- Lucy... - Eu tentava calmamente acordar Lucy do sofá da minha casa, balançando o seu corpo com a pouca força que meu braço tinha matinalmente. Só não diria que ela era uma pobre coitada naquela posição porque eu havia simplesmente dormido no tapete da sala, destroçando minha coluna. Aos poucos minha amiga acordava e abria os olhos, ainda sem mexer nenhum músculo do corpo. - Trabalhar. - disse apenas e me afastei do sofá, alongando os membros. A sala estava uma completa bagunça, de caixas de pizza a papéis referentes ao trabalho, além de pipoca, refrigerante e uma montanha de DVD's que havia desabado. Não foi previsto que passássemos o sábado e o domingo juntos e, muito menos, que Lucy dormisse na minha casa. Mas simplesmente havia muito para se conversar, muito para se discutir e o tempo passava muito rápido, tanto que mal percebemos quando durante o último filme, fechamos os olhos e dormimos. Estávamos exaustos. Principalmente porque no domingo tivemos de providenciar a impressão da revista sozinhos, visto que os dois chefes folgados estavam afogados numa ressaca impossível desde que souberam das más notícias. Quando finalmente Lucy moveu um músculo para se levantar, a segurei pelos braços e ajudei a ficar de pé.
- Estou com dor de cabeça. - Disse com as mãos sobre a testa.
- Vou te arranjar um analgésico. Pode ir tomando um banho, tem toalha extra no banheiro.
- Obrigada, Lou. - Ela disse, dando passos tortos pelo corredor até o banheiro, onde se trancou.
Eu olhava para a bagunça da sala e pedia com todas as minhas forças que a empregada resolvesse vir e fazer a arrumação daquilo sem reclamar. Fui ao quarto, separar roupas para mim e para Lucy. Sabia que seria difícil encontrar roupas minhas que dessem nela, afinal, ela era mulher e eu, um homem. Escolhi então uma roupa que não parecesse tão masculina nela, e separei em cima da cama. Também separei a minha roupa e sapatos para ambas; alguns acessórios, dois sobretudos não muito quentes e disponibilizei maquiagem básica caso Lucy precisasse. Eu não sei ela, mas eu precisava estar bem hoje. Tinha planos para a noite.
[...]
- Você tem carro? - Lucy me perguntou. Estava simplesmente esplendida com a roupa escolhida, os cabelos tinham sido presos pela primeira vez desde que a conheci. Eu respondi à sua pergunta negativamente. Eu ainda não tinha condições de ter carro, já bastasse o apartamento que havia me custado anos de trabalho, um carro na capital inglesa me custaria mais um financiamento que eu temia não ser capaz de arcar. Além do mais, eu nunca me importei em pegar metrô para chegar até o prédio da revista.
- Louis Tomlinson, coordenador do departamento de design não tem carro? - Ela perguntou incrédula. - Não consigo acreditar. Pensei que tínhamos saído de táxi ontem porque você estava com preguiça de dirigir ou sei lá.
- Nossa... Não sei porque essa incredulidade. Por acaso a senhorita tem carro?
- Não... Mas aí é porque meu salário não deixa. Eu ainda nem consegui sair da casa da minha mãe! - Nós rimos, até sermos interrompidos pelo meu estômago, que roncou como um urso que acabou de sair do período de hibernação.
- Vamos ter que comer fora. Aqui não tem comida. - Eu disse, pegando minha bolsa e abrindo a porta de casa.
- É o jeito, né? - Lucy disse - Você é um ótimo anfitrião, mas péssimo dono de casa. - Falou e eu ri baixinho com a conclusão dela.
Pegamos o metrô até o prédio em que trabalhávamos e comemos algo na Starbucks da esquina, sem se importar com o horário; ainda era cedo. Apenas nesse momento eu percebi que meu relógio biológico havia funcionado pela primeira vez em tempos. Havia acordado sozinho e na hora certa. Mesmo agora tendo a certeza de que o Styles não encheria meu saco por ter chegado minimamente atrasado. Eu perguntava-me qual seria a reação dele diante do que acontecera entre nós dois; ele sabia com quem ele havia ficado naquele dia, mas não imaginava que eu soubesse que o Coringa era ele, apenas isso. Será que mesmo assim ele me trataria daquele mesmo modo grosseiro e superior? Eu apenas sanaria minhas dúvidas caso entrasse no escritório da revista pós-festa-fracasso, em mais um dia de trabalho.
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My two bosses
Hayran KurguE se eu dissesse que estava em dúvida, poderia estar mentindo, ou não. Eu sabia que era apenas falar, dizer, fazer soar aquelas palavras e, enfim, escolher um deles. Mas como conseguiria escolher? Minha sanidade estava comprometida demais depois de...