- Eu não acredito que você aceita a carona do Harris, mas não aceita ter um dia de garotas comigo na sexta-feira. - Chris argumenta pela quinta vez apenas naquele dia. Estávamos saindo da aula de física e caminhando em direção ao estacionamento, sendo solidária comigo ela se dispôs a me acompanhar para cumprir meu veredicto de ter que entrar pela segunda vez no dia na Ford Raptor de Dave, mas no fundo eu sabia que a única intenção de Chris ao dizer para Robert espera-la em qualquer outro lugar enquanto ela ia sozinha comigo até o meu destino, era me convencer a sair com ela no final da semana. Por algum motivo, enquanto eu contava a história de como acabei na escola sem carro e com uma carona inconveniente, Christin teve a brilhante ideia de que deveríamos ir no centro na sexta depois da aula, fazer o que ela definia como "coisas de garotas". Acontece que "coisas de garotas" não eram bem a minha praia, pelo menos não acompanhada, quando eu saía com a minha mãe para fazer esse tipo de programa quase sempre eu não comprava nada de útil e acabava me arrependendo, com o tempo eu descobri que gastar dinheiro era uma arte que eu dominava sozinha. Mas essa não era a principal razão pela qual eu estava relutante em aceitar o convite dela, em sua maioria era porque eu teria que lidar com a minha mãe se gabando por "sempre estar certa" e comemorando sem parar por eu finalmente ter começado a me abrir para novas amizades. Além de que, passar o fim de semana sozinha em casa era uma das poucas coisas que me faziam acreditar que eu não havia aberto mão completamente dos meus planos de não criar vínculos até a faculdade.
- Eu já falei que não tenho certeza se meus pais vão deixar. - blefo para tentar fazer com que ela desistisse dessa ideia sozinha, porque eu certamente não conseguiria lhe dizer não.
- Ha! - Chris parece ter ouvido exatamente o que queria, mas ela ficou calada até terminarmos o percurso e se virar para mim nos fazendo parar a alguns metros da Picape preta, que me esperava no estacionamento. - Eu conheço seus pais, são Ally e Sam Mackenzie, estavam na igreja domingo, a capela do pai do Robert. - ela explica subitamente me fazendo piscar os olhos confusa. Então a capela no fim da rua de casa pertencia ao pai de Robert? Ele era reverendo? Percebi que talvez todos eles soubessem muito mais sobre mim, graças aos seus interrogatórios frequentes, do que eu sobre eles. - Tenho certeza que eles vão deixar, todo mundo me acha uma boa influência na igreja. - Christin acrescenta com convicção, dando de ombros depois de jogar os cabelos para trás dos ombros e cruzar os braços sorrindo caridosamente para mim. - Boa sorte. - ela pronuncia antes de começar a se afastar, eu sorrio de volta, assentindo levemente com a cabeça e lhe dando um pequeno aceno antes de dizer:
- Vou precisar. - e me virar para caminhar em direção ao carro.- Você tem certeza que quer me levar? Eu posso ir de ônibus. - argumento depois de entrar no veículo gigante e colocar meu cinto de segurança. Dave parecia estar se divertindo enquanto me observava relutar pela sua carona, seus dedos batucavam inconscientemente o volante enquanto seus olhos me encaravam junto com um sorriso.
- Louis, você não vai saber pegar um ônibus sozinha, ou esqueceu que acabou de se mudar? - ele fala com ironia antes de dar a partida e começar a sair com o carro do estacionamento da escola.
- Achei que deveriam estar treinando pesado para o início da temporada. - rebato com um tom de voz incrivelmente controlado, surpreendendo a mim mesma por alguns segundos.
- Só os jogadores ruins. - ele responde me lançando uma piscadela. Estalo a língua no céu da boca e viro o rosto em direção a janela, observando a paisagem sem interesse algum enquanto refletia sobre o porquê daquele garoto sempre ter uma resposta para tudo e a pior parte era saber que eu nunca conseguiria prever o que ele iria dizer em seguida. Junto minhas mãos sobre o colo as apertando para descontar minha frustração, torcendo para que o caminho da volta fosse tão rápido quanto o da ida.
- Sentindo falta do Martin? - a voz grave e aveludada de Dave quebra o silêncio entre nós, me fazendo voltar a fita-lo com os olhos semicerrados. Ele só podia estar querendo me enlouquecer, por que insistia em assuntos que eu já havia esclarecido? Por que ele sempre parecia estar testando meus limites?
- Talvez. - respondo com sinceridade. Apesar de tudo, era bem mais fácil conviver com Ben do que com ele, mesmo que eu não quisesse nada além de amizade com ele... com nenhum dos dois, bom, com o Harris eu não acreditava nem que poderia ser considerada sua "amiga" algum dia. Agora foi a vez da surpresa passar por seus olhos, acredito que ele não esperava obter uma resposta tão direta de mim, mas depois de alguns segundos ele solta uma risada nasal e assente, talvez para quebrar o clima.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Florescer
Teen FictionEssa não é uma história de amor, bom, depende do ponto de vista. Eu diria que essa é a história de como eu me perdi e me encontrei sozinha, de como eu precisei sofrer para aprender a me colocar em primeiro lugar e de como eu precisei abrir mão de al...