Capítulo 17 -Ella Robson

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Me aninho no corpo de Miguel enquanto ele dirige de volta para o seu apartamento. Está um silêncio insuportável, ele está muito sério e distante. Eu quero que fale alguma coisa, qualquer coisa que me fizesse saber o que passa pela sua cabeça. Mas tudo que recebo de volta, fora um escuro terrível.

Sei que toda aquela revelação o abalou demais, posso entendê-lo e saber o que  deva estar passando em sua mente. Mas eu preciso ouvir qualquer coisa que confortasse o meu coração, não importa, eu só preciso ouvir sua voz, e o que pensa.

Vê-lo se desesperar daquele jeito fora como uma adaga perfurar o meu coração. Nunca imaginei que a reação de alguém fosse esta quando soubesse. Meu pai talvez, ou alguém que me conhecesse tão bem. Miguel me ama, e era bem claro para qualquer um que enxergasse, até mesmo os cegos sabiam. Porém aquela dor me desestruturou, me dá medo. Não sei do que seria capaz de fazer, temo pelo dias que se seguiriam.

Chegamos em casa, em sua casa. Continua o silêncio medonho. Miguel coloca a chaves do carro em cima da bancada ao lado da porta. A chuva ainda está muito forte lá fora e estamos encharcados. Acho que era um reflexo do que passa-se dentro de nós.

—Tome um banho, senão ficará resfriada.

É só o que consigo ouvir de sua boca até agora, mas mesmo assim não é suficiente. Sua voz está fria, bastante "a quem". Não sinto a envolvência costumeira, aquele toque aveludado que me acolhe quando fico em turbulência. Sinto um golpe no estômago e outro no coração, esfrego a mão para passar, mas é inútil.

Maneio a cabeça e vou para o banho com o coração pesado.

Me dispo das roupas molhadas indo para o chuveiro em seguida. A água quente aquece o meu corpo do frio, é uma sensação boa de conforto. Mas sei que é apenas exterior, porque por dentro continuo gelada. Por um momento penso que Miguel entraria pela porta e compartilharia aquele banho comigo. Ele está molhado como eu e tenho esperanças. Só que elas dissipam quando estou quase terminando e nem vejo sinal. Estou com vontade de chorar, sei que seria assim quando soubesse, sentiria nojo de mim. Às vezes até eu mesma sinto nojo de mim, quanto mais um homem que acaba de me conhecer na íntegra.

Fecho o registro, e espero a água escorrer pelo meu corpo, para só assim, enrolar-me na toalha. Quando saio do banheiro, Miguel está usando somente uma cueca, sentado no sofá. Pensativo, distante.

—Vá se banhar também. Ainda está molhado. —Minha voz chama-lhe atenção e ele assente.

Levanta-se do sofá caminhando rumo ao banheiro. Tento lhe dizer algo, mas passa por mim tão rápido que não consigo. Um nó se forma na minha garganta e não posso desfazê-lo.

Vou para o quarto. Há uma roupa cuidadosamente arrumada para mim em cima da sua cama. Era sua camisa e um short, meu. Não sei como uma peça minha fora parar lá, mas de qualquer forma a descarto a procura de uma cueca sua no armário, preciso ter contato com sua pele e seu cheiro intimamente. Não queria ter nenhuma distância entre nós, apesar de que é isto que tínhamos agora. Sua boxer cabe bem nos meus quadris apesar de um pouco folgada, não me importo. Penteio os meus cabelos antes de secá-los muito.

Miguel aparece pelo quarto e troca de roupa sem dar um piu. Não tenho coragem de pedir atenção e nem começar a conversa.

—Vou preparar algo para comermos, deve se alimentar, Ella. Não comeu nada até agora. —Ele está preocupado com a minha saúde, este era um ponto positivo, porém ainda não é o suficiente.

—Não estou com fome. Pode comer se quiser. —Ele nega com a cabeça.

—Estou sem fome também.

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