Capítulo 2

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O dragonete que saltara em sentido ao grupo chocou-se com a parede invisível erguida, magicamente, por Mikaela, a Clérica do grupo. Bateu as asas atrofiadas para amortecer a queda, causada por ter sido repelido para trás. Arreganhou os dentes e se preparou para um novo ataque.

-O que é isso? Um dragão perto da cidade? - Gritou Zet.

-Não seja tolo. Isso é apenas um dragonete, geralmente suas asas são tão atrofiadas que não permitem voar grandes distancias, são como grandes galinhas com escamas. - Respondeu professoralmente Kant.

-Então é a galinha mais feia que já vi na vida! - Disse cuspindo no chão o anão.

-Preparem-se! Ele vai atacar de novo. Mikaela não vai conseguir levantar outra barreira por alguns minutos. - Gritou a elfa já no alto de uma árvore apontando o arco.

Foi quando todos notaram que o estranho que encontraram na estrada havia se levantado e estava a menos de 10 passos da criatura.

-Saia daí seu inútil! - Gritou o anão.

O sangue de Mácula fervia de ódio. Ser atacado por um serviçal inferior, como um dragonete, era mais do que podia aceitar. Seus olhos de um azul profundo brilhavam e o dragonete ao vê-los começou a guinchar aterrorizado, mas antes que pudesse fugir a assassina (e batedora) Auriel pulou de uma árvore atrás da criatura golpeando seu pescoço com seus dois punhais. O monstro jogou seu corpo para trás deixando o campo de visão limpo para um tiro certeiro da arqueira em seu coração. O serviço foi finalizado pela maça do anão e a espada do guerreiro. Em poucos segundos o monstro jazia desmembrado no meio da estrada.

- Tivemos sorte. Ele se distraiu com algo. Talvez com a idiotice desse rapaz que vocês trouxeram. - Mácula ouviu pela primeira vez a voz da assassina. - Essa luta poderia ter sido muito mais difícil se não fosse por isso. Bem, ao menos agora teremos algum espólio para vender na cidade.

A assassina não tirava os olhos de Mácula, olhando-o de forma acusatória. "Ela está desconfiando de algo"- Pensou Mácula - "Melhor eu ter cuidado com ela... não cheguei a vê-la até que já estava caindo sobre aquele dragonete infeliz. Talvez meus reflexos e minha visão tenham enfraquecido tanto quanto meu poder".

Pouco mais de uma hora depois, chegaram à vila e se dividiram. Kant, Mikaela e Auriel foram vender o couro do dragonete e comprar suprimentos, enquanto os demais se dirigiram para a pequena taverna.

A vila Tartaruga, tinha seu nome não pelo formato, nem pelos animais ali presentes, mas por tratar-se de animal que pode viver tanto na terra quanto no mar, nome apropriado para uma vila que ficava encrustrada entre as montanhas, a floresta e o mar.

Já era final de tarde e a taverna começava a encher com os clientes contumazes. Pescadores, caçadores e criadores de cabras. Todos olhavam admirados para o grupo. A pequena vila não era caminho de nenhuma rota de comércio e raramente recebiam visitantes. A taverna fazia as vezes de única estalagem do local , mas só possuía 2 quartos sem camas suficientes para todos. O grupo discutiu com o taverneiro sobre o assunto e após os pescadores locais terem apartado a briga que quase começou quando o taverneiro sugeriu colocar uma cama de criança extra no quarto para Zet, acabaram decidindo ficar com os dois quartos com as mulheres utilizando as camas e os homens dormindo no chão.

- Bumbum! - A elfa gritou chamando pelo carinhoso novo apelido de Mácula. - Você ficará no quarto conosco?

- Que idéia imbecil é essa, Tamyla? - Zet, berrando.

- Ora, o que você espera? Aposto que ele não tem dinheiro para pagar uma estalagem, afinal quando o encontramos ele não possuía onde guardá-lo. A não ser que tenha posto... - Colocou tres dedos na boca fingindo segurar uma risada, inflando as bochechas.

- Hahaha. Tudo bem, não precisa disfarçar, já sei bem qual a sua real intenção, mas já aviso que se não me deixar dormir eu vou arrancá-los do quarto a pontapés.

Os novos companheiros discutiam, mas Mácula não lhes dava atenção. Percebera apenas naquele momento um espelho encostado em um canto da parede a oeste. Dirigiu-se para lá vagarosamente. O grupo parou de falar ao vê-lo mais uma vez agindo de forma estranha e acompanharam com os olhos o seu movimento.

O que não queria acreditar estava à sua frente. Abriu a boca e fechou sem emitir nenhum som, ao ver seu novo rosto pela primeira vez.

Mácula - Dragão AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora