1. Conhecendo

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Era o primeiro dia de aula do terceiro ano e, até que enfim, o último ano havia chegado. Pensei que nunca acabaria, mas meus dias de "filha de militar" estavam literalmente contados. Era difícil não poder parar em um lugar só e eu custei um pouco para descobrir que 2 anos não eram suficientes para criar laços consistentes com ninguém. Agora eu estava quase livre, precisava apenas sobreviver ao último ano do ensino médio na Seattle High School antes de ir para a Califórnia viver a vida que eu sempre almejei. Naquela manhã entrei na sala de aula como fazia em todos os anos: de cabeça baixa, o que eu esperava que me ajudasse a manter o mínimo de anonimato possível.

No meu primeiro ano de viagens ainda existia alguma empolgação em mim, conhecer um lugar novo sempre parecia tão excitante: novos lugares preferidos, novos sotaques, novas pessoas. Mas aos poucos, a dor das despedidas e de ter que ir embora bem quando eu estava adaptada me fizeram criar um tipo de aversão por romantizar as mudanças continuas. Agora eu apenas sobrevivia, um dia após o outro, contando os segundos para chegar à formatura.

É claro que eu não correspondia exatamente ao padrão californiano esperado de uma garota que sonha com praia, vento no rosto e carros conversíveis, pelo contrário. Eu era baixa, não tanto, mas esse detalhe somado a magreza evidente me fazia não preencher a nenhum dos requisitos necessários para me tornar uma aspirante a modelo da Victoria's Secrets. Hoje especificamente eu me escondia atrás dos meus jeans confortáveis favoritos, um par de all stars velhos e flanela, eu tinha uma coleção delas e poderia usar camisas de flanela em qualquer ocasião, mas minha mãe impedia constantemente que eu "assassinasse a moda" desse jeito.

Quando eu sentei no meu lugar habitual desde que ingressei no ensino médio: a última cadeira de qualquer uma das fileiras da sala de aula, agradeci mentalmente por não ter tropeçado em nada no caminho e nem pisado nos cadarços, já que eu tinha a impressão que nunca os amarrava corretamente, sempre acabavam soltos, o que, usualmente, podia provocar um ou outro acidente. Mas eu não me considerava uma completa desastrada, ou talvez tenha apenas aprendido a não parecer como uma.

Eu esperava que meu cabelo cobrisse a maior parte do meu rosto e da minha existência, eu não precisava ser notada, não porque eu era tímida, até porque, apesar de eu não ser a maior fã de relações interpessoais, eu estava bem longe disso, era mais porque eu tinha medo de conhecer pessoas legais, medo de conhecer pessoas inesquecíveis que eu teria que deixar para trás depois, então eu preferia não conhecer ninguém. Eu julgava isso como "medidas temporárias de sobrevivência". Na faculdade tudo mudaria, eu seria a própria máquina de fazer amizades, com sorte até teria um namorado, ah... pode apostar que sim.

A essa altura todos na sala riam, conversavam sobre assuntos banais que eu não conseguia distinguir ou se abraçavam e trocavam afetos excessivamente. Eu me contentei em pegar o celular e os fones, estava pronta para me perder no universo de Sam Smith quando escuto uma voz vinda da fileira do lado se direcionar a mim.

– Olá? – Engoli em seco. Certo, talvez as pessoas de Seattle fossem receptivas o suficiente ao ponto de se preocupar em enturmar os novatos. Precisei suprimir um suspiro antes de virar para o lado, deixando meus olhos se encontrarem com os do garoto simpático que puxava assunto.

– Você deve ser a Anna certo? Eu sou Ben. – ele continuou e eu arqueei uma sobrancelha instintivamente. – Como ele sabia meu nome? Deixei que minha cabeça tombasse para o lado o observando. Eu ainda estava confusa quando lembrei que precisava sorrir, o rapaz parecia bem intencionado demais para merecer ser tratado com qualquer tipo de grosseria.

– Eu acho que sim... como você sabe meu nome? – Finalmente o respondo. Deixo o celular e os fones sobre a mesa, desistindo de utiliza-los por hora. Observei Ben mais uma vez para ter certeza se ele não era o presidente do grêmio estudantil ou qualquer um que precisasse manter algum tipo de diplomacia forçada com recém chegados, mas na verdade ele parecia bastante normal. O garoto era bronzeado, o cabelo liso que caía sobre o seu rosto fino o deixava com uma aparecia bastante jovial, seus olhos verdes tinham uma espécie de diversão contida e ele parecia ser exatamente o tipo de pessoa que gosta de fazer amigos.

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