(Para uma melhor experiência, dê play na música "These Days" da banda Wallows na playlist "Florescer" no Spotify ou no link acima quando a Anna entrar no carro.)
A segunda-feira amanheceu mais nublada que o normal, o clima frio me fez repensar várias vezes o casaco que eu vestiria em frente ao espelho, colocando e retirando peças variadas até decidir, por fim, colocar minha jaqueta puffer marrom escura por cima de uma blusa bege de lã. Prendo os cabelos em um rabo de cavalo e jogo a mochila nas costas antes de descer as escadas em direção a cozinha.
O fim de semana havia sido agradavelmente normal, sem idas ao cinema ou amizades inesperadas, era apenas eu trancada no meu quarto ou na sala assistindo filmes com a minha mãe e, por sorte, não precisei acompanha-los à igreja no domingo depois de inventar a desculpa que estava sentindo uma dor de cabeça tremenda. Fiquei decidida a passar as horas sozinha em casa relendo minhas partes preferidas de "O Morro dos Ventos Uivantes", mas, enquanto meus olhos passeavam pelos títulos dispostos na prateleira em cima da minha cama, acabei escolhendo um título diferente. Orgulho e Preconceito não era um dos meus livros favoritos, mas a implicância repentina de Mr. Darcy com Elizabeth Bennet me fez lembrar a situação em que eu me envolvia ultimamente. Depois de ler alguns capítulos e começar a me questionar por que as mulheres ficavam fixadas por homens arrogantes e de autoestima elevada, percebi que já estava próximo ao horário dos meus pais voltarem e para meu álibi ser bem feito, eu precisaria estar dormindo. Foi assim que acabei meu final de semana: dormindo cedo no domingo para sustentar uma mentira. Reconfortante.
O relógio de ponteiros acusava ser exatamente 7:50 da manhã, horário limite para que eu saísse de casa e chegasse na escola com alguma folga. Estava repensando a importância de tomar o café da manhã quando escutei a voz da minha mãe soar da cozinha:
- Nem pensar, pode beber, eu já coloquei o seu. - soltei um suspiro e sem poder questionar, caminhei até o balcão pegando a caneca de porcelana nas mãos.
- Bom dia pra você também mãe. - digo com um tom levemente irônico enquanto virava o líquido garganta a baixo. Ela tinha razão, o café com leite quente adentrando meu corpo e esquentando deliciosamente meu estômago seria a melhor decisão que eu tomaria naquela manhã.
- Preparada para ir para escola e encontrar seus mais novos melhores amigos? - as palavras saem da boca de Ally apenas para me provocar, eu podia ver seu sorrisinho vitorioso enquanto me observava beber o conteúdo da xícara. Ela ainda estava apenas de pijama com um hobby grande por cima, os cabelos presos em um coque frouxo sobre a cabeça, mas mesmo assim parecia estar mais disposta que um batalhão militar inteiro ao acordar às 5 da manhã.
- Que engraçada. - resmungo batendo a xícara vazia no balcão e respirando fundo antes de lhe lançar um sorriso.
- Até mais tarde. - aviso com um aceno antes de virar as costas e caminhar em direção a porta, ouvindo apenas um "Eu amo você" distante no percurso até a saída.Do lado de fora o vento gelado acariciava minhas bochechas me fazendo soltar uma lufada de ar. Eu não era muito fã de temperaturas extremas, gostava do meio termo, nem frio, nem calor, não era atoa que a primavera e o outono eram as minhas estações preferidas: quando tudo começava a florescer e quando tudo começava a desaparecer. Bee Movie estava estacionado em frente à garagem como sempre, caminhei até o carro pegando a chave do bolso de trás da calça para destrava-lo. A casa vizinha estava absurdamente quieta, a picape preta descansava parada no seu lugar habitual, nada que fosse capaz de me surpreender, ele tinha mesmo cara de quem não se importava em chegar atrasado. Do lado de dentro do automóvel a primeira coisa que fiz foi ligar o aquecedor e esfregar as mãos uma na outra para se aquecerem por puro hábito, aproveitando alguns segundos de ar quente antes de colocar a chave na ignição.
Giro a primeira vez tentando normalmente ligar o carro, mas o ronco habitual do motor ao receber combustível e vida não veio. Arqueei uma sobrancelha e cheguei a colocar meu cinto de segurança antes de tentar uma segunda vez. Nada. Começo a ficar preocupada, eu chegaria atrasada se fosse de ônibus e tinha certeza que levaria a maior bronca de Sam por estragar o carro. Batuco os dedos no volante e tento mais uma vez. Nada. Retiro a chave, coloco de volta, giro outra vez. Nada.
- Merda, merda, merda, merda. - murmuro baixinho quase em uma prece enquanto abro a porta para sair do veículo aquecido e dar a vota no mesmo, levantando o capô para checar se havia algo de errado.
Bom, até poderia haver, mas eu não entendia absolutamente nada sobre motores de carros e semelhantes para deduzir o que poderia ser.
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Florescer
Teen FictionEssa não é uma história de amor, bom, depende do ponto de vista. Eu diria que essa é a história de como eu me perdi e me encontrei sozinha, de como eu precisei sofrer para aprender a me colocar em primeiro lugar e de como eu precisei abrir mão de al...