Mácula

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Presente



Acordou mas não abriu os olhos. Sentia que estava sendo observado.

- Você não precisa disfarçar. Dá pra ver que já acordou por sua respiração .

Mácula não sabia se era apenas um blefe, mas a curiosidade de saber quem era, já que não conseguia ainda distinguir a voz dos humanos, foi mais forte.

- Assim é melhor. Prefiro falar com as pessoas me olhando nos olhos... embora isso quase nunca aconteça. - Riu da própria piada o anão.

Teve como resposta apenas o olhar sério do rapaz amarrado por grossas correntes encostado em uma árvore.

- Apenas queria bater um pouco de papo. Nem pense em fazer nada. Como já deve saber nós anões somos imunes à magia e minha maça pode acabar o serviço que começou mais cedo.

Mácula apenas moveu seu maxilar de um lado para o outro. Embora ainda dolorido estava inteiro. Talvez seus ossos não fossem tão frágeis como supunha ou golpe não fora tão forte. De qualquer modo o fato de ter desmaiado comprovava que o corpo humano era realmente muito fraco.

- Acabei dando sorte. Tamyla esteve te observando por todo esse tempo, finalmente não aguentou e foi dormir um pouco. De qualquer forma.Eu ouvi parte da conversa. O restante me contaram. Quer dizer que você diz ser um dragão azul?

- Sou Mácula. Não um simples dragão azul.

- Ok, ok. Tanto faz. O fato é que sempre tive uma dúvida que me corrói a cabeça.

Apenas um olhar para que prosseguisse.

- Os dragões de forma geral tem fama de guardar tesouros. É verdade?

- Sim.

- Você tinha um?

- O maior.

- Para que?

- Como assim?

- Para que guardar ouro e pedras preciosas?

- Porque elas são bonitas e vistosas, ora.

- Só por isso?

- E para que mais?

- Os ditos povos civilizados e até alguns bárbaros acumulam essa riqueza para trocar por outras coisas.

- Que outras coisas?

- Comida, armas, pagar por serviços, esse tipo.

- Não precisamos de armas ou serviços dos outros e se quisermos comida a obtemos por nós mesmos.

- Então não vejo sentido em guardar essa riqueza.

- Nós as achamos bonitas, já disse.

- Até entendo as pedras preciosas mas moedas de ouro são bonitas?

- São brilhantes.Você deve entender, afinal não tive como deixar de notar que possui um dente de ouro. - Não apenas notara que o incisivo central dele era de ouro como se perguntou se poderia trocar todos os seus dentes por alguns como o dele, mas tirou a ideia da cabeça rapidamente. Não pretendia ficar muito tempo naquele corpo.

- Isso? - Tocou o dente. - Culpa do Kant.

- Vocês brigaram? Que interessante.

- Nada disso. Ele jamais conseguiria fazer isso comigo. O idiota não viu o martelo do ciclope que enfrentávamos e ia ser esmagado. Tirei ele da frente e acabei levando a marretada na fuça. - Gargalhou.

- E seu dente caiu com isso.

- Antes fosse. Ele apenas rachou. O problema é que com o passar dos dias ele foi ficando preto e cheirando mal. Kant para se desculpar me levou a um barbeiro. O imbecil ficou comigo na cadeira mais de seis horas! E tudo sem uma gota de álcool! Acho que da próxima vez arranco o dente eu mesmo, se preciso com uma faca e junto com um pedaço da gengiva. Deve doer menos. Mas voltando ao assunto.

Mácula - Dragão AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora