Capítulo 3

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Contemplo minha imagem confusa diante do espelho do toalete. Estou vivendo algo surreal, quero entender qual é o tipo de pai que coloca um cara para vigiar a própria filha. Talvez esta resposta eu nunca teria.

Será que Ella é uma moça tão complicada em lidar ao ponto de Sr. Robson ter de pedir um favor como este? Deve ser por esse motivo que a enviou para a Europa. Mas a que preço? Pensar sobre deixa-me tonto.

Dou uma boa olhada ao redor daquele banheiro, tudo impecável. Também, fazia parte daquele cenário cinematográfico ao qual me meti.

Volto ao salão, Sr. Robson vem às pressas em minha direção.

-Ella está no jardim. Vá até lá, puxe assunto. Estou contando com você. -Antes de falar alguma coisa, recebo um tapinha no ombro e meu chefe desaparece da minha presença.

Sacudo a cabeça, sentindo um pouco falta de ar por conta daquela pressão toda. Respiro fundo e tomo meu rumo - não opcional - até o jardim.

Ella está sentada em uma mureta que ornamenta um lindo carvalho atrás dela. Está distante, como se estivesse refletindo sobre algo. Aquelas rendas que emoldura seu pescoço parecem sufocante, mas nada tão claustrofóbico quanto sua vida parece ser.

-Oi. -A cumprimento, sem saber direito por onde começar. Com um "oi" parecia bem mais correto. Ela me olha com um sorriso de canto. -Posso me sentar? -Assente me deixando um pouco mais tranquilo. Ao menos não era uma mal educada e mal humorada como eu temi.

-Está uma noite linda, não acha? -Respiro fundo olhando para o céu assim que me sento.

A lua está tão grande e tão cheia que parece que explodiria. As estrelas todas brilhantes e incontáveis. Lembro uma vez minha ex-namorada dizendo que quando a lua está desta forma, é sinal de que alguma coisa boa viria. Só espero que tenha algum sentido.

-Se você consegue encontrar beleza nestes termos pode até ser. -A encaro por um instante, segundos. Ela faz o mesmo logo em seguida. -Acha mesmo que não sei o que meu pai pediu? -Engulo em seco. Fui pego! Eu sabia que não daria certo. -Não vejo outro motivo para estar o meu lado agora, se não foi meu pai quem mandou.

-Ele só está tentando lhe proteger. -Ela ri com ironia. Fico perdido, sem saber como reagir, o que fazer.

Ella não seria o tipo de pessoa que deixaria me aproximar depois do que sabe. Robert Robson me meteu em uma fria das grandes. Não sei como faria amizade com ela, depois disto. Uma aproximação natural, sem qualquer tipo de interesse. Não sei porque quero, mas gosto dela. Seria legal tê-la como amiga.

-Papai adora me proteger, este é o grande problema.

Percebo a tristeza em seu olhar, e, pela primeira vez na vida, consigo enxergar o sofrimento de alguém. Eu não sei direito o porquê a superproteção do meu chefe para com sua filha, possa ser tão doloroso para ela, mas até que eu posso imaginar. Talvez se eu estivesse em seu lugar me sentiria claustrofóbico. Mas também há outro lado: Ella é uma garota, se fosse um homem seria com certeza diferente.

-Talvez precise de proteção. -O olhar que me lança é bem frio e condenatório.

-Por que sou uma mulher? Também é machista a este ponto?

-Não, eu só...

-Acho melhor me deixar em paz. Não vou deixar que acate as ordens do meu pai quando o assunto é a minha vida. Vá embora, por favor.

Eu também acho toda a história de vigiá-la uma bobagem. Quando senhor Robson me confiou essa missão eu não concordei e não concordo agora. Não seria eu que faria de sua vida mais infeliz do que já parece ser.

Aprendendo a Viver (Sem revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora