Capítulo 1

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Já não se importava com seu tesouro roubado. Naquele momento abriria mão até de sua vingança. Queria apenas ter de volta suas asas, e não figurativamente. Mácula, o mais poderoso e cruel Dragão Azul era agora um simples humano.

Deitado na relva olhava para o céu, sentindo um gosto salgado na boca. Pela primeira vez em sua vida chorava e se sentia impotente... foi quando ouviu um uivo e antes que se desse conta estava cercado por uma alcatéia. Eram 6, os lobos que se aproximavam, pata ante pata, com os dentes a mostra, como em um sorriso de escárnio.

Por puro instinto, sacudiu o rabo para lançá-los longe. Não funcionou. Tentou mais uma vez com igual resultado. Foi quando lembrou de sua situação e experimentou o terror pela primeira vez.

Abriu a boca para lançar seu jato de raios, mas a única coisa projetada fora um grito de desespero. O primeiro lobo pulou em seu peito mirando sua traquéia. O bafo de carne crua entrou em suas narinas causando-lhe náuseas, e então caiu morto... o primeiro lobo. Com uma flecha atravessada de uma ponta à outra de seu pescoço. O seguinte morreu com uma haste de madeira separando seus olhos.

Mácula, ouviu então um grito de guerra que conhecia bem, um guerreiro surgido das árvores, igual a todos os outros que ele já havia matado, avançou contra os lobos os pondo para correr.

O ex-dragão se colocou na defensiva, com as patas no chão e o rabo torcido para a direita, pronto para atacar.

O grupo surgiu por inteiro. Um elfo, com um arco nas mãos, um humano fracote, com um cajado e uma capa com capuz brancos e um anão, além do guerreiro que retornava de sua perseguição aos lobos.

O anão foi o primeiro a falar:

- Eu disse para não nos metermos nisso. Ele está pelado e agora empinou a bunda! Fico pensando em como ele vai querer te recompensar Kant. - Disse soltando uma gutural gargalhada.

- Deixe de ser bobo, Zet! - Replicou a elfa, que agora Mácula percebia tratar-se de uma fêmea. - Ele até que é bonitinho.

O ex-dragão, se levantou e ergueu o queixo de maneira orgulhosa. Apesar das idéias ainda estarem confusas em sua cabeça, percebeu sua situação, estava no corpo de um frágil humano, o que não significava que se sentiria menosprezado por aqueles seres insignificantes. Ainda não conseguia entender o que se passara, ou mesmo como havia vindo parar em uma floresta. Sua última lembrança era de estar em sua caverna no sopé de uma montanha no deserto... mas não era momento de pensar nisso, tinha uma situação mais preemente para resolver agora.

Percebeu que eles falavam a língua comum dos humanos e então pigarreou se preparando para falar-lhes naquele idioma, mas quando soltou o ar projetou apenas um arquejo. Não se deixou abater, fechou os olhos, sentiu sua língua em sua boca se concentrou e conseguiu falar:

- Muito bem bípedes. O que desejam agora?

Os heróis se entreolharam. Foi Zet, o anão Paladino, quem novamente quebrou o silencio.

- Nem um muito obrigado? E que história é essa de bípedes? Kant, por favor busque aqueles lobos de volta.

- Ora, ora, não seja tão canalha, Zet. - Voltou a falar a arqueira. - Tudo bem que também achei estranha a fala dele, mas depois de quase ser morto daquele jeito deve ser normal, atribuo a princípio isso ao nervosismo.

- Não tenho nada a agradecer, estava tudo sobre controle. - Falou lançando um olhar frio para a elfa, que enregelou.

Antes que houvesse resposta ouviu-se um baixo murmúrio direcionado à elfa. Que quase se engasgou rindo.

- Deixe isso para lá. Nossa Clérica acabou de pedir que coloque uma roupa. Hahahaha. - A clérica, olhava de soslaio para o nu desconhecido com a face enrusbecida.

O anão também gargalhou e se dirigiu a carroça escondida entre as arvores, voltando pouco depois com um gibão e botas. - Coloque essas roupas, elas são do Kant, devem ficar um pouco largas em você, mas devem ser melhores que as minhas, a não ser que prefira uma das roupas das meninas, o que eu não estranharei tendo em vista seu rebolado. - Voltou a rir copiosamente.

- Não pretendo me misturar a vocês.

- Haverá tempo para discutirmos mais tarde. - Disse Kant, o protótipo de herói, com seus cabelos loiros na altura dos ombros e olhos verdes decididos. - Temos que nos dirigir para o ponto de encontro logo, a batedora deve estar chegando. Desejo chegar na vila antes do anoitecer. Vista-se estranho e suba na carroça logo.

- Espere Kant. - Disse o anão - Ainda não concordamos em levar esse cara conosco. Ele pode ser perigoso.

- Ora, Zet. Será que estou percebendo medo em suas palavras? - Disse a elfa debochadamente. - Estará nosso grande pequeno paladino com medo de um jovem desarmado que acaba de quase ser devorado por simples lobos?

- Não tenho medo de nada! É bem verdade que uma pessoa fraca como essa não pode representar perigo mas...com mil diabos! Tudo bem, vista-se logo naturista.

- Não pretendo ir com vocês, principlamente para uma aglomeração de humanos.

- Tudo bem. Daremos uma faca para que fique aguardando o retorno dos lobos ou do que mais se esconda nesses bosques.

Mácula pensou rapidamente sobre o assunto. Até conseguir recuperar sua real forma, talvez fosse melhor estar protegido no meio de um grupo como aqueles. Mas assim que possível todos eles pagariam por aquela humilhação. Devoraria cada um, pedaço por pedaço, ao longo de vários dias.

- Tudo bem, irei com vocês. - Disse baixando a cabeça e fechando os olhos.

- Quanto melhor. Você é bem esquisito, mas até que não é tão burro.

A carroça partiu com ele deitado na parte de trás juntamente com o anão e a Clérica que continuava olhando para ele disfarçadamente. Quando percebeu e olhou para ela a menina novamente enrusbeceu e virou o rosto para o outro lado.

Deu um longo suspiro, fechou os olhos e começou a tentar lembrar o que havia ocorrido. Chegaram a um declive, onde a batedora do grupo, uma moça de pele morena, cozida pelo sol e cabelos curtos os esperavam. De lá de cima via-se a vila a beira mar à que se dirigiam.

A batedora se juntou a eles na parte de trás da carroça e ficou também o encarando e sustentando seu olhar, mas sem dizer uma única palavra. Quando pensou em falar-lhe algo sentiu um arrepio na espinha.

Pairando no ar, estava um dragonete vermelho que repentinamente desceu em posição de ataque em direção a ele e ao grupo...

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Galera inicio essa nova série, aguardo seus comentários e sua ajuda na divulgação, para que me mantenham motivado a dar prosseguimento a ela, afinal ninguém gosta de escrever para não ser lido. Um forte abraço e aguardo vocês no capítulo 2.

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Mácula - Dragão AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora