Happy New Year!

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Pus o sobretudo branco por cima do vestido de mesma cor e suspirei, vendo-me pronta no espelho do quarto. Pelo reflexo, vi Benjamin sentado à beira de minha cama trajado em um terno de lã preto, sorrindo-me alegre. Me virei em sua direção e sentei ao seu lado na cama, sentindo seus braços circundarem meus ombros para envolverem-me num abraço confortável.

- Você está linda – ele disse e eu sorri involuntariamente, sentindo seus lábios pressionarem-se contra minha bochecha direita. O telefone tocou e eu o apanhei de dentro da bolsa, vendo a identificação 'Pai' na tela. Atendi.

- Diga.

- Anna, você quer carona?

- Não, Benjamin vai me levar. Já estamos saindo – justifiquei me levantando e sentindo a mão dele deslizar até a minha, enlaçando-as.

Papai desligou e eu e Benjamin descemos as escadas em direção ao seu mais novo Porshe preto. O caminho foi silencioso exceto pela música calma que saía dos auto-falantes do carro.

- Tome – eu ouvi a voz de Benjamin e acordei de meus devaneios para fitar o envelope pardo em suas mãos. Apanhei-o com um sorriso de dúvida e observei o largo sorriso no rosto de Benjamin crescer à medida que eu abria o envelope.

Dali caiu as fotos da noite do Natal e eu me vi vestida em todo aquele verde e me senti mal novamente. Eu estava suja naquelas fotos, suja como uma pessoa que mente e incrimina seu erro, mas continua cometendo-o. Eu me sentia enjoada, confusa, triste. Não estava certo.

- Eu poderia enviá-las para uma revista qualquer – Benjamin disse rindo e dando de ombros e eu sorri fraco, mal o ouvindo – Aposto que pagariam uma fortuna. Imagina quantos caras gostariam de ter isso tudo... Você. E eu tive. Eu tenho.

O vento soprava frio contra o conversível descoberto e eu me encolhi num abraço solitário. No fundo, eu sabia que o frio que eu sentia nada tinha a ver com a previsão metereológica ou com a chegada do inverno: era somente Harry e nada mais.

Por um lado eu me sentia mal por Benjamin, e por outro pelos desejos contidos dentro de mim. Como eu podia usar alguém, como eu podia estar com alguém e me sentir como se não tivesse ninguém por perto? Como eu podia pensar em Harry com saudades, depois das palavras e atitudes dele?

Era como se parte de mim não se importasse. Como se ele fosse apenas vital, e tal como uma droga, eu sabia que ele não era bom, mas eu precisava e o queria da mesma forma.

Eu não me importava. Eu estava preferindo passar uma noite com ele a cada três meses do que ter alguém que não fosse ele ao meu lado todos os dias. E isso era insano, e doentio. Mas eu... O amava. Eu havia caído em sua armadilha, desde o começo. E pior de tudo isso é que eu havia caído em minha própria.

Enfiei o envelope dentro do bolso, sem ao menos olhá-las direito, muito incomodada com o ocorrido. Benjamin estacionou o carro no pátio da grande marina às margens do Tâmisa e eu desci. Ele logo o fez e acionou o alarme, apressando-se em minha direção para enlaçar o braço ao meu e inclinar-se em minha direção, juntando nossos lábios num beijo calmo. Caminhei com ele em direção a grande estrutura de vidro e nós subimos as escadas em direção à portaria. Observei Benjamin nervoso ao meu lado e ele apalpava os bolsos do paletó ansiosamente.

- O que foi? – perguntei e ele levantou a cabeça.

- Esqueci uma coisa no carro. Já volto – ele disse e deixou-me na escada sem mais nem menos. Observei a figura distanciar-se aos poucos e então senti uma mão quente sobre minha mão direita pendida ao lado do corpo.

Me virei e dei-me de cara com um Harry sorridente me fitando, vestido num lindo e irresistível terno gelo. Se por um momento gelei, em seguida senti o calor preencher meu corpo aos poucos.

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