~Mikael~
Meu corpo todo se encontra dolorido, devido a rigidez e a tensão que eu presenciava. Steven cuspia as palavras e mesmo que eu não pudesse o ver, sabia que os olhos dele queimavam de fúria.
— O que você fez foi extremamente fora dos limites! Beijar a protegida? Me diz, onde você bateu com a cabeça? – Ele me indaga e eu apenas suspiro pela vigésima vez. — Agora não é uma pergunta retórica Mikael, responda. – Sua voz sai ainda mais séria.
Tento encontrar as melhores palavras para aquela situação:
— Foi um deslize. Ela me beijou e eu acabei retribuindo. Me desculpe, isso não vai mais acontecer.
— Eu juro que estou tentando acreditar nisso, mas acho que não consigo. Você despertou interesse nela. E bom, pelo o que eu vejo nesse mundo de hoje, uma adolescente não desiste facilmente dos seus interesses. Ainda mais ele sendo alto de olhos verdes e cabelos longos.
Rio disso, mas logo me controlo. O seu tom desesperado o tornava engraçado, mas não deixava de ser o "chefe" furioso.
— Saia dessa ou serei obrigado a contatar aos outros. Você tem sorte, hoje eu estou de bom humor e te ofereço mais uma chance. – Com essa frase, meu corpo todo relaxa e eu finalmente consigo respirar bem.
— Eu prometo, não irei cometer mais esse erro. – Tento falar calmamente, mas palavras apressadas saem da minha boca.
Não ouço mais a sua respiração e concluo que foi embora, como sempre, sem se despedir ou dar algum sinal.
Me jogo na cama.
Steven estava tão infeliz com o que acontecera entre mim e Meredith, mas ele não tem ideia do que está por vir.
A última coisa que irei fazer agora é desistir.
*****~Meredith~
Acordo cedo, para ser mais exata, muito mais cedo do que costumo acordar. 6:34 da manhã de uma segunda-maldita-feira. Pisco os olhos, bocejo e me espreguiço lentamente.
Lembro de ter feito algumas atividades pendentes e caído no sono. Não consegui nem ver a hora que minha avó chegara em casa.
Depois de me arrumar e colocar tudo dentro da minha mochila, vou para a cozinha. Sinto o aroma suave de café e encontro minha avó cantarolando alguma música.
— Alguém acordou animada. Por onde esteve a noite toda? – Pergunto, cruzando os braços.
Ela se vira e posso ver olheiras muito fundas que tomam lugar perto dos seus olhos. Seu rosto está cansado, mas sua ações são totalmente contrárias. Ela sorri alegremente para mim e continua a cantarolar.
— Questionamentos a essa hora minha neta? Tome o seu café, deve ter dormido sem comer nada ontem, já que encontrei a louça limpa e você capotada na cama. – Ela muda de assunto, mas não desisto.
— Donna Reyes, eu conheço a senhora muito bem. Não tente mudar de assunto... – Tento encarar seus olhos, mas ela os desvia.
— Bingo. Eu estava no bingo ok? – Ela diz, agora nervosa.
— Qual o problema? – Fico sem entender. Se ela estava apenas jogando bingo, não tinha nada a temer.
— Problema nenhum, só não queria que você achasse que já estou tão velha e solitária a ponto de ir jogar bingo com outros idosos. – Ela diz e finge ajeitar algo no armário.
— Vovó, – Seguro seus ombros e a viro para mim — Tem é mesmo que se divertir, não se importe com o que eu acho ou com que os outros acham. – Falo, finalmente, olhando em seus olhos e depois a trago para um abraço.
****
Depois de duas aulas não tão incríveis e nada produtivas de Matemática e uma nada interessante de Geografia, o intervalo chega. Me encontro com Jenn no pátio da escola e sentamos em uma das mesas, sozinhas, como sempre.
— E então? – Pergunta e dá uma mordida generosa no seu sanduíche de peru.
— Nos beijamos. — Digo sem hesitar e fecho os olhos, esperando pela reação escandalosa dela.
Silêncio. Abro os olhos e vejo Jennifer fazer um gesto atrapalhado com as mãos. Ela tenta bater na costas e logo entendo que está engasgada.
— Ai meu Deus! – Dou tapas em suas costas e ela tosse compulsivamente. — Você está bem?
Ela levanta o dedo indicador e respira fundo.
— Vocês O QUÊ? – Grita, mesmo com a voz rouca.
— Nos beijamos... – Repito rindo.
— Finalmente uma de nós saiu do completo encalhamento. – Ela levanta as mãos para o céu indicando louvor.
Dou uma gargalhada alta.
— Calma, foram só beijos. Eu ainda continuo encalhada... – Falo timidamente e roubo um pedaço de seu sanduíche.
