Kant

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Tamyla ouviria muito assim que a encontrasse. Não devia tê-lo deixado para trás. Torcia que ela e o outro idiota ainda estivessem vivos e se possível ilesos. Não sabia se daria conta sozinho de um lobisomem, se fosse mesmo esse o caso, em um ambiente escorregadio como aquele. Um simples deslize poderia ser fatal. Até onde sabia a licantropia era uma doença transmitida pela saliva e outros fluídos do monstro. Não desejava passar o restante de sua vida uivando para a lua e nem ter que enterrar ossos, dos companheiros.

Viu uma luz e tentou se apressar.

Chegou a tempo de ver Mácula em sua estranha pose de batalha. Seus cabelos novamente tomados pelo azul. Não havia notado antes mas seu corpo irradiava uma luz da mesma cor dos cabelos que iluminava melhor que sua tocha o recinto.

Viu então o monstro. Ele estava parado em posição semelhante ao adversário. Era uma das criaturas mais feias que já vira, mas o que o fez gelar e blasfemar contra todos os deuses foi a ferida aberta no flanco de seu companheiro. Previu que quem quer que fosse o vencedor daquele embate a sua espada teria que ser usada.

O monstro atacou primeiro com as garras visando a jugular do outro. O movimento foi parecido com o que ele já havia utilizado no bar. Jogou o tronco para trás e acertou um potente chute no queixo, ou algo assim, da criatura que foi atirada contra a parede, onde ficou por alguns segundos, balançando a cabeça como a tentar entender o que havia acontecido.

Mácula não esperou sua recuperação e saltando acertou a criatura no plexo solar com uma joelhada. Uma garra gigantesca tentou revidar mas foi facilmente esquivada com um simples dobrar de joelhos. Agora na altura do abdômen do monstro Mácula passou a desferir uma série de golpes, com suas unhas crescidas, na barriga purulenta. Quando veio um novo ataque com as duas garras o jovem simplesmente saltou para trás retomando a distância.

Os dois começaram então uma espécie de baile. Mácula se esquivando dos ataques com extrema agilidade e contragolpeando com golpes precisos mas que pareciam causar pouco estrago.

- Tamyla. Ele foi mordido?

- Não. Quer dizer, não sei, acho que não.

- Foi ou não.

- Acho que não. Só vi sangue nas garras dessa coisa, não vi nada na boca.

Kant tomou então uma decisão. Viu que os ferimentos do monstro cicatrizavam quase tão rápido quanto Mácula conseguia causar. Continuando daquela forma ele certamente cansaria e o monstro sairia vencedor.

- Preste atenção Tamyla. Distraia-o que eu vou pegá-lo por trás. - Desembainhou a espada de dois gumes. Um deles era de aço temperado o outro de prata, feito para aquele tipo de oponente.

Começou a girar mas não teve tempo de colocar o plano em ação. A criatura deu golpe mais longo e Mácula se aproximou desviando e terminando sem espaço quase encostando com o rosto no peito da criatura. Suas pernas se trançaram e três fileiras de dentes afiados se fincaram na pele.

O tempo pareceu parar. Tamyla soltou um grito, Kant um palavrão, mas Mácula apenas sorriu.

- Te peguei. - Dizendo isso deu um golpe seco com a mão direita e o monstro tremeu, deu dois passos para trás e caiu de joelhos. Nãs mãos de Mácula o coração da criatura ainda pulsava. Seu sorriso era assustador. Com as garras da outra mão perfurou a jugular da criatura. O sangue apenas escorreu sem o coração para bombeá-lo. E o monstro finalmente foi ao chão sem vida.

Tamyla e Kant estavam estáticos olhando para o guerreiro de cabelos azuis, que sem nenhuma arma acabara de derrotar de forma brutal uma besta. O sorriso que ele apresentava era doentio, mas pouco a pouco começou a ceder, assim como seus joelhos e a cor de seus cabelos. Passados alguns segundos ele estava desacordado no chão já sem nenhum tom azulado ou luz a emanar.

Mácula - Dragão AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora