The truth

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Engoli em seco e paralisei, tentando decifrar o que as vozes diziam, mas não consegui ouvir nada claro. Em passos curtos e delicados, caminhei até a escada e desci o primeiro lance, chegando ao primeiro andar. Os sussurros eram mais nítidos e eu reconheci a voz de Harry. Gelei.

Será que era realmente ele ou era só mais um delírio da minha mente desesperada? Sem saber o que fazer, e cogitando se deveria ou não impedir o que quer que estivesse acontecendo no andar debaixo, me pus a descer o último lance de escadas até o térreo, onde parei ao pé da escada e levantei a cabeça para encarar um Harry sem expressão me avistando.

Papai estava de costas para mim e Styles tinha um copo de Whisky segurado pelas duas mãos em frente ao seu corpo inclinado, enquanto papai bebiracava do seu próprio. Harry parecia tenso, e papai parecia pensar, mas mesmo assim estava calmo. Me perguntei se deveria me pronunciar, se Harry havia falado ou não, se papai estaria escondendo sua raiva ou não.

Antes que eu pudesse tomar qualquer decisão, o olhar de papai subiu de encontro aos olhos de Harry, e percebendo que ele fixava os olhos em algum ponto atrás dele, virou-se repentinamente para dar-se de cara comigo, covardemente parada aos pés da escada enquanto buscava uma solução para meu nervosismo.

- Já que estão os dois aqui, agora, vamos esclarecer as coisas – papai disse pousando o copo sobre a mesinha de centro, levantando-se e caminhando em direção a televisão, que eu nem percebera estar ligada em um volume baixíssimo. Desligou-a e ficou parado contra a estante, molhando os lábios enquanto parecia buscar palavras para me questionar. Não tive coragem de atropelá-lo, nem de questiona-lo ou pedir desesperados perdões. Harry continuou sentado na mesma posição anterior - Desde quando vocês estão juntos? – papai perguntou a mim, direto. Seus olhos estavam sérios e cravados sobre minha imagem. Eu engoli em seco e respondi baixinho.

- Desde... Começamos a namorar essa semana – eu sibilei, nervosa.

- Eu não perguntei desde quando estão namorando – ele falou bravo, estremeci, temendo ver meu pai daquela forma já que nunca havia o visto assim antes – Perguntei desde quando estão juntos. Desde quando estão transando? – ele perguntou seco e eu estremeci. Eu merecia tudo aquilo? Olhei pra Hazza, nervosa, como pedindo que ele me ajudasse ou ao menos segurasse minhas costas caso eu desabasse ali. Ele apenas sacudiu a cabeça, me incentivando e eu cerrei os olhos, tentando me lembrar.

- Desde... Desde o coquetel de inauguração do novo setor radiológico – eu disse, mordendo o lábio inferior enquanto levantava os olhos novamente, para encarar a falta de expressão no rosto de papai.

- Quer dizer que desde Setembro vocês estão juntos e ninguém cogitou a mínima possibilidade de me falar? – ele perguntou com um sorriso irônico – Anna, não sei qual reação você esperava de mim, mas não é como se eu fosse lhe proibir de fazer algo ou lhe pôr de castigo ou lhe mandar de volta para Whitby. Você já é crescida, já é maior de idade... Desde que tenha consciência e responsabilidade dos seus atos, não posso lhe coibir de nada. Mas eu realmente esperava mais confiança de você.

- Me desculpe, pai.

- E sobre você, Harry – ele virou-se para Hazza, numa expressão que agora me passava uma imagem extremamente chateada e traída – Sem comentários. Depois de todos esses anos trabalhando juntos, dividindo problemas e confiando questões delicadas dentro daquele hospital, eu esperava mais de você. Muito mais. Você é um médico. Um homem feito. Deveria ter vergonha de agir como um adolescente – papai falou rude e eu engoli seco, não gostando do seu tom de voz nem do remorso presente em suas palavras.

- Eu peço perdão mais uma vez, Danny – Hazza disse levantando-se e ficando frente a frente com papai – Mas o fato de eu ser médico, ou de ser um bom profissional e um bom colega de trabalho não muda nada no fato de eu ser um ser humano, ter meus problemas pessoais e sentir-me coibido em assumir um relacionamento assim. Sempre compartilhei meus problemas profissionais com você, assim como você confiou os seus a mim. Mas nunca tivemos uma relação pessoal, e, sinceramente, você nunca se mostrou disposto a tê-la. Sei que estou errado em contar-lhe isso só agora, em esconder minha relação com Anna até agora, mas ao menos eu vim aqui e lhe falei. Não queria que isso chegasse aos seus ouvidos por outras pessoas, não queria depender de qualquer ajuda de Johannah ou qualquer outra pessoa para que isso fosse feito. Ao contrário do que vem acontecendo recentemente no St. Anna em relação a você, não é? – ele disse sério, enfrentando meu pai como eu nunca antes pude imaginar – Quem deveria estar envergonhado é você, e não eu. Meu conflito ao menos é por amor. O seu é por poder. Francamente, Danny – Hazza disse com um sorriso triste e largou o copo sobre a mesinha, caminhando em minha direção e beijando minha testa na região da têmpora esquerda rapidamente, enquanto sussurrava um "Fica tranquila". Não consegui dizer nada. Hazza rapidamente deu as costas e saiu da sala em direção ao hall, batendo a porta da frente logo em seguida.

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