Vinha sendo inútil. O dito rapaz dragão não tinha jeito com nenhuma arma.
Durante toda a viagem vieram tentando treiná-lo. Kant havia tentado com espadas, Tamyla com o arco, Auriel com as adagas não estava tendo mais sorte.
- Você poderia tentar também, Zet. Quem sabe ele se saia melhor com um machado. - Puxou papo sentando ao seu lado o guerreiro. Ambos observavam Mácula ser desarmado continuamente e por diversas vezes se cortar ao tentar segurar as adagas na posição correta.
- Ele não consegue aparar um golpe com uma espada, acha mesmo que conseguiria segurar uma arma mais pesada? Além disso sabe que prometi nunca mais voltar a usar um machado.
- Isso já faz o que? Uns dois anos? Acho que já é tempo de rever seus conceitos, duvido que haja alguém nos seguindo ainda. As lutas que viremos a travar serão duras, não acho que possamos deixar de contar com suas verdadeiras habilidades.
- Fiz uma promessa.
- Não será a primeira vez que mentirá na vida.
- Não quero correr o risco. As consequências seriam sérias demais para mim.
Os dois ficaram olhando para Mykaela que curava mais um dos cortes profundos que Mácula se auto-inflingira.
- Mudando de assunto, Kant. Quando vamos ser recebidos? Já estamos acampados aqui fora há algumas horas. Nos prometeram um banquete quando chegássemos. - Haviam chegado antes do amanhecer na base da resistência após mais de uma semana de viagem.
- É normal. O comandante da resistência disse que tem uma missão especial e quer conversar conosco pessoalmente antes de qualquer um, mas antes tem que tratar de outros assuntos, para não correr riscos de sermos interrompidos.
- Você acredita nisso? Já conheceu o comandante?
- Ainda não o conheci. Dizem que tem mais de oitenta anos. Provavelmente apenas dorme de mais como todos os velhos.
- Oitenta anos não é muito dependendo da raça. Ele é humano?
- Poucos sabem. A sua identidade é mantida em segredo até para os soldados por motivos óbvios de segurança.
- O que a Tamyla está gritando? - A elfa dava pulos e assobios, levantando os braços enquanto pulava para lhes chamar a atenção. Quando percebeu que havia sido notada fez um gesto para que a seguissem. Os dois deram de ombros e obedeceram.
- O que houve?
- Vocês precisam ver ou melhor ouvir isso.
Andaram até ver um grande círculo de pessoas se acotovelando, mas antes mesmo de verem a aglomeração ouviram a mais bela canção já tocada em uma flauta. Abriram caminho pelas pessoas curiosos de ver quem tocava. Demoraram alguns minutos, Zet um pouco mais, para terem a visão do bardo. Tratava-se de um homem com cabelos grisalhos na altura dos ombros, embora com um início de calvice na fronte. Segurava a flauta com ambas as mãos, estava em pé com apenas uma perna, a outra encontrava-se dobrada com o pé apoiado no joelho da perna esticada.
Ouviram os murmúrios dos espectadores que questionavam quem era ele. Aparentemente ele havia chegado dois dias antes junto com um dos capitães após ter lhe salvado a vida.
Enquanto ainda estavam enebriados pela canção, Zet sentiu uma mão tocar em seu ombro e virou-se para ver quem era.
- Zet!
- Pianar!
Os dois anões se abraçaram, dando tapas fortes como socos nas costas um do outro.
- Vejo que já se encantou com o Ian também.
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Mácula - Dragão Azul
AventuraUm antigo Dragão Azul , um dos mais orgulhosos, solitários e maléficos de todos os dragões, vê-se transformado em um simples ser humano e começa sua jornada por vingança e para recuperar tudo que lhe fora roubado.