Na manhã seguinte quando saí de casa me deparei com Bee Movie brilhante e muito bem estacionado no seu lugar habitual em frente à garagem. Mordi o lábio inferior contendo um sorriso e caminhei até o carro, evidentemente lavado e com um bilhete preso no para-brisa, no papel branco estava rabiscada a seguinte mensagem com uma letra razoável: "Considere como um presente de boas-vindas, discutiremos o pagamento depois. Apenas não deixe mais seu carro parado o fim de semana inteiro no frio, vá sair Anna, chega de ficar sozinha. – Harris". Solto um riso nasal revirando os olhos, ele era audacioso demais, audacioso ao ponto de me dizer o que fazer, além de ter mandado lavarem meu carro sem permissão e deixar a questão do pagamento em aberto, sem me dar pista nenhuma do quanto iria custar. Suspiro nem me dando conta do sorrisinho que pairava em meus lábios e guardo o bilhete comigo antes de finalmente entrar no carro, encontrando a chave na ignição como o prometido. - Idiota. - murmurei percebendo que ele tinha, mais uma vez, conseguido fazer tudo o que queria sem nenhum obstáculo realmente relevante em seu caminho.
Eu gostaria de ter pelo menos uma fração da sorte de Dave Harris, era frustrante a forma como o universo parecia conspirar ao seu favor e eu dificilmente duvidaria se ele me dissesse que inventou da lei da atração. Mas foi graças ao seu conselho explícito no bilhete que aceitei, além das compras e do "dia de garotas", dormir na casa de Christin da sexta para o sábado. Ela acrescentou esse detalhe como uma desculpa para a minha demora em aceitar seu convite, eu já não tinha mais forças e nem argumentos para contraria-la, então apenas concordei. Chris estava tão animada que passou a semana inteira falando sobre esse dia, a cada minuto que passava eu podia jurar que ela ia explodir de ansiedade e começava a suspeitar que iria me matar e usar meu corpo para realizar algum ritual que manteria sua beleza e status quo intactos por mais uma centena de anos.
Em compensação aos meus medos a semana pareceu simplesmente voar, Ben estava praticamente desaparecido pelos corredores da Seattle High, assim como a maioria dos jogadores, claro que, sem incluir Joe Jonhson e seu melhor amigo. Na quarta e na quinta-feira chegamos a sentar na arquibancada durante o almoço para assistir ao treino, foi a forma que encontramos de prestar nossa solidariedade diante do momento tenso e de alta concentração que ele estava passando, os sorrisos enormes que nos direcionou diziam que ele tinha gostado, pelo menos era o que esperávamos.
Ao fim das aulas da sexta-feira, Christin pediu para espera-la no carro enquanto se despedia de Robert, ele me deu um abraço rápido antes de eu ir, coisa que eu estava me acostumando a receber aos poucos, principalmente dele, que parecia fazer questão de demonstrações de afeto corporais. Me encostei na lataria de Bee Movie para aguarda-la depois disso, passando a mão na minha roupa e checando mais uma vez o visual que eu tinha escolhido com a ajuda da minha mãe para o programa de hoje: um suéter cor de goiaba por cima de uma camisa branca de botões sobre o jeans justo e meu par de allstar de estimação.
- Belo carro. - a voz grave cuja eu já era capaz de reconhecer mesmo sem ver o rosto soa em minhas costas. Não demora muito para Dave dar a volta no automóvel e se escorar do meu lado, me fitando por cima do ombro.
- Ele contou com a ajuda de um jogador de futebol solidário. - respondo sentindo os cantos dos meus lábios levantarem sem minha permissão, em uma espécie de sorriso. Mantenho os olhos longe de Dave, focando em um veículo qualquer do outro lado do estacionamento, mas ainda podia sentir seu olhar queimando sobre mim e escutar a risadinha habitual escapar dos seus lábios.
- Sortudo. - ele cantarola e me permito fita-lo rapidamente pelo canto do olho, só por tempo o suficiente para perceber que também estava me olhando e desviar outra vez. - Esperando alguém?
- Christin Londson. - digo simples depois de balançar a cabeça em afirmação.
- Ah, é verdade, eu quase me esqueci que você anda com ela. - pela visão periférica assisti quando ele virou, escorando agora a lateral do corpo no carro e ficando de frente para mim, rotacionei automaticamente meu tronco também, levemente em sua direção. - Resolveu seguir meu conselho? - ele sugere fitando meus olhos com a sobrancelha arqueada.
- Talvez. - respondo da mesma forma que no dia anterior, fazendo questão de encarar seus olhos por um segundo e exibir um sorriso fraco. - Vai me dizer quanto preciso te pagar pelo carro? - pergunto dando um tapinha na lataria do Cherry e cruzando os braços em frente ao peito enquanto esperava sua resposta. Dave apenas sorriu de um jeito difícil de decifrar, parecia estar aprontando algo ou apenas prolongando mais aquele momento para se deleitar às custas do meu sofrimento, em seguida ele olhou na direção da saída da escola. Eu o acompanhei e também pude ver a silhueta esbelta de Christin Londson caminhando em nossa direção.
- Amanhã, às 5 da tarde, me espere pronta na frente da sua casa. - ele fala subitamente me surpreendendo e se afasta de Bee Movie, me olhando ainda com o sorriso nos lábios. Eu precisei de um tempo para processar aquela informação, esse era o jeito nada delicado dele de me chamar para sair? Dave Harris estava me chamando para sair? Só podia ser uma pegadinha, com certeza ele estava aprontando algo bem pior, eu podia enxergar isso nos seus olhos perversos. - E você devia sorrir mais Louis, fica bonita assim. - é tudo o que aquele desgraçado diz antes de virar de costas e sair a passos rápidos de perto de mim.
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Florescer
Teen FictionEssa não é uma história de amor, bom, depende do ponto de vista. Eu diria que essa é a história de como eu me perdi e me encontrei sozinha, de como eu precisei sofrer para aprender a me colocar em primeiro lugar e de como eu precisei abrir mão de al...