— Acredite, na nossa situação, isso é o melhor que podemos esperar. – Diz com o olhar fixo para frente.
Percebo que ela os arregala por um momento e começo a procurar o que tanto te surpreendia, mas não vejo nada.
— Jenn! – Exclamo e bato palmas em frente ao seu rosto e ela se assusta. Seja lá o que ela vira, prendeu muito sua atenção. — Onde você estava?!
— Aqui, só vi algo, mas nada demais... Ok, me conta mais sobre o Mikael. – Ela muda de assunto descaradamente e eu prefiro deixar para lá. Jennifer Rodrigues sempre foi estranha e aquilo não mudara em nada.
— Bom, eu só sei que ele tem dezenove anos, gosta de branco, seu sobrenome é Arques e nunca havia assistido um filme... É basicamente isso. – Digo.
Percebo que Jenn força um espanto quando termino minha fala.
— Não, pera, como assim? – Ela pergunta, mas não deixa espaço para minha resposta. — Você não perguntou em qual faculdade ele está? De onde ele vem? Onde mora? Como se sustenta? – Ela faz gestos com a mão, sempre do jeito exagerado dela.
— Não. Eu não pensei nisso Jenn... – Falo a verdade. — Estávamos tão conectados que eu parecia conhecer ele, só nunca o tinha visto. Loucura? Talvez. Mas, não sei, foi o que eu senti. – Suspiro.
— Droga, você já está apaixonada. – Ela declara imitando um desmaio dramático.
— Cala a boca. – Empurro-a rindo.
A possibilidade de estar apaixonada por uma pessoa que eu conhecia à poucos dias estava em uma e um milhão...
Isso me faz lembrar mais uma vez dele. Meu corpo todo reage ao pensamento das suas mãos sobre a minha cintura, e seus olhos, cheiro...
— Ei. – Jenn grita e percebo que estava de olhos fechados. — O intervalo acabou apaixonadinha!
Me despeço dela e volto para a sala de aula.
Duas lindas aulas de Inglês e logo estarei em casa. Muito obrigada Deus.
O sinal da última aula toca. Saio no meio da multidão de pessoas da mesma idade que eu, só que com a mentalidade muito inferior. Alguns gritam, outros empurram. Sem necessidade eu ter que passar por isso.
Tento encontrar Jenn, mas desisto. Dou passos apressados olhando pro chão e de repente sinto alguns livros que trazia na mão, voarem.
Olho para cima e encontro onde me esbarrei. Ele é moreno, alto, tem olhos castanhos, cabelos negros e encaracolados. O tipo de cara por quem Jenn deliraria.
— Me desculpa, eu não a vi. – Ele diz se juntando a mim no chão para recolher os livros.
— Não tem problema... Deixa que eu pego. – Falo um pouco inquieta.
Levanto depois de pegar tudo do chão.
— Meu nome é Bernardo, me desculpa mais uma vez...?
— Meredith. E não, tudo bem mesmo, eu que devia ter prestado um pouco mais de atenção. – Sorrio timidamente e dou um aceno rápido para me despedir.
Resolvo olhar para frente e evitar mais esbarrões como esse.
Com as mãos no bolso da calça preta, avisto Mikael debaixo de uma árvore do outro lado da rua.
Meu sorriso se abre instantaneamente e meu coração tenta pular para fora de seu lugar.
Atravesso a rua e a cada passo meu, sinto minhas pernas vacilarem. Chega a ser incômodo o efeito que ele causa em mim.
Reparo que ele está sério e paro antes de chegar muito perto.
— Quem era? – Ele diz com sua voz grave.
— Ele? Ah, ninguém. Acabei de conhecer. – Digo um pouco sem reação. Admitir pra mim mesma que alguém estava sentindo ciúmes de mim, chegava a ser constrangedor.
— Ele te machucou? – Fala e finalmente olha para mim, me "averiguando."
— Está tudo bem. Talvez só os livros que ficaram um pouco amassados. – Olho para O diário de Anne Frank e O pequeno príncipe, os dois com a orelha um pouco dobrada e dou uma risada tímida e nervosa. A bibliotecária iria me matar.
Então quando os meus olhos encontram os seus posso ver um brilho. Ele dá um passo para frente e me puxa para si. Suas mãos escorregam para a minha cintura e toda a sensações boas, de segurança e paz, voltam como em um toque de mágica.
— Vamos sair daqui. – Fala em meu ouvido e os poucos pêlos do meu pescoço se arrepiam.
Sem pensar, concordo com a cabeça... Talvez a Segunda-feira comece a melhorar agora.
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Qherubian
Teen FictionUm mundo, um povo criado pelo céu e um só objetivo, proteger a todo custo o bem mais precioso entre eles: a vida de uma garota... "Qherubian" um romance recheado de mistérios, paixões e dúvidas como: Será que o amor verdadeiro salva?