O meu carro eram um QQ Chery 2011 bem conservado. Eu o adorava, ele era vermelho e parecia um "insetão". Lembro de ter me divertido muito quando minha mãe chegou com ele da feira de carros usados, no dia do meu aniversário de 16 anos. Eu o apelidei carinhosamente de Bee Movie, porque os faróis e o para-choque juntos pareciam, de fato, um rostinho de abelha. Mas eu não estava nem perto de ser uma motorista excelente, no entanto, não me restara outra opção, minha mãe não sabia dirigir e meu padrasto não tinha tempo para ficar me levando para a escola, então, depois de longos anos pegando o ônibus coletivo, finalmente tirei a carteira. Foi o melhor presente que eu poderia ter ganhado naquele ano, já que eu nunca tinha amigos ou motivos o suficiente para dar uma festa.
Eu ainda precisava usar o Waze para acertar o caminho de casa em Seattle e ficava bastante concentrada na rua para não cometer nenhuma infração enquanto dirigia, mas ainda assim podia reparar na paisagem da cidade que, em sua maioria, englobava prédios comerciais e edifícios. O bairro em que morávamos não era muito longe da escola e era um dos poucos residenciais de Seattle, não que essa fosse a nossa preferência, já que o exército era quem escolhia a casa onde iríamos morar.
Greenwood era um bairro familiar com casinhas vintages e velinhas fofoqueiras como qualquer outro, perfeito para famílias tradicionais e idosos. Eu poderia revirar os olhos com a ironia, nossa família não tinha nada de tradicional.
Estaciono o carro em frente à garagem e desço do mesmo com um suspiro de alívio, era bom estar em casa de novo. A nossa nova residência era a mistura perfeita entre o moderno e o antiquado: a estrutura era de uma madeira ocre, quase verde claro, com janelas de vidro modernas que se espalhavam ao redor da casa nos seus dois andares. Não era nada comparada a enorme casa de alvenaria bem na frente dela, com o jardim bem cuidado, paisagismo e carros maravilhosos. Dava para ver que era uma construção moderna e sofisticada, apesar de ter sido feita cuidadosamente para não destoar do restante do estilo do bairro.
Faço uma careta ao notar os pneus desalinhados depois que já estava fora do carro. Eu, de fato, não era uma boa motorista. Dou de ombros e finalmente entro na casa, podendo sentir o cheiro do jantar que estava sendo preparado invadir minhas narinas. Eu nem precisava ver para saber que era espaguete, um dos poucos pratos que minha mãe sabia cozinhar com maestria.
– Filha! – a mesma exclama ao me ver passar pela entrada da cozinha. Ela ergue a colher que mexia o molho e balança ela em uma espécie de aceno. Minha mãe era uma das mulheres mais espontâneas que eu conhecia, ela era leve, risonha, tinha na cabeça um misto de cabelos grisalhos e loiros, que descoloria e os aparava na altura dos ombros desde que eu me conhecia por gente. Ela também era baixa, uns cinco centímetros menor que eu e era a prova viva de que as mulheres pequenas eram as mais perigosas. – Como foi a aula? Quero saber tudo! – ela continua me dando um sorriso animado e aponta a banqueta na sua frente, para que eu me sentasse enquanto ela terminava de preparar a comida. Eu sabia que ela tentava compensar por eu não ter meu pai por perto ou por ela ter se casado com um cara "durão" demais para assumir esse papel. Eu não a culpava por nada disso, mas mesmo que eu a dissesse que não era preciso compensar nada, ainda assim, ela continuava chegando a um ponto em que eu acabei desistindo de argumentar. Solto uma risada fraca e me sento na sua frente, apoiando os cotovelos nas bordas do balcão e colocando o rosto entre as mãos enquanto a observava.
– Foi... interessante. – começo devagar e posso ouvir sua risada. Dou de ombros antes de continuar: – A grade daqui é menor, mas parece eficiente. – começo falando da parte menos importante da minha manhã, sabendo que não era exatamente o que a Sra. Louis esperava ouvir. Respiro fundo para poder finalmente acrescentar: – As pessoas são diferentes aqui e... amigáveis demais. – solto outro riso lembrando dos rostos sorridentes de Christin, Robert e Ben. Talvez fossem as pessoas mais legais que eu havia conhecido nos últimos sete anos. Escuto o suspiro vindo dela e encaro seu rosto, bem a tempo de vê-la revirar os olhos.
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Florescer
Teen FictionEssa não é uma história de amor, bom, depende do ponto de vista. Eu diria que essa é a história de como eu me perdi e me encontrei sozinha, de como eu precisei sofrer para aprender a me colocar em primeiro lugar e de como eu precisei abrir mão de al...