Capítulo 9

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O mar está propício para um banho matinal antes do trabalho. Está calmo, a atmosfera fresca. Inspiro o ar arborizado com cheiro de maresia. Eu adoro aquele toque nostálgico que me invade todas às vezes que encaro o mar. Sinto-me livre!

Meu primeiro mergulho é como se lavasse a minha alma, vou ao profundo de mim e conheço o meu interior. Sinto o toque suave de Ella no meu corpo, ali submerso. Sinto coisas, mas tento espantar os pensamentos. Aquela aproximação que tivemos foi genuína. Posso até dizer que nunca havia sentido nada igual antes. Foi sensacional.

Abro os olhos e percebo que estou submerso a muito tempo. Fico de pé, retiro a água do rosto para poder enxergar melhor, uma onda vem com tudo e me derruba. Começo a rir bobo e sozinho por conta do tombo... Prefiro dizer que foi por conta das lembranças, foi como um tombo literalmente. Não consigo me entender, porém me sinto bem.

Caminho de volta pela areia, já sabendo que estou atrasado para trabalho. Tomo um banho rápido, ao chegar em casa. Visto minha costumeira roupa social. Estou pronto.

Quando chego, um burburinho se instala na sala de produções. É que seria o dia das gravações do comercial do novo restaurante da cidade. Estou ansioso para conferir, afinal, fui eu quem planejou. O estúdio está preparado e senhor Robert Robson está animado, dá pra ver assim que entrei.

—Miguel, meu querido! As gravações estão indo a mil por hora, que bom que chegou! —Viu só? Eu avisei.

—Desculpe a demora, tive alguns imprevistos. —Imprevistos estes que foram puro deleite próprio.

—O importante é que esteja aqui.

Robson segura o meu ombro, desta forma, assistíamos juntos as gravações. Um comercial cinematográfico com um casal francês jantando com a Torre Eiffel de cenário. Reproduzimos um fundo computadorizado que reproduzia Paris e todas as suas luzes. Achei magnifico tudo quando tive a ideia.

Quando tudo acaba, tive de seguir Robson até sua sala, ele fez um pedido indispensável com um tom preocupado. Eu sabia que não tinha nada a ver com trabalho e sim o outro problema que ele havia me arrumado. A confirmação chega quando começa a abrir a boca.

—Estou preocupado com a Ella. Já tem dois dias que não dorme em casa, anda estranha quando chega pela manhã e nunca sei em que está pensando. Por favor, Miguel. Se sabe de alguma coisa me diga de uma vez.

Sou incapaz de dizer o que sei, não quero decepcionar meu chefe por enquanto. Então busco outra saída que só iria me encrencar mais.

Também não posso trair Ella. Aquela mulher confia em mim, por alguma razão, e eu não estragaria tudo, quando estou quase perto de descobrir, ou ao menos de tê-la ainda mais próxima de mim.

—Ella estava comigo... no meu... apartamento. —Gaguejo um pouco e os olhos dele se acendem em surpresa, mas pelo que vi é surpresa boa. —Não é nada disso que está pensando. Só assistimos a um filme e jogamos conversa fora, nada demais. —Recebo um tapinha no ombro.

—Não importa. Se Ella está com você é tudo que eu preciso saber. —Robson parece tranquilo, como se o problema estivesse sido resolvido. Não era para me sentir revoltado com a omissão do pai de Ella, mas aquilo já está fora do aceitável para mim.

—Não sente remoço? —Altero um pouco a voz o impedindo de sair.

Encaro Robert Robson com um vinco em minha testa. Sua expressão tem uma interrogativa impressa.

—Sua filha volta depois de anos, você mal a conhece e se sente feliz por outro cara está fazendo o papel que você deveria fazer? —Sim, me estresso muito. Dá para notar o quanto aquela menina precisa de um pai e o seu pai, está omisso delegando este papel a outro. Estou sendo o pai de Ella, cuidando dela e dando conselhos. Mesmo eu tendo apenas trinta e cinco anos de idade.

Aprendendo a Viver (Sem revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora