marcus que está atento a tudo. — Se outras pessoas como nós, ouvissem essa história, diriam que é loucura resolver isso com amor. Talvez seja mesmo, mas é o único caminho que temos e chega a ser um pouco óbvio se for analisado corretamente. Tudo começou com o amor de Marcus e Melissa, e se ocorrer como esperamos, irá terminar com o de Mikael e Meredith.
— Mas como eu irei dar continuidade a isso sem que os meus superiores me interrompam? – Faço a pergunta que desejava fazer desde o início da conversa.
— Não será difícil. Agora que vocês tem uma bruxa, – Samira aponta para si. — Usarão os meus poderes ao seu favor.
Eu e Marcus nos entreolhamos.
— Primeiro de tudo, você irá pedir para ficar invisível novamente e tirar alguma suspeita. O resto deixa comigo.
— O que irá fazer? – Marcus a questiona curioso.
— Os seus superiores vão ver um filminho enquanto terminamos as coisas por aqui. Eu bolei um feitiço que vai reproduzir cenas do cotidiano de Meredith. Quando eles forem checar, vai ser como assistir a um filme da vida normal que ela leva com a avó, a amiga, escola e com você, de longe, sempre a supervisionar. – Ela concluí e percebo que Marcus está de boca aberta.
— Tem certeza que funciona? – Pergunto.
— Já fiz isso antes Mikael, confie em mim. Não tem segredo.
Eu tento me aliviar e confiar no que ela diz, afinal não existe mais saída. Eu já estava envolvido na ideia de ficar e proteger Meredith.
— E quanto as bruxas? – Marcus pergunta e se acomoda ainda mais na poltrona.
Samira fica séria e respira fundo.
— Bom, essa parte ainda está andamento. Donna é uma bruxa e nesta vida é vó de Meredith. Ter uma bruxa tão próxima complica um pouco a situação, mas acho que podemos resolver. Ainda estou pensando no que fazer.
— Temos que achar uma solução rápido. – Declaro. — Tenho a pequena sensação de que ela sabe quem eu sou.
— Tenho certeza de que ela sabe quem você é, mas não se preocupe. – Samira diz, agora com seu rosto despreocupado. — Já houveram outros Qherubians que ficaram visíveis para Meredith e todas as bruxas próximas a ela tiveram a mesma reação que Donna, ou seja, você é só mais um. O que ela não imagina, e nem pode, é que vocês dois estão apaixonados. Ou vão ficar, que seja.
Eu pigarreio e ela se levanta.
— Bom, tenho que voltar antes que fiquem desconfiadas. Voltarei o mais rápido possível. – Ela se despede com um aceno de cabeça e sai. Logo depois ouço um barulho do motor de uma moto alto ir diminuindo com os segundos.
— Vai dar certo. – Marcus fala entre tapas amigáveis no meu ombro.
Suspiro.
— Tem que dar.
                                  ****
       Pedir para ficar invisível novamente, não surpreendeu Steven. Conversamos apenas por 30 minutos, sem muitas perguntas, ele cedeu. Como se achasse que eu tivesse me arrependido do que fiz e não quisesse mais problemas. Meu alívio era tão grande que quase não cabia dentro do peito.
     Liguei para Marcus logo depois de conversar com Steven e ele contatou Samira que começou a colocar o feitiço em prática. Ela disse que como já estava praticamente pronto, demoraria apenas algumas horas.
     Eu estava no quarto do meu hotel quando me senti um pouco tonto. A ligação de Marcus só confirmou que o feitiço estava pronto. Olhei para o relógio e já estava bem no horário da última aula de Meredith.
      Corri para escola e a esperei embaixo de uma árvore.
       Na saída, um cara esbarrou nela e algo dentro de mim quase me fez ir até lá, mas me contive. Quando ela chegou próximo a mim, tentei esconder o que senti, porém acho que ela pode ter percebido.
      Agora estamos dentro do meu carro, indo ao parque.
— Eu amo este parque. – Ela diz e me tira dos meus pensamentos.
— Eu também gosto de vir aqui. – Digo e estaciono o carro em frente a entrada do local.
      Sentamos embaixo da primeira árvore grande que avistamos.
— Ultimamente duas coisas tem me dado um pouco mais de paz do que eu costumava ter... – Ela fala brincando com a minha mão.
      Estamos um de frente para o outro. De pernas cruzadas. Meredith olha para baixo e eu ergo seu queixo levemente para olha-lá. Ela sorri e segura a minha outra mão no queixo.
— O que seriam essas duas coisas? – Pergunto.
     Sua expressão é divertida e um sorriso mais aberto surge no meu rosto.
— Este parque e... – Faz uma pausa. — A outra coisa, você terá que correr para descobrir. – Meredith se desvencilha das minhas mãos, levanta e corre.
       Arregalo os olhos e levanto para correr. Posso ouvir sua risada contagiante quando olha para trás a me procurar.
      Me apresso um pouco mais e chego perto dela. Alcanço seu braço e a puxo para mim. Sinto meus pés vacilarem e irem para trás. Em segundos estamos no chão.
      Meredith está por cima de mim, rindo descontroladamente.
       Fico apenas observando aquela imagem, ela percebe e para de rir.
— O que foi? – Pergunta.
— O que é a segunda coisa? – Insisto. Curioso.
       Ela coloca um mecha de cabelo atrás da orelha. Seu sorriso se fecha, mas permanece ali.
— Você.
       
      
     

      

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