Capítulo 20 -Ella Robson

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Estou de pé primeiro que Miguel naquela manhã, estou pronta para cumprir com o meu propósito. Não sinto mais medo, muito pelo contrário, estou pronta para a guerra e pretendo sair vitoriosa. Estar naquele lugar de novo, causou-me angustia, mas sei que é por apenas alguns instantes, o gosto da vitória seria muito melhor depois.

Miguel acorda, tomamos café da manhã juntos e partimos para a delegacia assim como combinamos. Já cheguei até aqui, iria até o final, contando tudo que sei, expondo-me se fosse necessário.

A delegacia modesta aos redores da França é como uma condenação sem julgamento para mim, aquela atmosfera fria arrepia a minha pele. Talvez por ter sido obrigada a ficar encarcerada por muito tempo, quando me deparo com algo parecido é como se o trauma revigorasse.

Miguel faz a honras em nos apresentar para o delegado, e eu abro um sorriso sem graça para ele. Não estou afim de sorrir, apenas fazer o que devo.

Sentamos nas cadeiras em frente ao delegado que usa um terno. Sustenta um bigode em seu rosto magro. Sua estatura baixa não me transmite nenhum pingo de confiança.

Leio seu nome rapidamente na plaquinha em sua mesa. Delegado Preston, está escrito.

—Temos uma denuncia muito grave a fazer, senhor delegado. —Miguel começa a dizer e meu coração treme.

—Sou todo ouvidos. —Miguel olha para mim e eu para ele. Dou graças a Deus que o homem fala nossa língua, assim Miguel conversaria com ele invés de mim.

—O colégio École Interne Saint Marie, pratica ações repugnantes dentro daquelas portas que ferem a integridade das alunas. —Os olhos do delegado se esbugalham, um pouco ofendido eu diria. -Isto tem que acabar!

—Deve ter algum engano aqui, meu caro. Este colégio é um dos melhores, um dos mais respeitados de nossa cidade. —Eu sabia que não seria fácil, disse a Miguel.

—Entendo que possa parecer um mal entendido, mas não é o que as meninas que vivem ali pensam. São submetidos a elas todos os tipos de torturas, maus-tratos e humilhações. Sem contar com os abusos frequentes.

—Não é possível! —O delegado indignado se levanta. Está bastante inquieto e muito, muito perturbado, como se o afetasse diretamente as acusações de Miguel. —Minha filha estudou lá, assim como uma gerações de meninas que convivemos diariamente. É impossível ter algum tipo de irregularidade sem que não soubéssemos antes.

—Sinto muito, senhor. As praticas repugnantes ocorridas naquele castelo foi muito bem guardadas, escondidas com muito cuidado para que ninguém soubesse. Infelizmente apenas as meninas podem confirmar, porém têm medo das represálias, ou vergonha.

—Os senhores têm algum tipo de prova? —Ele encara Miguel com um desafio contido, começo a me revoltar com a situação. Depois me encara com desdém. Ele tira suas próprias conclusões, sabe que não temos provas o suficiente. —Sendo assim, fica difícil abrir algum tipo de queixa contra o colégio mais bem preparado do estado.

—Tem razão, doutor, não temos provas. Mas há um fato nisto tudo, acontecem coisas terríveis àquelas meninas, e se o senhor não fizer nada, estará compactuando com cada atrocidade, cada humilhação e cada agressão moral que aquelas freiras comentem! —Miguel está irritadíssimo e não é para menos. Porém percebo que meu namorado não quer me expor, em nenhum momento disse que sou uma das meninas humilhadas, porém se esta for a única forma de fazê-lo acreditar.

—Não temos provas, mas sou uma testemunha. —Levanto-me impostando a voz, pela primeira vez meu medo some, sou encorajada pela vontade de justiça. —Aquele colégio é bem visto por todos desta cidade, como desconfiar de senhoras temente a Deus? Mas o que o senhor e nem ninguém sabem é que fui estuprada, molestada em um ritual pagão que tenho certeza que não tem nada a ver com Deus. Minha alma foi dizimada, senhor delegado, por anos. Sem ter direito a misericórdia. Não temos provas, mas eu sei bem o que sofri lá dentro.

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