Will

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Trinta anos atrás

- Por que as outras crianças não brincam comigo?

- Já disse para você não ligar para elas. São todas bobas, sentem inveja de você.

- Eu odeio todas elas.

- Não diga isso. - Disse a mãe do pequeno William, afagando seus cabelos. - Você é meu heroizinho. O filho da Deusa. Você ainda vai proteger todas essas pessoas. Meu pequeno Ja'Kar.

- O que é isso?

- Ja'Kar, significa "aquele que salva, o salvador", no antigo idioma élfico.

O menino deu um grande sorriso. Aprovando o nome.

- Agora vá. Vou começar a preparar o jantar. Vá buscar água para a mamãe na fonte.

O jovem Will sem pestanejar saiu correndo para cumprir sua missão. A mãe ficou um longo tempo parada olhando a porta aberta que seu filho deixara. Apesar das muitas dificuldades que passavam seu filho não perdia aquela energia contagiante. Era quem a movia a frente independente de qualquer coisa.

Will seguia pela beira do bosque que ladeava a pequena vila. Diziam os antigos que a cidade fora construída aproveitando um antigo povoado elfico que havia sido encontrado abandonado e por a floresta estar acostumada aos antigos moradores fornecia tudo de que precisavam. Nunca faltavam frutas e os animais muitas vezes vinham sozinhos até eles para serem abatidos e usados como alimento ou como fonte de roupas. Viviam bem, em comunhão com a natureza. A única interrupção daquela paz fora há sete anos, quando os soldados do rei vieram convocar os homens jovens para lutar contra os invasores, isso incluía Trakatar, o marido de Lysa, a mãe de Will, mas ele não sabia nada disso e foi com surpresa que, enquanto batia com um galho, que fazia as vezes de espada, no tronco de uma árvore, viu um grupo de cavaleiros armados se aproximando.

Subiu em uma árvore para enxergá-los melhor, imaginando se tratar de algum grupo de viajantes perdidos que como de hábito não enxergariam a vila escondida por frondosas árvores e vasta vegetação.

Para sua surpresa eles pararam bem de frente ao portão em forma de casca de árvore e sua entrada foi autorizada.

Ele desceu da árvore e esquecendo do balde de água caído no chão, voltou para a praça para verificar o que ocorria, tal qual o guardião que pretendia ser.

Quando se aproximou da praça escutou gritos, choros e soluços. Apertou o passo pressentindo o perigo e prevendo que seu momento de salvar a população e finalmente ser aceito por eles chegara, mas ao chegar mais perto viu que as pessoas se abraçavam e parou atônito ao perceber que uma das pessoas era sua mãe, abraçada a um homem alto e calvo, de barba loira. O rosto do homem parecia feito de pedra e ele não retribuía o afeto, mantendo seus braços estendidos ao lado do corpo apertava o punho com força excessiva, tendo os nódulos dos dedos já avermelhados.

- Onde está o moleque?

- Amor, não. Acalme-se.

Não gostou do tom da voz do homem e nem da palavra amor vindo de sua mãe dirigida a outro que não ele. Decidiu intervir. Que herói seria se não pudesse salvar nem sua própria mãe?

- Mãe?

- É esse o moleque. - Disse se abaixando sem precisar ver o meneio de cabeça dado como resposta. Olhou o menino bem nos olhos e colocou sua mão direita nos cabelos negros da criança. - Bem, prazer em conhecer. Aparentemente eu devo ser seu Pai.

- Você não é meu Pai! - Disse arrancando a mão que lhe pesava a cabeça e tendo como resposta primeiro uma expressão de surpresa, rapidamente substituída por uma de fúria.

Mácula - Dragão AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora