XLVI - Letter to Thom

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          Naquele dia Thomas passara quase que a manhã toda indo a diferentes casas de comércio à procura de um novo emprego. Fora em supermercados, lojas de roupas, perfumarias, bibliotecas e até mesmo em alguns restaurantes, não que soubesse cozinhar, mas podia oferecer seus serviços como garçom. Esperava verdadeiramente que fosse chamado para qualquer emprego no qual se apresentou como candidato, estava há quatro dias desempregado e por mais que sua mãe lhe dissesse que estava tudo bem, não parecia realmente estar. O sol estava forte e ele sentia-se suar por debaixo da camisa social preta que vestia, mas aquilo não lhe era um problema agora, finalmente chegara em casa depois de horas caminhando a pé por entre as ruas comerciais de Los Angeles. Observou a casa pequena que agora dividia com sua mãe, um sobradinho de dois andares pintado em um bege claro com janelas e portas decoradas com a madeira firme e escura, as cortinas brancas de renda que podiam ser vistas através das janelas deixavam a casa humilde com um ar familiar, além do jardim bem cuidado, repleto de violetas e orquídeas, alguns arbustos aqui e ali e o caminho de pedras que levava até a porta da residência. Ao começo da trilha de pedras podia-se ver a caixa do correio, erguendo-se do chão em um cinza escuro, o pequeno pedal vermelho levantado indicava que a correspondência chegara novamente e ainda não fora retirada. O rapaz de cabelos castanhos claros, quase louros, caminhou a passos lentos até ali e apressou-se em começar a abrir a caixa, ou melhor, tentar abrir. Sempre tivera problemas com caixas de correio instaladas no chão, preferia claramente aquelas que ficavam na porta das casas e precisavam simplesmente de um puxão para que fosse aberta, sem nenhuma trava estranha igual a aquela com a qual Thomas lutava agora. Puxou-a para um lado, nada. Para frente, nada de novo. Para o outro lado, nada também. Por fim, pensou que se tentasse rodar a trava poderia ter algum avanço, e assim o fez, a caixa do correio resmungou um "tec" baixinho antes que o garoto pudesse vê-la abrir vagamente. Ele enfiou os dedos esguios para dentro do compartimento escuro e puxou os envelopes para fora dali ao envolve-los com uma das mãos, ao todo eram seis ou sete envelopes, provavelmente todos endereçados à sua mãe. O rapaz acreditava que nenhum daqueles envelopes passava de contas e mais contas, mas ainda assim, ajeitou-os sobre as mãos para que pudesse passa-los um a um e descobrir o máximo que pudesse sobre seus conteúdos, bisbilhotar a correspondência era uma mania da qual nunca se desapegara. O primeiro deles era uma conta de água endereçada à sua mãe, Thomas colocou-o atrás do monte de envelopes, o segundo era uma conta de luz, também endereçado à sua mãe, o terceiro a conta do cartão, desta vez, tinha o seu nome como destinatário já que anos atrás, seu pai lhe presenteara com o cartão de crédito, mas ainda assim, era responsabilidade de sua mãe pagá-lo, o quarto envelope dizia algo sobre divórcios, aquele definitivamente era de sua mãe também. O quinto chamou-lhe a atenção, era destinado a ele "Thomas Brodie-Sangster", a caligrafia era firme apesar de ser também um pouco torta, escrita com uma caneta esferográfica preta, não era impresso nem carimbado igual aos outros, vasculhou o envelope atrás do remetente e sentiu seu coração parar por alguns segundos ao que encontrou. No mesmo envelope destinado a si, com a mesma caligrafia firme e torta, Thomas podia ler "Dylan O'Brien" assinado na lacuna do remetente. Não se deu o trabalho de ver sobre o que se travava o último envelope antes de correr em direção à porta de sua casa, destrancá-la e adentrar a mesma. Deixou os outros cinco envelopes sobre a mesa da sala de jantar e subiu as escadas correndo em direção ao seu quarto, sua mãe chegaria dentro de algumas horas e checaria as correspondências que o filho recolhera da caixa do correio. Ele sentou-se apressado sobre sua cama com o envelope ainda em mãos e pela primeira vez desde que entrara em casa, reparou que Morfeu, o gato acinzentado de olhos verdes que aparecera na sua vizinhança há alguns dias havia adentrado em sua casa junto a si. Sabia o quanto sua mãe detestava o pequeno animal por conta dos pelos que o mesmo soltava por toda a casa quando entrava ali, mas entre tira-lo de dentro da casa e abrir o envelope para que finalmente pudesse descobrir o que havia dentro dele, Thomas optou pela segunda coisa.

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