Florescer

4. Cinema

O restante da semana se passou de uma forma mais tranquila do que eu imaginava, era estranhamente confortável ficar na companhia de Chris e Robert, eles eram engraçados e eu não me incomodava de "segurar vela" quando resolviam, sem precedentes, que era a hora adequada para terem um momento piegas de casal. Os interrogatórios tinham, aparentemente, acabado e agora eu não precisava explicar mais nada para ninguém sobre o porquê de eu estar ali, não que alguém além deles parecesse, de fato, interessado. Ben não ficava conosco o tempo todo, ele tinha que cumprir sua agenda de "jogador de futebol" e passar a maior parte do seu dia seguindo o clube da testosterona por aí, mas ele se esforçava para passar algum tempo comigo, não que eu me importasse tanto com isso, contudo apreciava sua educação. Nós sentávamos juntos em todas as aulas de biologia, quase sempre ele me acompanhava até a próxima aula e vez ou outra almoçava com a gente. Enquanto os dias se passavam eu ainda mantinha minha curiosidade acesa sobre a história da amizade dele com o casal, mas eu acabava por nunca achar que era a hora certa para perguntar ou decidir para qual dos três eu deveria fazê-lo.

A sexta-feira chegou em um piscar de olhos, logo o alarme da aula de física soava e já podiam-se ouvir os suspiros aliviados dos alunos antes de começarem a guardar seus respectivos materiais. Como sempre e, sem pressa alguma dessa vez, começo a fazer o mesmo, tendo consciência que era acompanhada por Christin e Ben. Do lado de fora da sala, Robert nos esperava em pé próximo a porta, seu rosto parecia levemente preocupado e o vinco que se formava entre suas sobrancelhas fazia parecer que ele tentava solucionar um enigma em seus próprios pensamentos.
- Está tudo bem amor? - Chris se pronuncia ao notar a mesma coisa que eu. Fico ao lado de Ben observando eles trocarem um selinho rápido e logo Robert se ajeitar, abraçando a cintura dela e chegando mais para perto de nós.
- Tudo bem se formos ao cinema hoje? Esqueci do aniversário da minha avó no domingo, vamos viajar para Port Angels amanhã cedo. - ele fez uma careta ao se explicar. Parecia se culpar por um crime terrível ao ter que apenas remarcar nossa saída coletiva. Chris solta um riso fraco e passa a mão nos cachos do namorado, com certeza atribuindo a ele toda a fofura que ela devia enxergar naquela atitude e conhecendo-o bem, devia saber o quanto era importante para ele honrar com os compromissos.
- Meu bem, é claro, bom... - ela franze o cenho parando por um instante e desviando o olhar para nós. - pelo menos por mim está tudo bem. - Chris acrescenta e ergue às mãos ao terminar, como se entregasse a nós a missão de concretizar o passeio. Essa era minha deixa para dispensa-los, na segunda-feira eu teria aproveitado essa oportunidade para dizer que eu já tinha planos para hoje à noite e infelizmente não poderia ir. Passaria as horas trancada no meu quarto maratonando Gossip Girl pela quarta vez ou assistindo qualquer baboseira que pertencesse ao gênero comédia romântica na Netflix. Mas depois de passar uma semana com eles, ser bem tratada e nunca receber nenhum tipo de descaso ou desinteresse, eu me culparia eternamente por magoa-los. Solto o ar pela boca antes de assentir devagar para Christin.
- Nos vemos as sete então? - pergunto arqueando uma sobrancelha e deixando meu típico "sorriso discreto" se formar nos cantos da boca. Como eu esperava, a morena bateu palmas e o casal sorri confirmando o passeio. Ben não falou nada, mas eu sabia que ele havia concordado, ele era do tipo que não dispensava uma oportunidade de sair com amigos, independente do dia ou da hora.

Não demorou muito para nos afastarmos no corredor, Chris tinhas seus compromissos com o Grêmio estudantil no contraturno e Robert parecia sempre espera-la na biblioteca. Ben costumava ir para o treino e eu seguia para o estacionamento ao encontro do bom e velho Bee Movie para ir para casa. Mas hoje fui surpreendida quando o Martin precisou dar uma corridinha para me alcançar no caminho, parando ao meu lado e me acompanhando em direção a saída.
- Então, posso te buscar as seis e meia? - ele pergunta enfiando as mãos nos bolsos da calça e me fitando sobre o ombro. Seu rosto parecia levemente avermelhado e uma parte de mim temia que Ben estivesse criando expectativas em relação a nós, enquanto outra parte dizia que isso era apenas coisa da minha cabeça e o garoto estava apenas sendo legal e educado, que ninguém se interessaria tão rápido por uma estranha como eu. Mordo o lábio inferior encarando o chão a minha frente, eu ainda não tinha certeza se aquilo era uma boa ideia.
- Tudo bem, pode ser. - mesmo assim respondi deixando os ombros caírem com um suspiro. Era difícil para mim dizer não ou fazer algo que poderia magoar as pessoas posteriormente, eu seguia vivendo com a estranha sensação de querer agradar todo mundo, mesmo sabendo que não dava conta. Balanço a cabeça tentando espantar os pensamentos. - Te passo o endereço por mensagem depois? - pergunto virando meu rosto para ele. Ben soltou um riso nasal e negou com a cabeça, me deixando confusa, Seattle não era uma cidade tão pequena ao ponto das pessoas saberem onde as outras moravam com tamanha facilidade. Paramos na entrada do estacionamento e eu coloco as mãos nos bolsos de trás do meu jeans fitando seu rosto enquanto esperava uma justificativa.
- Estou sabendo que você mora na frente do Harris, sei onde fica. - Ben diz por fim, dando de ombros. Minha cabeça girou por um instante.