Capítulo 1

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Quando eu era criança, a vida parecia ser simples. Brincávamos tranquilos como se a vida fosse uma eterna diversão. A vizinhança era calma, nada de crimes ou violências por aí. Podíamos ficar até tarde nos aquecendo na fogueira, tocando um som, ou até mesmo brincando de esconde-esconde, o que viesse.

Sempre fui o popular da minha turma, era eu que escolhia as brincadeiras, eu tinha as melhores ideias de uma nova diversão. E também, muitas vezes colocava meus amigos encrencados, por convencê-los a escapar da proteção de seus pais para ir do outro lado do quarteirão, para brincar no play ground perto da praia. Realmente foram ótimos tempos, onde o mundo parecia ser fácil em lidar.

Aos meus oito anos, quando me falavam que a vida de adulto era complicada eu nunca imaginei o quanto seria. Não fazia parte da realidade de um garoto de oito anos, acostumado a se embrenhar na floresta para subir nas árvores e ficar lá o dia inteiro sem pensar em beber e nem se alimentar.

Assim quando eu nasci minha mãe me deu o meu nome. Ela sempre dizia que jamais escolheria o nome do seu filho antes de seu nascimento, como a maioria das mães fazem. Ela queria olhar nos meus olhos e entender as minhas reações. Mas não pense que ela me bombardeava de nomes esquisitos esperando um sorriso, ou um choro, porque não. Ela olhou nos meus olhos e Miguel veio de repente. Talvez eu tenha cara de Miguel talvez é o nome que realmente combina comigo. Eu gosto do meu nome, nunca me queixei como a maioria das pessoas se queixam dizendo que preferiria outro.

Lembro-me da minha mãe com carinho, sempre presente, sempre atenta às minhas necessidades. Fora uma mãe carinhosa em todos os aspectos, acho que por isso me tornei o homem que sou hoje. Acredito que os filhos são o reflexo dos pais, ou de quem os cria, sem essa base o caráter se modifica. Já vi muitos dos meus amigos que não tiveram a mesma sorte que eu, se darem muito mal depois de adultos, por causa de uma criação ruim. Mas também vi muitos com criação exemplar se tornar o mesmo mau caráter. Talvez seja questão de humano para humano, ou sei lá.

Se minha infância fora tranquila e cheia de diversão, por outro lado a minha adolescência fora completamente ao contrário. Não que tenha sido um bicho de sete cabeças, ou uma turbulência sem fim, mas fora o período que eu me tornei inseguro. Não tinha mais a mesma quantidade de amigos que tive na infância, não era o mais popular e não tinha ideia nova para assunto ou algo para fazer. Os jovens da minha época queriam outro tipo de diversão, eles arrumavam encrenca, queria beber, se drogar. Coisa que eu não fazia a mínima questão. Eu tinha consciência do que acontecia a pessoas viciadas, o quanto se acabavam. Correndo risco de morrer ou algo pior, se é que tinha algo pior que a morte. Talvez sim, perambular por aí como se fosse um morto vivo, dependente de um vício que te destruiria aos poucos. Tive de enfrentar tanto com o meu pai que era como um pesadelo para mim ter aquela vida um dia.

Minha mãe era um anjo, costumo dizer que é a mulher da minha vida. Mas meu pai por outro lado, era o oposto. Vivia trabalhando o dia todo, eu mal o vi a minha vida toda. Quando estava em casa era sempre bêbado e discutindo com a minha mãe. Teve momentos que eu fingia estar dormindo só para ouvir os choros estridentes dela, por sofrer tanto com um homem viciado. Não consigo entender como uma mulher como ela pôde se apaixonar por ele, mas quem sou eu para julgá-la? Talvez o amor seja muito mais forte do que qualquer outra coisa, se tem uma pessoa que sabia amar era ela.

No dia que ela morreu o mundo acabou para mim, eu não tinha mais a minha base, nem mesmo o que fazer para continuar. Fiquei perdido no mundo sem saber como reagir. Mas uma voz dentro de mim, que eu sabia que era a dela, me dizia para seguir em frente e lhe dar orgulho. Talvez seja por isso que me tornei um adulto satisfeito consigo mesmo, pelas atitudes em que tenho assumido. Sentirei muita falta dela, mas eu sei que sempre estará no meu coração, brigando comigo sempre que eu fizer algo errado.

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